Continuamos a tentar divulgar as Primeiras Luzes, de um assunto que é vastíssimo, e com derivações não apenas na Arte e na Cultura, mas também para outras áreas científicas.
De acordo com aquilo que defendemos, a imagem seguinte corresponde a um novo «organigrama» que também traduziu o Filioque: isto é, a "Dupla procedência do Espírito Santo"*. Porém, agora já no contexto do estilo a que hoje se chama Gótico, o qual correspondeu a uma evolução do Românico - proto-gótico, como aqui se referiu há dois dias - para o «verdadeiro gótico». E na terminologia que fora usada por J.-F. Félibien, estamos agora perante aquilo a que chamou o "Gótico Moderno".
Como em geral se pode compreender, e toda a bibliografia o mostra, ao nível da construção houve depois importantes desenvolvimentos estruturais e as edificações do estilo Gótico puderam subir em altura, como até então ainda nunca tinha acontecido. Mas, na génese do estilo (ou o que levou à sua criação) – sobretudo na da sua «imagem de marca», que foi o "arco quebrado" – na origem dessa forma construtiva esteve muito mais uma questão linguística, e uma tentativa de explicitação das ideias a comunicar. Do que esteve, a priori, a vontade de criar um outro estilo; ou, até mesmo, a vontade de inventar um novo arco, que, estruturalmente, fosse muitíssimo mais resistente do que o arco de volta inteira, ou a arquitrave (greco-latina).
O que no nosso trabalho chamámos um "arranjo e disposição orgânico-relacional, entre as pessoas da Trindade" é a mandorla, que resulta da intersecção de dois círculos. Uma Forma que, dependendo dos autores, tem recebido diferentes designações: mas uma das mais comuns é "mandorla mística".
Abaixo foto da Rosácea da Iglesia de San Esteban de Ribas de Sil**
Note-se como o desenho das aberturas, executado na grelha de pedra, agora já com a forma de “mandorlas”, é ainda pesado e muito maciço. Quer comparado com o desenho da Rosácea da igreja de Paço de Sousa (ver dia 2.12); quer ainda se comparado com a Rosácea da igreja de Tarouca (imagem seguinte), que é muito mais aberta.
*Ver in AAVV, Romanico en Galicia y Portugal, Fundación Pedro Barrié de la Maza, Fundação Calouste Gulbenkian, 2001, p. 126.
** O assunto é vasto e muito complexo, em Monserrate, uma nova história, ler na Introdução a nota nº 14, e depois as várias referências ao Filioque. Jacques Le Goff aborda este tema em vários dos seus trabalhos, por exemplo - Em Busca da Idade Média, Editorial Teorema, Lisboa 2004.