Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Ago 19
publicado por primaluce, às 18:00link do post | comentar

E assim por imagens - que depois estiveram na génese de formas arquitectónicas -, este é um resumo visual do que a seguir se desenvolve:

 

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As imagens vêm deste site https://taylormarshall.com/2017/09/the-filioque-as-nicene-theology-for-arian-goths-and-the-creed-of-ulfilas.html de um Professor de Teologia que usa o desenho (como aliás sempre aconteceu desde os primórdios do Cristianismo, e como estou a explicar desde que compreendi esta questão a partir de 2002, ao estudar o Palácio de Monserrate, em Sintra) para apresentar as diferentes ideias teológicas.

Em suma, com desenhos, mas sendo as regras as da Geometria (ou o equivalente a uma Gramática como acontece nos textos escritos), estes foram usados para explicar variações, extremamente sensíveis, na redacção (e expressão) do Símbolo da Fé dos Cristãos.
Vamos então de novo a esse artigo, percorrendo-o, e buscando os esquemas explicativos e correspondentes às diferentes concepções teológicas.

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Este 1º esquema corresponde à fé de Arius (e de Úlfilas chefe dos Visigodos), e à noção que tinha de Deus.
Ao ser divulgada, prontamente foi posta em causa. Quer por autores do Oriente quer do Ocidente, tendo sido o motivo para a reunião do primeiro Concílio Ecuménico, que aconteceu em Niceia (na actual Turquia), convocado pelo imperador Constantino em 325.
Nessa altura houve uma reacção (musculada) já que o imperador pretendia que houvesse unidade, e a religião não fosse pretexto para divisões internas (num Império que entretanto se tornou extensíssimo, e com uma religião que passou a ser oficial/obtigatória).
O Concílio redige então o que é designado por Símbolo Niceno (que foi o primeiro Credo ou Símbolo da Fé, posterior ao Símbolo dos Apóstolos).

As «correcções» feitas estão expressas (esquematicamente) no 2º esquema (abaixo), que resume as novas especificações teológicas.
E se o primeiro (acima) foi considerado «mais dinâmico» este é aparentemente/visualmente «mais estático» *.

Post-3.jpg

Se nos interessasse apenas a questão da génese do Arco Ultrapassado e do Arco Quebrado ficaríamos por aqui.
Mas interessa-nos também a concepção trinitária (ideias que foram registando a evolução do conhecimento de Deus - ver a seguir o 3º esquema)**.

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Mas - e agora usamos uma expressão, quase irónica, que encontrámos em Umberto Eco – “as subtilezas dos teólogos medievais” eram especialmente exigentes... O Deus Cristão, ou melhor dizendo, a Trindade Cristã tinha especificidades!
Nesse caso, o 4º esquema traduz a «concepção nicena», mas de um modo tal que (e o arranjo visual traduz essa ideia), a evolução do Credo de Arius e de Úlfilas, para o Credo latino (que o Ocidente adoptou, definitivamente, com o Imperador Carlos Magno), não corresponde a um grande «salto conceptual»***.

Post-5.jpg

Assim, e em resumo, voltamos agora no fim à imagem inicial, por ser a que melhor sintetiza o que se foi discutindo em sucessivos Concílios , e quando, de certo modo - dizemos nós -, no fim do Concílio de Trento, na sua última sessão, se percebeu que não iriam chegar os delegados dos Países Reformados. Então a questão do Filioque ficou por fim encerrada. Mas só em linhas gerais, pois até João Paulo II abordou o assunto.

[Digamos que foi o fim das maiores querelas e discussões teológicas, embora permaneçam ressentimentos e incompreensões mútuas, que são também de origem linguística, como alguns explicam].

Post-1.jpg

Deste modo também se compreendem muito melhor os designados Revivalismos do Gótico: Por que razão os Países Reformados – diferentemente dos países da Contra-Reforma – tinham na questão do Filioque um tema essencial, de que não prescindiam. Sendo que a sua aceitação como Símbolo da Fé (e como aceitação teológica) os levou a adoptarem, de novo, e depois do Concílio de Trento, a Arquitectura Gótica.
É ainda agora designada Neogótica.
Um estilo de Arquitectura que muitos vêem como uma mera e simples questão de moda; ou como resposta a uma necessidade de renovação estilística, porque estivessem «cansados» dos estilos anteriores…! 
Não lhe tendo sido conferido o direito de uma maior divulgação, até agora (e foi nesse contexto, embora sempre a levantar questões, que ainda escrevemos o nosso trabalho dedicado a Monserrate!). Ou ainda, sem ter sido reconhecida a capacidade deste estilo para responder, e da sua melhor/óptima adequação, i. e., a "conveniência estilística" para traduzir ideias muito concretas de uma religião.
Conveniência, é a palavra a que Vitrúvio chamava Décor. A qual sempre existiu como uma adequação, e uma correspondência essencial, necessária aos objectos, mas também à Arquitectura, própria da liturgia cristã.
Por fim, e neste post bem difícil de escrever (por razões que são óbvias), queremos acrescentar:

Se no título mencionámos as divisões heréticas, que existiram (e foram inúmeras), em boa verdade conseguimos não entrar nelas. Restando-nos insistir que a respectiva tradução por imagens se fez sempre, enfaticamente, com repetições retóricas, e muito decorativas. Isto é, nunca a seco, ou só com a base esquemática das imagens... 
Se aludíssemos a essa base esquemática e essencial, do estilo Gótico, teríamos de dizer que quase só aconteceu com S. Bernardo e os cistercienses: na versão, ou fase estilística do Gótico, que é a considerada mais «iconoclasta».

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* «Mais dinâmico» e «mais estático» são qualificações que encontrei na enciclopédia da Verbo (VELBC) quando em 2002 este assunto me surgiu. Tendo ficado mais do que surpreendida, verdadeiramente atónita! Incluindo nesse nosso espanto esta adjectivação da Trindade, considerada como sendo “mais dinâmica” ou “mais estática”. Só que, mais tarde, ao encontrar a designação Pericorese então, essa «dança trinitária» já não foi uma grande surpresa…
**No entanto note-se que existe – corresponde ao chamado Credo de Atanásio – um outro esquema interessantíssimo, sobre o qual já escrevemos, e que também esteve na origem de formas arquitectónicas.
***Os povos Germânicos considerados invasores do Império Romano viram sempre em Carlos Magno (o primeiro imperador descente dos bárbaros, e fundador do Sacro-Império) um factor e símbolo de união, que não têm traído...


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