Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Jan 14
publicado por primaluce, às 00:20link do post | comentar

Fantasias românticas são aqui não apenas as linhas escritas por Guiomar Torresão*, à espera de «um epigramma», mas também o que se veio a tornar - na sua feição actual - o Paço de Guimarães. Escrevemos sobretudo a propósito de outras «fantasias», de tempos idos (mas não há muito) que se têm mantido, vivíssimas, apesar de haver quem não dê por elas...

(clic na imagem para legenda)

No centro da página 10, de um número do Almanach Illustrado - O Occidente de 1889, está o Paço de Guimarães. Gravura que nos lembra Horace Walpole e a sua obra O Castelo de Otranto. Porquê? Talvez um dia se encontre resposta... 

Vêm depois - já o escrevemos - associado a O Castelo de Otranto segue-se Daphne du Maurier e algumas das suas obras que, com frequência, para nós representaram horas de leituras.

E depois das mais conhecidas dessas obras** (ou talvez antes?) recordamos o título The Glass blowers: que foi um dos preferidos, e que mais tarde, sempre que ensinava Vidros, era impossível não o relembrar!

É verdade, queríamos chegar a este ponto, pois para muitos vão hoje, longíssimo, os conhecimentos de Tecnologia de Materiais! Se é que algum dia os tiveram? Matérias que já não se ensinam, por duas razões principais: primeiro porque as desconhecem, sendo incapazes de as transmitir; depois, e porque seria importante fundamentar essas lacunas, dirão (com toda a certeza!) que passaram a ser consideradas inúteis. «Inutilidade» que é discutível, e a merecer, aliás, importantes reflexões e questionamentos...

Razão para também ouvirmos alguns «piropos» - naqueles dias em que insistimos com os alunos, para que nos oiçam e aproveitem a disponibilidade que existe (temos e afirmamos) para ensinar: porque estamos ali, na aula, para isso; e gostamos de cumprir com os nossos deveres.   

Porém, e independentemente de todos os  disparates que por aí vão - de ignorâncias infindáveis, irresponsáveis e repetidas, nos tempos de nonsense em que se vive, vindas de todos os lados, dos mais próximos, aos que dirigem e (des)governam; acontece que no nosso caso tivemos a sorte dessas matérias nos terem ocupado horas e horas de trabalho (ou estudo - feito com o mesmo gosto que dedicámos a alguns romances...):

Milhares de horas com certeza: feitas a conhecer, a visitar fábricas e a ensinar diversas tecnologias e materiais. Nunca ao nível da máxima especialização, pois não tínhamos condições ou preparação para isso; mas ao nível (intermédio/generalista e útil) que um arquitecto ou designer deve dominar, para depois poder saber projectar.   

Pensava-se então que o Design (e não As Artes Decorativas) era/seria a chave de muitos problemas contemporâneos: não só os relacionados com a ocupação das pessoas (na desejada industrialização do país) e dos rendimentos que poderiam auferir; mas também como modo de organização dos processos de trabalho. Ou ainda, modo para o «embelezamento dos cenários e ambientes em que se vivia»***. O que, dito de outra maneira (muito prosaica), poderia corresponder ao «envolver e embrulhar» das formas que habitualmente constituem o cerne dos motores e das máquinas, por invólucros que, ao protegerem esses mecanismos, simultaneamente também os embelezavam... por fora!

Sentidos de composição e de embelezamento que vinham desde Schinkel, e sobretudo do mais conhecido Willim Morris; e que entre nós também Raul Lino por lá passou...  

Pelos anos 70 e 80 do século XX, o Design era muito, ou era tudo? (embora hoje, quando se olha para trás, se fique impressionado com a «carga decorativista» que muitas peças ainda integravam):

O Design seria Honesto - como eram as «Lâmpadas» de John Ruskin: nunca vilão, sempre ao nível de um super-herói!

O Design - como projecto e processo de produção, pensavam alguns, e muitos desses diziam-no:

"seria sempre capaz de redimir e salvar..."    

~~~~~~~~~~~~~~

*Autora cuja existência não conheceríamos se não fosse a toponímia: i. e., se não tivesse dado o nome a uma rua no Alto do Estoril!

**http://www.dumaurier.org/

***O que por sua vez, mentalmente, nos conduz a diversas cenas compostas - ora pintadas (ou até fotografadas) por vários autores - de Josefa d'Óbidos a Cézanne; composições que nunca desligaremos da prática e know how de projecto. O que também nos lembra Alain Besançon e o seu trabalho dedicado ao Iconoclasmo (o que se pode ler na contracapa de L’IMAGE INTERDITE): "Et il entend dans l’explosion de l’art abstrait l’écho des anciens bris d’images..."Finalmente - e talvez dando razão a A. Besançon??? - tudo isto ajudou-nos a entender (e nos últimos dias a reflectir imenso sobre) o «estranhíssimo» trabalho de um aluno Erasmus:

Porque razão usou equipamentos e mobiliário repletos de elementos decorativos? Quando ao seu lado a maioria dos colegas preferiu peças e mobiliário o mais despojadas, e minimalistas, possível?

Que este post evidencie a imensa «inutilidade» das investigações

do nosso doutoramento: É o que se deseja!

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