De Leonardo, há 20 anos não quisemos saber de códigos...
... para nada! Acrescente-se, já que estávamos a encontrar informações bem menos fantasiosas, sobretudo verosímeis, e muito mais interessantes.
Só que, acontece que duas décadas passadas, agora andamos a tentar saber dos seus Códices...
E porque procurar (tal como aprender) nunca fez mal a ninguém, seguimos uma máxima do século XII, de Hugues de Saint Victor, que era:
“Apprends tout, tu verras ensuite que rien n’est supperflu”*
É por isso que «estamos nesta», agora mais do que muito surpreendidos com o que de facto se encontra:
Recolhem-se desenhos, e estes têm textos - legendas que eventualmente nos poderiam ser úteis, por esclarecerem as razões porque foram feitos (?); mas tal como sucede para os especialistas e pesquisadores da Biblioteca Ambrosiana, surgem várias dificuldades. Que não são pequenas para se conseguir chegar aos textos, e aos seus conteúdos**, como o exemplo seguinte mostra:
É um excerto que se obteve de um mapa da Europa, de Leonardo, e onde se vê, bastante bem, a utilização de uma escrita «feita ao contrário»: palavras e textos que só poderiam ser lidos pelos que estivessem muito treinados, por quem usasse um espelho, ou se decidisse ver os desenhos (se isso fosse possível) por transparência...
Desesperante!
Mas o que este desenho (me) mostra - a mim que sou perseverante, e não tenciono desistir - é a maior evidência do que também tantas vezes se tenta explicar, e não é nada fácil, para se conseguir ser entendido: concretamente, o que é, e foi, uma enorme mudança de mentalidades:
Se a mente genial de Leonardo, há 500 anos, achava que um mapa do Sul da Europa deveria ser apenas para alguns eleitos, para os governantes ou superiores?, na verdade enganou-se:
O Conhecimento tornou-se um imenso bem, e nas sociedades democráticas em que vivemos, em geral, até os governantes preferem governar povos e cidadãos mais evoluídos e conhecedores, esperando que estes (quiçá?) se auto-governem, dando-lhes muito menos trabalho***.
Enfim, vamos continuar, e sobretudo a ver, pois é o que mais nos interessa:
Ler - pela capacidade comunicacional de - as imagens que criou!.
Para depois as agregarmos, ao muito que já temos, e que, tudo somado, só pode provar como S. João Damasceno afirmou perante comportamentos iconoclastas "... Não venero a matéria, mas o criador da matéria, que por mim se fez matéria."
O que por outras palavras, menos santas, para nós significa algo como o investir da matéria pelas ideias, como Plotino explicou
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*Ver Hugues de Saint-Victor, L’Art de lire, Didascalicon, Cerf, Paris, 1991, p. 31.
**Connosco as dificuldades são acrescidas, pois não sabemos italiano (embora possamos perceber, algumas das construções geométricas...)
***Sabe-se lá. Com tantos "leaks" alguma ideia de «auto-governação» é demasiado optimista...