Nos tempos que se vivem, fazer as opções certas é extremamente difícil. Em menos de dez anos, quase tudo mudou e os dirigentes, a todos níveis, não estão preparados – não têm formações transversais, nem informação – para, quase por magia, fazerem aparecer as soluções que se impõem.
Algumas receitas são antigas, como o voltar à terra e produzir aquilo que se consome e sem dúvida todos precisamos. Outras, por exemplo, passam por saber avaliar aquilo que temos, e definir prioridades, com vista à sua salvaguarda. Como se deve fazer com o património herdado – tangível e intangível – tentando que o mesmo não se perca. Na nossa área profissional (ou no plural – nas nossas áreas profissionais), esses caminhos há muito estão definidos e conhecidos. Falta apenas pô-los em prática (sobretudo aqui em Portugal).
Mas isto que é fácil enunciar enquanto princípio geral, e no plano das ideias, divide-se depois, ao actuar, em inúmeras tarefas a atribuir a um muito maior número de profissionais especializados. É pois uma área vastíssima, da qual, no fim – se houver trabalho bem desenvolvido por todos (devidamente coordenados) – então haverá bons resultados.
Neste caso é com o maior gosto que chamamos a atenção para uma obra de renovação e recuperação urbana (é um bom exemplo), feita na Rua da Boavista, em Lisboa; num edifício onde está instalado o IPA – uma escola de estudos superiores. Se já tínhamos reparado no seu enorme interesse, como sendo um edifício de qualidade, e a precisar de obras urgentes, agora pudemos perceber que foi limpo e renovado.
Destacamos o facto de, inteligentemente, terem sido poupados os caixilhos de madeira, e os seus desenhos. Embora nos pareça, que quem dirigiu a obra deveria ter tentado ir mais longe: é que pela nossa experiência, ainda há hoje os carpinteiros (e as carpintarias), capazes de fazerem o restauro dos “pinázios”, repondo o material em falta. Ou, fazendo de novo, igual ao original.
Mas, pelo que observámos - na forma como os vidros estão colocados (pelo exterior!*) - talvez se trate ainda de uma solução provisória? Aguardamos, pois o edifício é merecedor de uma intervenção correcta…
Imaginamos que os leitores notaram que ainda nos estamos referir à mesma iconografia: quadrifolios, "culots", losangos de lados arredondados, etc., etc., etc? Várias Imagens que foram geradas por uma «malha polissémica», que há dias apresentámos.
Se não notaram, confirma-se que vemos "aquilo que ninguém vê", incluindo os especialistas da Imagem! Confirma-se que todos se tornaram especialistas de letras, e de textos escritos, incapazes de lerem as imagens. Seria (é) um retrocesso imenso: a perca primeiro, do "património intangível". Depois, como seu corolário lógico e consequência, a perca completa do património material ...
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*Ou tratam-se de chapas de acrílico, ainda numa situação de obra, e portanto é uma solução provisória?