Sem sermos historiadores, sabemos que há muita(s) história(s) - que são mais estórias ou estorietas -, e que anda(m) muito mal contada(s):
Desde 2002-2004, e do que descobrimos a propósito do estudo do Palácio de Monserrate, em Sintra, passámos também a saber que se erguem monumentos a valores e a ideias que andam deturpados e deturpadas; propositadamente?, quem sabe...
Claro que este não é o tempo de perdermos todas as referências (como alguém que ao mudar de casa deixa de saber para onde mudou os seus pertences e valores)
Claro que a Nova Crise (do novo corona) não devia justificar uma enormidade de desmandos... Nem muito menos o derrube de valores que alguns temos como adquiridos, ao longo de vários séculos.
Mas justifica sim, todos merecemos - e isto não é um derrubar mas é um elevar! – a elevação dos valores que têm um sentido superior: i. e., superior ao das banalidades, e aos das trafulhices que, em Portugal, muitas destas, são quotidianas.
As estátuas de pedra e bronze não têm culpa, estão em pedestais porque outros reconheceram o valor, no passado, das figuras que representam.
Perigosas sim, são as pessoas que ainda agora se armam em estátuas, empoleiradas em tachos e pedestais, de onde actuam como se vivessem, para sempre, em «bases» que mais lembram redutos e castelos (porque, venha o que vier, dali não saem, dali ninguém as tira...)
Os que sem darem oportunidade(s) à verdadeira História, à sua investigação e ao seu Conhecimento pelo maior número – e isto é o que se passa nalgumas universidades em Portugal -, têm fortíssimas responsabilidades pela fraca ou nenhuma Ciência e Cultura, que na área da História não chega a todos:
Pelo contrário, vive-se como se a História, a Cultura e o Conhecimento fossem só para uns, poucos eleitos!
Aqui, desde 2004-2005, se nos tornámos activistas, não é para derrubar estátuas de materiais inertes, mas é por causas e razões concretas. Mais: se para um arquitecto o direito à habitação é constitucional, estes - o Direito ao Conhecimento e à Cultura – também o são, ao mesmo nível, ou superior*.
Aliás se lerem na Constituição, no artigo 73º, 4., aí consta com toda a clareza a liberdade e a autonomia para a obtenção de novos dados: "A criação e a investigação científicas, bem como a inovação tecnológica, são incentivadas e apoiadas pelo Estado..."
E não consta aquilo que connosco se passou: não está na redacção da lei constitucional, nenhuma referência às preferências ideológicas dos responsáveis dos departamentos universitários:
Aos gostos dessas estátuas vivas, feitas empecilhos nos caminhos que só eles entendem; ou que só eles sabem por onde é que se pode e deve ir: «feitos sinaleiros»
Não consta na lei constitucional, que é possível haver responsáveis em centros de investigação do ensino superior, que não sejam interdisciplinares; ou que não compreendam, minimamente, as disciplinas e os saberes essenciais, que fazem ou fizeram a Arte. Em suma que rejeitem actualizações e novas visões, incluindo as que vêm de fora.
Se nós em 2002 percebemos a importância do FILIOQUE - e como esta questão mudou o mundo; e mesmo que só tenha acontecido em 2015, que Peter Frankopan se refira a esta mesma questão** (numa obra que é uma óptima actualização da História Mundial), a verdade é que não somos só nós a detectar esta problmática, e a sua imensa importância no decurso da História.
E se P. Frankopan é muito mais novo do que Jacques Le Goff, é no Historiador francês - com quem Vítor Serrão e Maria João Baptista Neto têm a obrigação de ter aprendido -, que esta questão está bem mais explicada, e mais desenvolvida***.
E culpam-nos a nós, por termos seguido caminhos que a História sabe que existiram..., mas os nossos «profs.» não?
Caminhos que os Historiadores internacionais têm abordado, mas que os historiadores de arte portugueses (na FLUL) querem ignorar. Isto é discriminação pura:
Seja de género, seja científica, seja o seu cúmulo, ou seja o que for!?
É a prova de que há milhares de racismos, numa sociedade que se finge ser muito justa, mas onde pululam inúmeras injustiças.
E onde o ESTADO, por fim, só há-de intervir quando tem que enfrentar as situações extremas...
Portanto, elevem-se, e ajudem os outros a elevarem-se, antes de haver derrube de estátuas.
Não venham lamentar a perca dos Patrimónios Materiais,
quando os Patrimónios Imateriais que os justificam, fazem parte das vossas muito queridas e muito cultivadas ignorâncias.
(como a seguir se prova:)




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*Artigo 65.º(Habitação e urbanismo)
- Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.
- Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado: (...)
Direitos e deveres culturais Artigo 73.º(Educação, cultura e ciência)
Todos têm direito à educação e à cultura.
O Estado promove a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva.
O Estado promove a democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comunicação social, as associações e fundações de fins culturais, as colectividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais.
A criação e a investigação científicas, bem como a inovação tecnológica, são incentivadas e apoiadas pelo Estado, por forma a assegurar a respectiva liberdade e autonomia, o reforço da competitividade e a articulação entre as instituições científicas e as empresas. Ver em:https://www.parlamento.pt/Legislacao/Documents/constpt2005.pdf
** Ver em Peter Frankopan, As Rotas da Seda, Uma Nova História do Mundo, Ed. ÍTACA, Lisboa 2018. Nas pp, 74 e 164, a questao concreta da Dupla Procedencia do Espírito Santo (que é designada como Filioque).
*** Ver em Jacques Le Goff, com Jean-Maurice de Montremy, Em Busca da Idade Média, Teorema, Lisboa 2004, p. 148. Mais, quem não ler este livro, definitivamente, não quer compreender a Idade Média. Não quer perceber a dose de «arbitrariedade» que foi instilada no século XIX por Jacob Burckhardt (1818-1897), quando escreveu A Civilização do Renascimento em Itália. A clivagem que assim introduziu no entendimento da História.
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