...associados às Imagens e à Arte.
Como sabemos, Lima de Freitas escreveu sobre este tema - tal como fizeram muitos outros autores -, mas, nem sempre com um foco dirigido, exclusivamente, para os Números.
Na verdade, de entre os elementos que «intermediaram» (ou estiveram em substituição) dos Números, para formar as composições e as suas imagens (finais nas obras), aludindo a ideias concretas; esses elementos - como cada vez mais sabemos (ou temos provas e informações) - eles foram gerados pela Geometria.
Uma Geometria que nem sempre foi apenas Matemática, ou a Ciência como é hoje entendida. Da qual Hugo de S. Victor em Didascalicon escreveu ser: "source des sensations et l'origine des expressions".
E o Painel Começar, de J. de Almada Negreiros, no Átrio da FC Gulbenkian, que Lima de Freitas analisou (no livro cuja capa aqui está), é, por exemplo, uma das melhores provas da forma como a Geometria sempre serviu para exprimir Números que foram associados ao Deus-Uno e Trino.
Aliás, o dito Painel Começar talvez devesse ser abordado como reflexão (ou como uma enorme e longa citação?) de inúmeras outras obras.
Exactamente sobre muito daquilo que se encontra ao longo do tempo e está registado na História da Arte; ou se quiserem (?), e portanto essencial, em DOUTORAMENTOS sobre IMAGEM e CULTURA VISUAL*...
Em nossa opinião o mencionado painel "Começar" poderia talvez ser visto como uma espécie de "Encontro com o passado". Pois lembra-nos uma exposição da National Gallery que vimos há uns bons anos... O Painel Começar é sem dúvida um óptimo registo daquilo que ao longo de toda a História da Arte se vê e constata. Ou seja, como "do velho se fez novo".
As imagens antigas geraram as novas, porque as mais novas (ou mais recentes), foram actualizações necessárias das anteriores. Quando a ideologia era ainda a mesma, apesar de tudo, muitas vezes houve necessidade de actualizar.
Mas mais tarde, e fale-se do meio do século XX para a frente, quando as ideias já não eram as mesmas e a religiosidade - apesar do Concílio Vaticano II -, continuava a decair no Ocidente Europeu. Então, uma espécie de saudade das formas (mais antigas) veio também fazê-las reviver**.
Uma vontade muitas vezes sem sentido (?), e até sem saberem porque surgiu, mas que fez com que as fossem buscar. Como escrevemos, talvez só por uma simples continuidade, memórias ou lembranças cujas raízes eram apenas de ordem afectiva: talvez a fazer lembrar, por exemplo, a saudade que alguém tem dos cheiros e sabores da casa, e dos ambientes onde cresceu.
Talvez algo muito proustiano..., e sem outras motivações relevantes?
Mas enfim, aqui há que dar a volta ao texto:
Pois que seja boa e bonita a lição sobre Lima de Freitas!
Começando a haver, crescentemente, razões de regozijo (nosso) porque os que nos têm afastado, ou escondido e apagado os frutos dos nossos trabalhos e descobertas, irão ouvir dizer amanhã, dirão até eles mesmos - em lição especial para alunos de um doutoramento - que afinal numa escola de Design os temas da Geometria (antiga, e tal como George Hersey a explica***) - sendo uma das principais disciplinas das Artes Liberais, e integrante de um antiquíssimo «sistema» de ensino - devem ser, obrigatoriamente abordados...
Só que tudo isto é também a maior das ironias!
Pois no nosso caso convivemos de perto - muitas vezes, a sorrir e até a rir: a troçar (!) de algumas das questões que autores como A. Quadros, Lima de Freitas, Natália Correia, Gilbert Durand, foram lançando.
E ainda podemos rir, e não há que ter arrependimentos! Fez sentido. Essa é uma constatação, de quem reconhece que ainda bem que cresceu e evoluiu, tendo podido perceber a origem do que muitas vezes os atormentou... (a eles)
Lamentando que esses mesmos autores não tivessem tido a sorte, como tivemos, de poderem ter visto muito mais luz (ao fundo do túnel).
Lamentando, o que hoje é ainda muitas vezes feito, e se lê por exemplo em autores best sellers, ou não, como Rodrigues dos Santos, Dan Brown (ou ainda M. Gandra) e tantos outros que nem sequer podemos conhecer!
Porque, e aqui estamos a pensar e a incluir alguns escritos de Lima de Freitas, que também consideramos «chocantes». Pois em vez de citarem e se apoiarem, directamente, em textos concretos das Escrituras (ou da Patrística, e até da Escolástica); na verdade quando os lemos percebe-se que há neles falhas gravíssimas: Que estão a citar de cor, sem informação devidamente aprofundada; ou a referirem-se a um antigo "lore" de que G. Hersey escreve em Architecture and Geometry in the Age of the Baroque.
Referem-se ao que são/foram somatórios de equívocos; de conhecimentos mais ou menos muito vagos e adulterados, e menos sabidos por todos eles. E ainda também, mais ou menos desentendidos de todos esses autores...
Por fim, resta-nos dizer que lemos e aproveitamos imensa informação (fantástica) de Lima de Freitas. Porém, se hoje Lima de Freitas quisesse fazer um doutoramento, baseando-se teoricamente - e de acordo com a metodologia científica, rigorosa, que está em vigor (e não apenas em «ideias feitas» de quem não as foi confirmar!); i. e., se tivesse aprofundado e ido confirmar as suas suspeitas e as dúvidas científicas que teve, então Lima de Freitas teria ido, eventualmente, bastante mais longe. Quiçá teria confirmado hipóteses de que passou ao lado...? Mas também seria hoje, para muitos, um autor muitíssimo mais respeitado.
Assim, que amanhã - desejamo-lo sinceramente - no lançamento do livro "As Imaginações da Imagem", ao apresentá-lo o nosso orientador dos estudos de doutoramento lembre aos estudantes do IADE a absoluta necessidade de haver a máxima convicção e o máximo rigor. Sobretudo toda/ a máxima qualidade (e não apenas «a habitual quantidade de encher»...) nos temas que se pesquisam.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~
*A mesma História da Arte que o nosso orientador dos estudos de Doutoramento - FABP (Fernando António Baptista Pereira), ele próprio, não queria que escrevêssemos?
**E muitas dessas serão pastiches. Mas atenção, não estamos a falar de Pier Luigi Nervi. Porque esse autor conhecia, muito provavelmente, o sentido antigo de muitos dos elementos de suporte - nervuras semelhantes a ogivas, ou os artesãos que lembram tectos da Sé de Portalegre -, que usou nos seus projectos.
***Ou o Pseudo-Dionisio, o Areopagita escreveu e deu exemplos. Também Santo Agostinho quando comparou Deus a um Círculo e a uma Esfera; ou Blaise Pascal usou e escreveu sobre um Pensamento Geométrico
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
E a que hoje (3.3.2021) - por razões várias - se acrescenta este link