Já há dias se escreveu sobre este assunto, mas é sempre possível ir mais longe - chegando aos detalhes menores - como se confirma pela nossa metodologia
O que aliás é possível mostrar porque temos (imensos) registos dos estudos e das investigações que foram feitas para conhecer a casa de Monserrate. E hoje, ao olhar para trás novamente, voltamos a pensar sobre o como e o porquê de termos entrado em temas de que não podíamos, minimamente, suspeitar. Que é como quem pergunta (de novo): como foram possíveis algumas/várias das nossas "trouvailles ?
É então que nos acontece encontrar exemplos - desenhos, notas ou reflexões, como estão nos esboços seguintes -, do que é sem dúvida um método muito nosso; quiçá especifico, ou talvez raro*?
Ora o que aconteceu, também remete para a Filosofia, e, mais concretamente para o Método. Porque, embora de forma muito inconsciente, não aceitámos, linearmente, os conhecimentos com que, em geral, a maioria se satisfaz ...
Conhecimentos que, é frequente verificar, foram memorizados. Por isso a maior parte das vezes também são incompreendidos, como facilmente se constata, no caso de se ser curioso. Ou nas aulas, se os alunos fizerem perguntas consideradas inoportunas, por virem de «fora-da-caixa».
Quando nas nossas buscas e investigações, de quem não quer apenas encontrar e ter que ler palavras bonitinhas, mas vazias - as quais podem agradar aos sentidos mas não â mente; quando um dia percebemos o que Rudolph Arnheim escreveu sobre Visual Thinking, e no que consistia esse pensamento. Ou também ainda, pela maneira como quase crianças, estudámos e aprendemos geometria - uma disciplina de lógicas e definições muito próprias (como por exemplo o que são "lugares geométricos"). Por tudo isso era impossível não termos passado a associar o Pensamento Visual a «um» Pensamento Geométrico.
Em suma, e visto que é isso que aqui estamos agora a fazer - a pensar o pensamento - também reconhecemos que talvez estejamos a proceder como fez B. Pascal? Isto é, estamos a pensar e a raciocinar como ele pensou, e como ele raciocinou em De l'esprit géométrique :
" Ce n'est pas dans les choses extraordinaires et bizarres que se trouve l'excellence de quelque genre que ce soi
(...) Et l'une des raisons principales qui éloignent autant ceux qui entrent dans ces connaissances du véritable chemin qu'ils doivent suivre, est l'imagination qu'on prend d'abord que les bonnes choses sont inaccessibles, en leur donnant le nom de grandes, hautes, élevées, sublimes. Cela perd tout. Je voudrais les nommer basses, communes, familières : ces noms−là leur conviennent mieux ; je hais ces mots d'enflure..."
Ora no livro da nossa estante (que é em português **), o "je hais ces mots d'enflure" está traduzido para:
"Odeio esses nomes de afectação..."
Por último, quanto às imagens a seguir (os desenhos são esboços de vãos bífores do Claustro do Mosteiro dos Jerónimos, e o texto são notas de rodapé do nosso estudo sobre o palácio de Sintra) resta acrescentar que é possível, e desejável, que os estudos artísticos venham a ser feitos algum dia, com mais rigor. Que as palavras sejam menos enganadoras, tanto mais que - as imagens a que esses estudos, teóricos e demasiado palavrosos se referem -, essas imagens foram escolhidas por serem muito mais eloquentes, e portanto mais capazes de substituírem as palavras
(abrir imagens em novo separador)
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* Ou seja, um método que actualmente não é muito usado. Pois ao termos combinado (de modo prático) o que é o mais típico da nossa profissão: experimentalismo e teoria, concretamente o experimentalismo próprio de quem não afirma nada que não possa provar ou confirmar, inclusivamente, com provas materiais. E com este a teoria que foi (ou foram as teorias), também elas práticas, vindas das várias disciplinas das Artes Liberais, a começar pela Geometria, para percorrer depois as restantes áreas do Saber (como se explica na Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura - VELBC, vol. 2, c. 1417 sobre as Artes Liberais). Essa junção permitiu perceber como as Artes Liberais estiveram ao serviço do sagrado.
** Na versão em português Do Espírito Geométrico e da Arte de Persuadir, por Blaise Pascal. Com Selecção tradução e notas de Henrique Barrilaro Ruas. Porto Editora, 2003. Na versão francesa ir pelo link:
https://www.ebooksgratuits.com/ebooksfrance/pascal_de_l_esprit_geometrique.pdf