Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
18
Abr 12
publicado por primaluce, às 12:00link do post | comentar

Vamos hoje celebrar como desde os anos 1985 temos feito. A fotografar, a explicar, a alertar**.

Que haja quem beneficie, como é no caso do Palácio de Monserrate.

Cuja visão passou a ser, agora, não mais a de uma obra «descendente» do Pavilhão Real de Brighton - como J.-A. França em geral divulgou - mas a de uma obra muito influenciada pelos Palazzos Italianos; os «Góticos Tardios» de que Ruskin escreveu em Stones of Venice.

E nisto tudo - felizmente ou não, não se sabe (?) - as entidades tutelares não têm posições rígidas quanto aos bens nacionais, que, como é suposto, gerem e administram. Essas entidades, em geral deixam correr as opiniões e as posições dos estudiosos, que assim têm toda a liberdade de se exprimirem; parece positivo!?

Mas, é sabido, no caso de algumas «artes mais esquecidas» como acontece por exemplo com algumas peças escultóricas, e, bastante, com a ourivesaria, nessas situações então as entidades tutelares, e sobretudo os seus técnicos que com maior disponibilidade olham para as obras todos os dias, nesses casos, produzem documentação técnica, os estudos e contextualizações, a que os de fora  não se dedicam tanto; nem podem. 

Pensamos, não só em Monserrate, mas nos «Painéis do MNAA», que, para alguns (os tais de fora), parecem ser a única Obra de Arte do nosso país, e o único Monumento Nacional (MN)? Como quem insiste, e bate sempre na mesma tecla: ficamos por aqui, não vamos mais longe, pois além da Lisboa macrocéfala, «o resto é paisagem»...

Só que, quanto mais todas as obras forem olhadas e valorizadas, as de todo o país, mais as pessoas se treinam a ver, a gostar e a compreender. Ou vice-versa, sabe-se lá o que é primeiro? 

Mais, talvez um dia alguém o perceba: o quanto da Arquitectura veio da Ourivesaria? Que João Frederico Ludovice, ourives, teria muitas das informações necessárias para dirigir as obras reais?

E que os «alarifes» de que Regina Anacleto tem escrito, no caso da Pena (ou de outras obras), não prescindiam dos que sabiam das «outras artes». As necessárias à sustentação física - i. e., contra a força da gravidade - como eram os conhecimentos de Geologia e Minas que Eschwege (barão de Eschwege, Guilherme von Eschwege - o engenheiro alemão que D. Fernando II contratou), dominava e possuía.

Só há património com todas as artes, todos os conhecimentos e todas informações. É dificílimo que alguém, sozinho, possa dizer que é especialista, sem uma equipa. Aliás, neste nosso cada vez mais suposto doutoramento, essa é a grande pecha: o «desentendimento» da maior utilidade dos nossos estudos. Para todos! Estudos que são um deleite, é certo, mas sobretudo trabalho que é, ele próprio, um valor!   

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~  

*http://www.igespar.pt/pt/

**http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/9003.html,

sabem que essa obra é um MN?


30
Out 10
publicado por primaluce, às 01:05link do post | comentar

No estudo que dedicámos ao Palácio de Monserrate houve já uma abordagem a diversos Diagramas, os quais se verifica serem uma constante da História da Arquitectura, a maioria «desenhados» a partir de conceitos da teologia cristã*.

Agora destacam-se vários Quadrifólios, alguns bastante recentes, e acrescentam-se informações. Segundo  defendemos esse Diagrama terá traduzido um «amor especial» à Virgem, que, no IIIº Concílio Ecuménico, realizado em Éfeso, em 431, foi declarada “Teotokos”: palavra grega que significa Mãe de Deus.

A devoção à Virgem foi uma constante, e, muitos séculos depois foi coroada por D. João IV, passando a ser Rainha de Portugal. Vários monarcas da Europa, incluindo D. João VI, durante anos pediram a Roma a sua declaração como Imaculada Conceição, o que só veio a acontecer em 8 de Dezembro de 1854 (reinado de D. Pedro V).

Tudo isto é História da Igreja e do Cristianismo, porém, vários autores – como é o caso de Mark Gelernter, arquitecto e professor da Universidade do Colorado (Denver) que escreveu Sources of architectural form. A critical history of western design theory, University Press, Manchester, 1995 – conhecendo essa mesma história, estabelecem paralelismos, pontuais, entre algumas obras, e respectiva iconografia, com a teologia cristã. Por isso, no nosso trabalho (Monserrate,…), usámos uma expressão de Mark Gelernter, que nos foi de grande utilidade: já que permitia reforçar o sentido daquilo que estávamos a encontrar.

A referida expressão (e sobretudo essa noção, que pode não ser «estática») – “estrutura divina” – relativa às especificidades do Deus Cristão, simultaneamente Uno e Trino, aparece em várias frases do autor norte-americano, quando explica as suas teorias, relativas ao que está subjacente na Arte e Arquitectura Medieval. Aconselha-se a sua leitura, e, incluem-se exemplos de outros Quadrifólios, para além dos que já estão no livro: alguns estampados em azulejos que, podem não ter mais de 40 anos…Será?

 * Ver no livro as imagens nº111 – A, B, C e D, na p. 271, e o texto correspondente, na p. 157, completado na nota 407.

No trabalho de Mark Gelernter pode ler-se por exemplo: "...in the Middle Ages art was considered interesting only in so far as it symbolized the Divine." Depois, o autor coloca-se na situação de quem na Idade Média, tinha que produzir Arte e objectos com esse cunho. Por isso pergunta quais as formas que lhes deviam ser dadas: "  ...if art  no longer captures realistic images of the sensory world, but instead should lead men's minds to contemplate an extrasensory divine world, upon what, exactly, should their visual images be based?" (op. cit., pp. 74 e 75).

 

A haver uma resposta para a pergunta acima, para já, é da nossa responsabilidade. Vamos buscá-la, em parte, à última obra de António Damásio; a outra parte vem dos nossos estudos, de vários autores. Defendemos que as Formas Iconográficas que estão na Arquitectura são: «Mapeamentos da Ideia de Deus». E, aproveita-se ainda para perguntar, têm notado o emprego desta forma? Concretamente a sua existência em jardins, no desenho dos lagos? Mas, desde já se lembra, que um dos exemplos mais bonitos que conhecemos - e muitos talvez estejam de acordo...? - é chamada fonte, e fica na «Varanda de S. Jerónimo», em Santa Marinha da Costa, Guimarães. Hoje Pousada, que foi projectada por Fernando Távora, no que constituiu uma profunda intervenção feita nesse Mosteiro, cerca de 1980-85. 


24
Out 10
publicado por primaluce, às 00:12link do post | comentar

A propósito do "Entrelaçado" que ontem assinalámos, e sobre “Le Dieu lieur,…”, título que Mircea Eliade deu a um capítulo de Images et Symboles (obra inicial de 1952, renovada em 1980, Éditions Gallimard, op. cit., p. 130), vejam, e oiçam também, sobre as razões do seu optimismo. Em:

http://www.youtube.com/watch?v=2ofkZK1VLeA

Notas e reflexões, entre a semana que acaba e a que começa:

1. No Avant-propos de Images et Symboles, de Symbolisme et psychanalyse retirámos uma ideia com a qual estamos totalmente de acordo: “C’est donc l’Image comme telle, en tant que faisceau de significations, qui est vraie, et nom pas une seule de ses significations ou un seul de ses nombreux plans de référence.

Mas, há que o explicar: muitas vezes vamos estar a destacar, aqui, principalmente, aquilo que «descobrimos» ao fazer o trabalho sobre Monserrate. Porém, apesar dessa ênfase ir acontecer com frequência, agora e no futuro, também não deixamos de reconhecer a correcção daquilo que Mircea Eliade escreveu (o texto citado), a insistir na existência de um amplo feixe de significados, em simultâneo, e não apenas num só sentido. Por outro lado, há que admitir (sabêmo-lo), que alguns desses sentidos, ou planos de referência, uns são mais importantes, e predominantes, acima de outros. Tal como foi explicado por vários autores e estudiosos dos textos bíblicos - exegetas como M.-D. Chenu, H. De Lubac (também explicado por Umberto Eco). Assim, claramente, insistiremos nas nossas ideias: que, repete-se, não são de sentido único!

 

2. Tem sido referida uma certa dificuldade no entendimento de alguns textos aqui colocados. Tentamos expor e tornar claras, várias noções, que são muito complexas. Mas, sobretudo, elas são completamente novas. Aliás, as dificuldades que temos, em especial a incompreensão vinda daqueles que deveriam ser os principais colaboradores - e os maiores motivadores do empenho, que tem de ser colocado num trabalho de doutoramento, para chegar ao fim - as nossas dificuldades, entroncam, exactamente, nesses dois pontos: a complexidade do tema, e uma grande falta de cultura (geral). É que, independentemente, das crenças individuais, colectivamente a sociedade teve percas muito significativas, ao nível da cultura geral (e tradicional). Dito de outra maneira, pode-se afirmar que houve um crescimento, e uma evolução, mas, é sobretudo material. Evidentemente, está-se perante um «novo riquismo», onde o indivíduo, parece ter evoluído de um modo incompleto, e desiquilibrado, não cuidando da sua totalidade. Aparentemente, e em muitos casos (é uma opinião nossa), estamos perante pessoas cujas formações, embora sejam de nível superior, se mostram repletas de falhas: longe de se poderem considerar formações gerais, ou, sequer, completadas. 

Em consequência, muitos dos que hoje estão em lugares de responsabilidade, desconhecem, absolutamente, as bases culturais da área geográfica em que estão inseridos. As bases culturais que eles próprios têm que continuar a promover, e o Conhecimento que têm que estar a apoiar, colaborando na prossecução do desenvolvimento (por exemplo com instituições internacionais, ou, as que «cá dentro» dão apoios como bolsas de estudo), para que se ampliem esses Saberes: dos quais, contraditoriamente, eles mesmos, os responsáveis, pouco ou nada sabem!

Porque as sociedades - como mostram as Ciências Sociais e Humanas - não se movem por razões incompreensíveis, que não conhecem, e no entanto se contabilizam, ou delas «fazem estatísticas». As sociedades colectivamente, e os seus elementos, cada um por si, podem estudar-se. Já que se movem na sequência de outros movimentos, de ideias e de razões individuais, de produções que se hão-de tornar colectivas. Aliás, a sua principal característica - dada a imensidão de inter-relações existentes (e é isso que ocupa os estudiosos das Ciências Sociais e Humanas), é a análise, estudo e classificação, de vários movimentos, simultâneos, e por vezes difíceis de definir. E só depois, no fim de grandes trabalhos, estando perfeitamente caracterizados os fenómenos, é que os mesmos são contabilizados. Uma tarefa final, que, relativamente ao todo, é facílima de concretizar! Desde que tenha havido antes, de facto (e sublinhe-se, porque isto é essencial) a capacidade de diferenciar e de classificar, o que depois se vai quantificar.

Claro que os que pensam ao contrário, fazendo desse cálculo a essência de um estudo (!?), não podem compreender, minimamente, o valor da investigação em Ciências Humanas; ou, no nosso caso, o trabalho, cheio de surpresas, que decidimos empreender. Por isso a pergunta deixada ontem: Porquê? Como é possível falar-se em «Cultura Visual» - um conceito perfeitamente válido, embora muitos não o compreendam - se se ignora a história das imagens. E a sua relação, fortíssima e fundamental, com a cultura tradicional. No caso a europeia, e depois outras..., em que, globalmente, estamos inseridos. Imagens que eram edificadas, e assim concretizavam o essencial das «mensagens a fazer passar»!

 

3. Agradecemos ao colega Rui Cunha as informações, interessantíssimas, que nos tem dado, relativas a - As Medidas da Arquitectura. Havemos de continuar a conversar, pela complementaridade que se detecta entre os nossos trabalhos. Para já acho que estou a ganhar, prometo vou retribuir.

Agradecemos a um colega ter referido a existência de PrimaLuce (este blog), na sua Agenda Semanal !!!

Pelo nosso lado, é para fazer frente às incompreensões que acima referimos, relativamente ao tema de trabalho que devíamos estar a desenvolver, com o devido apoio - são estes motivos, como ganhar espaço e lançar bases para a compreensão desta temática fascinante - que nos fizeram criar o blog.

Como ficou na Síntese Final do trabalho dedicado a Monserrate (ver no perfil), defendemos que a História da Arquitectura do Ocidente Europeu, é uma história de organigramas (ou ideogramas), gerados pela Teologia Cristã, em diferentes épocas. Conforme o enfoque que a Igreja - e com ela as principais nações, que a tinham como modelo, inclusive modelo dos seus imperadores, dos reis e dos nobres - foram sentindo, que era mais ou menos necessário (em cada época), ir fazendo. Para irem transmitindo a sua própria Cultura. 

 

Um tema inovador como este é, surgido a propósito de um edifício que tem tudo para o dar - caso do Palácio de Monserrate - não se abandona à sua sorte! Por isso, só se justifica a indiferença, face às muitas exposições e explicações que foram feitas e dadas (e à sinalização específica do trabalho feita pelo orientador) num contexto de grande desconhecimento...

Embora, com Mircea Eliade, possamos ser optimistas, no entanto não deixamos de ver ao que chegou a realidade cultural em que estamos imersos: a redução a um minímo, inimaginável! Sabemos que não vale a pena perseverar, ou, teimosamente insistir, quando o melhor é dar a volta...

Observar e desenhar, dá-nos conhecimento e vantagens: não perdemos o contacto com a realidade, a natureza, as orquídeas,

todas as flores hão-de abrir, e dar a ver a sua Beleza.


15
Out 10
publicado por primaluce, às 01:02link do post | comentar | ver comentários (1)

Palácio dos Doges, Veneza

Azulejos «Sala Árabe», Palácio da Vila, Sintra

nota: esta imagem foi rodada 180º


09
Out 10
publicado por primaluce, às 17:45link do post | comentar

Segundo vemos assiste-se a uma progressiva (e assustadora...)  "Desmaterialização do Conhecimento". Com uma boa parte dessa «desmaterialização» a passar pela excessiva utilização dos meios informáticos; os mesmos meios que aqui e agora estamos a empregar.  

O desenho que consta na capa d' O Livro da Consciência, de António Damásio - o contar pelos dedos - corresponde à percepção da necessidade de materializar, para entender: i. e., ajudar a mente a progredir na aquisição do conhecimento, até mesmo quando fôr necessário fazê-lo de um modo físico, e mecânico. 

António Damásio escreveu sobre "Mapear o Pensamento", mas, nalguns casos, e como nos apercebemos na investigação dedicada ao Palácio de Monserrate, quando a compreensão é mais dificil, para memorizar os factos e as informações que se pretendem conhecer, a mente (e o corpo inteiro)  socorre-se de outros meios.

No trabalho sobre Monserrate (defendido na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em Jan. de 2005), deixámos aquilo que nos pareceu ter acontecido, com grande frequência, tendo originado a Iconografia da Arquitectura: "A existência no passado de representações arquitectónicas, nem sempre desenhadas para construir. Julga-se que frequentemente, raciocínios e pensamentos puderam conceptualizar-se, com recurso a lógicas geométricas e arquitectónicas. Não eram “arquitecturas para construir”, mas apenas “ideias arquitectadas”, para assim se facilitar a sua compreensão" *


* Ver Monserrate, uma nova história, op., cit, p. 34.


 

 

 Tags actuais e para futuro: Saber, Conhecimento, Imagem, Ideia, Pensamento, Registos, Esquemas, Ideogramas...

 



mais sobre mim
Março 2024
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
13
14
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


arquivos
pesquisar neste blog
 
tags

todas as tags

subscrever feeds
blogs SAPO