Fantasias românticas são aqui não apenas as linhas escritas por Guiomar Torresão*, à espera de «um epigramma», mas também o que se veio a tornar - na sua feição actual - o Paço de Guimarães. Escrevemos sobretudo a propósito de outras «fantasias», de tempos idos (mas não há muito) que se têm mantido, vivíssimas, apesar de haver quem não dê por elas...
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No centro da página 10, de um número do Almanach Illustrado - O Occidente de 1889, está o Paço de Guimarães. Gravura que nos lembra Horace Walpole e a sua obra O Castelo de Otranto. Porquê? Talvez um dia se encontre resposta...
Vêm depois - já o escrevemos - associado a O Castelo de Otranto segue-se Daphne du Maurier e algumas das suas obras que, com frequência, para nós representaram horas de leituras.
E depois das mais conhecidas dessas obras** (ou talvez antes?) recordamos o título The Glass blowers: que foi um dos preferidos, e que mais tarde, sempre que ensinava Vidros, era impossível não o relembrar!
É verdade, queríamos chegar a este ponto, pois para muitos vão hoje, longíssimo, os conhecimentos de Tecnologia de Materiais! Se é que algum dia os tiveram? Matérias que já não se ensinam, por duas razões principais: primeiro porque as desconhecem, sendo incapazes de as transmitir; depois, e porque seria importante fundamentar essas lacunas, dirão (com toda a certeza!) que passaram a ser consideradas inúteis. «Inutilidade» que é discutível, e a merecer, aliás, importantes reflexões e questionamentos...
Razão para também ouvirmos alguns «piropos» - naqueles dias em que insistimos com os alunos, para que nos oiçam e aproveitem a disponibilidade que existe (temos e afirmamos) para ensinar: porque estamos ali, na aula, para isso; e gostamos de cumprir com os nossos deveres.
Porém, e independentemente de todos os disparates que por aí vão - de ignorâncias infindáveis, irresponsáveis e repetidas, nos tempos de nonsense em que se vive, vindas de todos os lados, dos mais próximos, aos que dirigem e (des)governam; acontece que no nosso caso tivemos a sorte dessas matérias nos terem ocupado horas e horas de trabalho (ou estudo - feito com o mesmo gosto que dedicámos a alguns romances...):
Milhares de horas com certeza: feitas a conhecer, a visitar fábricas e a ensinar diversas tecnologias e materiais. Nunca ao nível da máxima especialização, pois não tínhamos condições ou preparação para isso; mas ao nível (intermédio/generalista e útil) que um arquitecto ou designer deve dominar, para depois poder saber projectar.
Pensava-se então que o Design (e não As Artes Decorativas) era/seria a chave de muitos problemas contemporâneos: não só os relacionados com a ocupação das pessoas (na desejada industrialização do país) e dos rendimentos que poderiam auferir; mas também como modo de organização dos processos de trabalho. Ou ainda, modo para o «embelezamento dos cenários e ambientes em que se vivia»***. O que, dito de outra maneira (muito prosaica), poderia corresponder ao «envolver e embrulhar» das formas que habitualmente constituem o cerne dos motores e das máquinas, por invólucros que, ao protegerem esses mecanismos, simultaneamente também os embelezavam... por fora!
Sentidos de composição e de embelezamento que vinham desde Schinkel, e sobretudo do mais conhecido Willim Morris; e que entre nós também Raul Lino por lá passou...
Pelos anos 70 e 80 do século XX, o Design era muito, ou era tudo? (embora hoje, quando se olha para trás, se fique impressionado com a «carga decorativista» que muitas peças ainda integravam):
O Design seria Honesto - como eram as «Lâmpadas» de John Ruskin: nunca vilão, sempre ao nível de um super-herói!
O Design - como projecto e processo de produção, pensavam alguns, e muitos desses diziam-no:
"seria sempre capaz de redimir e salvar..."
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*Autora cuja existência não conheceríamos se não fosse a toponímia: i. e., se não tivesse dado o nome a uma rua no Alto do Estoril!
***O que por sua vez, mentalmente, nos conduz a diversas cenas compostas - ora pintadas (ou até fotografadas) por vários autores - de Josefa d'Óbidos a Cézanne; composições que nunca desligaremos da prática e know how de projecto. O que também nos lembra Alain Besançon e o seu trabalho dedicado ao Iconoclasmo (o que se pode ler na contracapa de L’IMAGE INTERDITE): "Et il entend dans l’explosion de l’art abstrait l’écho des anciens bris d’images...". Finalmente - e talvez dando razão a A. Besançon??? - tudo isto ajudou-nos a entender (e nos últimos dias a reflectir imenso sobre) o «estranhíssimo» trabalho de um aluno Erasmus:
Porque razão usou equipamentos e mobiliário repletos de elementos decorativos? Quando ao seu lado a maioria dos colegas preferiu peças e mobiliário o mais despojadas, e minimalistas, possível?
Que este post evidencie a imensa «inutilidade» das investigações
do nosso doutoramento: É o que se deseja!