Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Ago 19
publicado por primaluce, às 19:00link do post | comentar

Estive há dias bem divertida (na BAQ) a ver com atenção várias cartas de Lisboa, anteriores ao século XX.

 

O objectivo era ir descobrindo palácios e palacetes, que têm em comum o facto de na sua arquitectura se vencer um desnível considerável. Como acontece na Rua do Alecrim, na Casa que foi do Barão de Quintela (depois Conde de Farrobo, um dos mecenas do S. Carlos). Mas que também existe na casa que foi do Duque de Saldanha - na Rua de S. José, Palácio da Anunciada; hoje um novo «hotel de charme».

É que, por acaso ou não (?), observa-se também aí, numa outra escala, menor, o mesmo esquema arquitectónico existente na Rua do Alecrim*.

Só que, perguntamos, esta disposição - em dois ou mais níveis -, foi talvez porque a cidade das 7 colinas é cheia de desníveis? Tendo sido por isso bastante difícil (continuamos a questionar-nos, se terá sido assim) encontrar áreas planas, de dimensão razoável , para edificar essas mansões e casas nobres?

Pergunta-se, visto que o esquema é de tal modo semelhante – e o mesmo ou muito parecido também  se verifica em Monserrate (e até em Seteais..., em parte) – que somos levados a questionar se essa não era uma preferência deliberada, e portanto procurada nos próprios terrenos (que por isso tinham que ter declives...) antes de se começar a construir?

Não terá sido objectivamente procurado, tentar assentar a construção num desnível, para de imediato ter a loja (palavra que vem de Loggia) de acesso à casa no mesmo nível da rua? E ainda ao nível das cozinhas e de outras áreas funcionais? Para depois ter entre os dois níveis, o espaço  e sobretudo a razão de ser para lançar uma grande escadaria, que no caso da Rua do Alecrim, é monumental, muitíssimo bem trabalhada e extremamente bonita.

Por fim, e sendo mais uma das características típicas, ou comuns a alguns destes palacetes, as salas teriam então acesso de nível – claro que a uma cota mais elevada  -  aos espaços exteriores, ajardinados.

Concretamente, no caso do palacete onde o IADE esteve desde 1969, os jardins a uma cota superior à da entrada na Rua do Alecrim, correm em paralelo com a Rua António Maria Cardoso, existindo os sinais de uma Alameda, que ao fundo terminava numa cascata.

Por fim, vindo da Carta de Lisboa (nº37), feita no século XIX, pelo engenheiro Filipe Folque  (carta que se obteve no blog "Paixão por Lisboa", página - https://paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt/tag/pal%C3%A1cio+dos+mendon%C3%A7as) a demarcação aproximada de um lote e de uma casa que conhecemos bem, a qual terá sido, antes de transformada (na 3ª ou 4ª década do século XX?), um exemplo bastante semelhante aos que acima se descreveram: sito na Rua dos Lagares (nº 14), logo abaixo da igreja, e do chamado Caracol da Graça; a nascente do Largo do Terreirinho. Tudo isto ligando à que foi conhecida como Calçada de Santo André, e é hoje chamada Rua dos Cavaleiros. 

Enfim, saudades de um tempo de crianças felizes, mas às vezes longe de Cascais, e quase «aprisionados» na Mouraria. Mas também - o que é divertido! -, memórias que se encaixaram sobre (ou estiveram na base?) de uma série de saberes profissionais adquiridos mais tarde...

Rua dos Lagares nº 14.jpg

(excerto da Carta de Lisboa, de Filipe Folque)

* Note-se porém, não sei qual deles existiu primeiro (?), embora pareça, que o da R. do Alecrim, tem tudo (como modelo) para ser copiado ou recriado, mesmo em escala menor.

Este post é também o resultado de passeios com a minha colega Ana I., já que também notou as semelhanças do Palácio da Anunciada (onde nasceu Teresa de Saldanha, fundadora das dominicanas portuguesas) com o Palácio Quintela.


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