Pouco sabemos do assunto - "Manifesto de Óbidos" - abordado nos Media (e em prol do português como língua de Ciência)
Acontece que foi a propósito dele (do Manifesto de Óbidos) que ouvimos num programa de rádio, que algumas línguas, dada «a sua estrutura», geram/geraram formas de pensar diferentes*.
Porém, disto - «Estruturas do Pensar» -, sabemos qualquer coisinha. Não muito, mas o que os nossos estudos sobre as imagens que estão nas artes visuais, da Antiguidade à Arte Contemporânea, nos têm mostrado, relativamente à capacidade falante das formas.
Sim, as mesmas formas que os historiadores de arte mais antigos, sempre questionaram e sempre interrogaram. Procurando respostas, e os seus significados mais específicos, para terem sido escolhidas, e estarem presentes nas referidas obras de arte...
Ao contrário dos Historiadores de Arte de hoje, que, tão mais especializados, apenas lhes interessa saber das vidas dos autores das obras. Não lhes interessando o contexto, ou muito pouco, e sobretudo nada sabendo da Teologia que justificou essas formas, e a sua inclusão no que hoje dizemos ser Arte.
Aliás, as mesmas formas - com predomínio para o círculo -, que tantas vezes serviu de base ao acto de pensar (acompanhado de registos gráficos...). Formas que, algumas delas foram usadas em Ciências (por exemplo na Química), e que na área científica da História da Arte, André Grabar, que foi enorme e importante historiador, designou por fórmulas esteroquímicas.
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E ao escrever a propósito do círculo (como se lê acima), André Grabar registou: "Ils ont su tirer mille partis originaux du thàme géométrique du cercle..." Insistindo assim na enorme versatilidade do círculo, posto ao serviço da tradução de ideias. Ou, dizemos nós, como núcleo central para a formação dos Ideogramas que estão nas obras de arte.
Mas não foi André Grabar o único autor que notou as estratégias, ou as técnicas, do Pensamento Visual. Também Rudolph Arnheim o fez, e, de igual modo, com autoridade científica:
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Nesta data (em 2023) são já muitos os textos que escrevemos, publicados em papel ou na Internet, à roda deste tema, como aqui, por exemplo, se pode ler,
Embora ainda se pergunte: valerá a pena repetir: explicar por outras palavras, o que certas mentes - muito renitentes - parecem incapazes de compreender? E, quando se diz mentes renitentes, será que existem?
Mas sim, existem! São as dos que tendo nascido pobrezinhos, assim se mantêm pobres, fazendo votos de pobreza intelectual. [Não querem evoluir, não querem futuro, como no fim deste post se explica - fazendo lembrar os povos mais arcaicos a que Rodney Stark se refere]
Os que não sabem o que é ser aberto ao mundo, à Arte e à Ciência. Não sabem de certeza, o que é alegria de estar vivo. São mortos-vivos, que se fizeram/fazem de mortos, e assim continuam. Deixemo-los portanto a apodrecer na sua paz!
E passado este parêntesis avançamos. Pegando exactamente na ideia de que línguas diferentes, terão originado pensamentos diferentes [e bem assim, civilizações diferentes].
Como é/foi o caso do Pensamento Visual, tratado por alguns autores, o qual proporciona (antes/depois**?), combinado com a língua natural, palavras e frases (discursos, narrativas...) que são elas mesmas, também muito visuais.
Daí o terem passado à pintura, mas também a muitas outras obras: concretamente à arquitectura, que é língua, ao ir muito para além da mera edificação...
Em O que têm os alemães que os portugueses não têm, já escrevemos e já citámos Rodney Stark (foi há 12 anos!). Voltamos a este autor, e à sua ideia de que o desenho e a imagem foi útil aos povos do Ocidente, permitindo-lhes e incentivando-os ao uso da razão.
Rodney Stark - sociólogo americano - no seu livro A Vitória da Razão (2007) explica como a imagem (a Arte, a Ciência...) ajudou a construir essa mesma Razão, na qual vê as bases da civilização ocidental. É dele este excerto:
"A imagem cristã de Deus é a de um ser racional que acredita no progresso humano, revelando-Se à medida que os humanos desenvolvem a capacidade de compreensão" (ver p. 60)
Mas antes, ao explicar o plano deste seu livro***, no Prefácio, Rodney Stark já resumira as suas ideias:
"A Vitória da Razão explora como a razão ganhou importantes batalhas e moldou de forma única a cultura e as instituições ocidentais. A vitória mais importante foi a do Cristianismo. As outras religiões mundiais sublinham o mistério e a intuição, mas o Cristianismo vê a razão e a lógica como ferramentas fundamentais para a descoberta da verdade religiosa. A confiança na razão foi influenciada pela filosofia grega. Mas a filosofia grega teve pouca influência nas religiões gregas. Estas permaneceram típicos cultos de mistério, nos quais a ambiguidade e as contradições lógicas eram provas de uma origem sagrada. Persistem ideias semelhantes, em relação à incapacidade fundamental de explicar os deuses e a superioridade intelectual da introspecção, em todas as outras grandes religiões mundiais. Em contraste, os fundadores da Igreja pregaram, desde sempre, que a razão é um bem supremo, um dom de Deus, e a ferramenta que permite um desenvolvimento progressivo na compreensão da Bíblia e da Revelação. O Cristianismo é, portanto, voltado para o futuro, enquanto as outras grandes religiões acreditam na superioridade do passado." (ver pp. 42-43, os sublinhados são nossos)