Porque a Semiologia bem entendida é essencial em Metodologia e Teorias de Projecto, assim, depois do post anterior entendeu-se chamar a atenção para informações que devem ser mais conhecidas.
O excerto seguinte é extraído de Convergências, nº12, Revista de Investigação e Ensino das Artes*, e tem o seguinte título:
A palavra no processo de design: uma reflexão apoiada em pressupostos linguísticos
"(...) 3 Paralelo entre Linguística e Design
O estudo dos fatos da língua foi fundamentado por Ferdinand de Saussure, em suas pesquisas trazidas a luz nos primórdios do século XX. As dicotomias pautadas por ele embasam o estudo da língua a partir de então. São elas: semiologia – linguística; signo: significado – significante; arbitrariedade – linearidade; linguagem: língua – fala (norma); sincronia - diacronia; sintagma – paradigma. As dicotomias apontadas por Saussure pautam os processos de design, sendo que algumas delas foram sistematizadas como ferramentas projetuais de análise e construção em design tais como: i) Análise Diacrônica e Sincrônica (Bonsiepe,1984); ii) Análise Semiótica (Niemeyer, 2007); iii) Análise Sintática e Paradigmática (Gomes, 2001); entre outros. Cabe destacar que o presente estudo baseia-se em fundamentos linguísticos para a compreensão do processo como um todo, independentemente de métodos projetuais de design, e isso porque a forma trabalhada por este transita pela mesma elaboração mental em que as dicotomias Saussureanas se processam.
(...)
Correlacionando a terminologia saussureana ao design, com relação a sintagma e paradigma pode-se exemplificar: i) Sintagma seriam os elementos lineares de que se vale o designer na execução de seus projetos. Em uma abordagem relacionada à função prática de um produto de design, é fundamental o estabelecimento de prioridades e estruturação dos princípios a serem disponibilizados. Como exemplo, ao projetar uma peça gráfica, o designer deve saber como organizar a informação em termos de ordem, leitura e composição. Outro exemplo pode ser o projeto de um produto dentro de um portfólio de uma empresa no qual deve ser estabelecido o posicionamento do mesmo em certa linha, categoria ou grupo. ii) Paradigma seriam todas as relações associativas desses elementos presentes na memória do designer e com que o mesmo estabelece conceitos e executa seu trabalho. O eixo emocional de atuação do design (Damazio, 2005; Norman, 2004) recorre a princípios paradigmáticos uma vez que busca despertar sentimentos e sensações introjetadas nas vivências dos usuários. As relações paradigmáticas processam-se, no campo da expressão, com base na semelhança de sons; como, por exemplo, na poesia, com aliterações; veja-se Caetano Veloso, reproduzindo o movimento do povo no carnaval baiano: “a gente se embala, se embola, se rola, só para na porta da igreja.”
Em relação ao design, as características morfológicas e estéticas dos artefatos seja em termos de harmonia e coerência formal ou em termos de contrastes entre as partes integrantes de um produto ou sistema evidenciam a lógica de semelhança e aliteração. Além disso, ao se valer da idéia de módulo como unidade mínima, no desenvolvimento de projetos, o designer também se vale de associação de formas repetidas, como no caso das letras, nas aliterações. (...)"
Se pelo link seguinte forem ao texto que acima se citou, leiam ainda no ponto 2 as referências a um chamado Pensamento Visual.
Pensamento que é essencial em Projectos e que muita vezes fica registado na obra construída: como uma reminiscência/resíduo do caminho que os projectistas fizeram.
A não ser que os "designers" (ou projectistas) estejam despertos e atentos para essa possibilidade, contrariando-a...
*http://convergencias.esart.ipcb.pt/artigo/117
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