... como sabemos alguns Historiadores «adoraram», verdadeiramente, esta expressão.
É mesmo, e por tudo e por nada lá vinham eles com as "Viagens das Formas".
Não sabiam onde as formas tinham nascido, nem como, nem porquê? E se, nem de onde vinham nem para onde foram, algum dia - ou já agora há que lhes perguntar se se terão interrogado sobre esta questão? É que o certo, é que lá vinham eles, sempre, repetindo essa expressão que veio, pensamos nós, dos autores franceses?
Terá sido de Focillon...?
Não sabemos, mas achamos divertido ver como as coisas vão «funcionando», e continuam. Só que, actualmente, a poder pôr a dita expressão num motor de busca, e é mesmo muito engraçado ver os resultados que aparecem.
Pois lá estão os títulos de alguns livros, já que por aqui, em Portugal, tudo se absorve muito (acriticamente) e assim se repete, e repete, e repete, até à náusea...
Sobretudo se vier de fora! Sem um questionamento, sem uma pergunta, sem nada! Porque a realidade é imutável (pensam eles!)..., e repetem, e repetem, e repetem...
Como se, atavicamente agarrados ao seu próprio inconsciente (muito próprio e muito individual mas que se torna colectivo), eles se dissessem: "...deram-nos assim, é a Ogiva! Porque havemos de contestar, questionar ou perguntar alguma coisa, se assim está tão benzinho?..."
(índice de H. Focillon, A Arte do Ocidente)
Mais, completando a ideia, é sabido que aqui, em Portugal, é proibido inovar!
Sobretudo se for numa escola de design...
Sobretudo se for um arquitecto a explicar como se combinaram e compuseram imagens que depois foram ideogramas;
Sobretudo se for uma professora a leccionar há mais de 40 anos nessa mesma escola...!
Sabemo-lo bem, já que os nossos esforços para difundir e interessar outros por uma questão que é interessantíssima - e precisa de ser estudada com mais recursos e mais pessoas (investigadores) -, têm tido zero frutos.
E se começou nos estudos de um mestrado, continuou na Faculdade de Belas-Artes, com Fernando António Baptista Pereira a considerar que todos os seus assuntos eram sempre mais importantes do que os temas dos nossos estudos, ou do que o apoio que era suposto ele como orientador dar a uma orientanda... (porém, gabando-se que tinha dezenas de orientandos...)
Dizem-nos: "que é da Inveja..." - talvez? (é o que temos que responder)
Só que agora o Casamento Real trouxe para as redes sociais, de novo, algumas Tiaras. Sendo que há uma que a Rainha de Inglaterra tem usado em várias ocasiões, e que tem a mesma iconografia que se pode ver na Arquitectura e na Tumulária*:
Imagem de génese Iconoteológica, que foi sinal de união ao divino; ou, dito por outras palavras: a tradução em imagens (e numa época) do direito divino do poder real**.
Imagem que se transformou em padrão a partir do fim do século XI e início do século XII, tendo depois dado origem ao arco quebrado como bem explicou Juan Caramuel de Lobkowitz.
Imagem que nos foi essencial para perceber a origem da Mandorla, e como esta surgiu para traduzir o conceito cristão do Filioque. Conceito que por exemplo a separação, ou o Cisma Luterano, não fez mais do que reforçar, na senda de uma defesa que já Carlos Magno fizera, impondo o Filioque à própria Igreja, ele que foi «mais papista que o papa»***.
A peça que é conhecida como The Grand Duchess Vladimir Tiara terá sido comprada pela Queen Mary em 1921. Isabel II herdou-a.
Tem exactamente a mesma iconografia que o túmulo de Egas Moniz, a qual seguindo Owen Jones e a sua Grammar of Ornament, essa Iconografia é de origem bizantina. Será?
(desenho do túmulo de Egas Moniz, in António Feliciano de Castilho, Quadros Históricos de Portugal, Lisboa 1838)
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*Desde a casa de Marques da Silva no Porto, a várias antigas "mansões" da Av. da Liberdade, e recuando até ao Túmulo de Egas Moniz onde vimos a imagem pela primeira vez.
**É uma questão antropológica claríssima...
***Se Carlos Magno se impôs ao Império como Protector da Igreja (principal instituição do Império), ele próprio foi, como repetidamente é lembrado, descendente dos antigos invasores. Mas também por isso, criador de uma nova realidade, em que o eixo de Poder, na Europa, se deslocou para Norte; uma «nova geografia» que a divisão luterana veio mais tarde reforçar e dar-lhe continuidade. Enfim, depois do Concílio de Trento vê-se a Europa dividida, o que teve a maior expressão na Arte. Concretamente na arquitectura e no chamado revivalismo do Estilo Gótico. O estilo que se fez renascer para marcar, o máximo possível, as diferenças entre os apoiantes (e os não-apoiantes) da Reforma. Com os Protestantes a reclamarem serem os verdadeiros cristãos (dada a sua postura de exigência, como fez Lutero, e por exemplo o Pe Carreira das Neves evidenciou...). Contra os apoiantes da Contra-Reforma de Roma, a quererem evidenciar que continuavam a usar o Estilo dos primeiros Imperadores cristãos (os que levaram à oficialização do cristianismo): i. e., o estilo que é por isso chamado Paleocristão.