Note-se que, por aqui temos a perfeita noção que este assunto - que é Arquitectura e Religião - ainda está só no início!
Os chamados Gothic Revival, e depois também o Gothic Survival (*), estas duas correntes da Arquitectura europeia, estão muitíssimo mal estudadas. Já que ainda se supõe ser um fenómeno de moda, predominante, quando é, e foi, um fenómeno religioso!
E isto porque em geral os Historiadores se movem entre conceitos que outros lhes deixaram, há décadas; ou até já há séculos, e (continuam) incapazes de verem, o que é evidente. Assim nem sequer têm coragem para revisitar o que precisaria de ser muitíssimo visitado, e sobretudo depois, muito mais estudado.
Deixemo-los com as suas (auto) limitações, e vamos ao que hoje nos interessa.
Já escrevemos sobre Seteais (ver aqui) , e a fortíssima hipótese de ter tido, inicialmente, um arco quebrado na fachada..
Assim, quanto a imagens ver no nosso livro sobre Monserrate (nas pp. 218-9, as figs 15 e 16), que ilustram vários textos, e as ideias que defendemos, ao longo de todo o nosso trabalho de investigação (**).
É que ainda sobre imagens e desenhos, na zona mais antiga do Palácio de Monserrate, e em que o projecto dos arquitectos J. T Knowles não fez grande mossa. Aí, nessa zona que é a das caves e cozinha, vê-se bem, e por isto sabemo-lo, que a retoma do desenho dos arcos quebrados (que no tempo medieval seria corrente ?); essa retoma, esse savoir faire, deve ter acontecido com vários percalços e talvez, muito possível, com algumas hesitações.
Sabemos o que Paulo Varela Gomes referiu sobre o restauro das ogivas destruídas, aquando do terramoto, e os elogios que fez aos frades que as re-ergueram, no Convento do Carmo. Como também sabemos dos percalços - estão lá estampados e vêem-se - no portal da igreja de Santo Cristo do Outeiro (Bragança).
Enfim, vamos encontrando, pensando, deduzindo, e (re) organizando ideias (por vezes novas...). Dá imenso gozo!
Só que, frequentemente também nos questionamos, relativamente a algumas das imagens que nos chegam. É o que se passa com o desenho seguinte, de uma construção inicial que foi feita por Daniel Guildemeester, e inaugurada em 25.07.1787.
Actualmente temos mesmo muito poucas dúvidas, quanto à existência prévia de um Arco Quebrado, tanto mais que se tratou da residência de um holandês. Depois, o português que comprou a casa - o Marquês de Marialva - seguindo uma regra não escrita, mas que considerava o factor conveniência, teve que mudar o referido arco quebrado, para arco de volta inteira: é o que agora está lá.
Arco que, naturalmente todos achamos lindo, sem se saber que pode ter sido uma segunda escolha, e uma reformulação do primeiro?
Mas fica ainda a imagem do Guia (cujo titulo é enorme e resumimos) Portugal: or The Young Travellers ... que está na p. 132 desse livrinho «quase milagroso»...
Imagem que nos incomoda, quando se percebe que, é bem possível, terá sido estreitada - é uma pergunta - para caber na largura das páginas do dito livrinho?
Uma representação que, no desenho geral estará certa (?), porém, errada nas proporções. O que, com as tecnologias actuais se torna facílimo corrigir.
E foi o que fizemos:
(ampliar)
(ampliar)
Quem achar que esta operação é uma grande «batota», pode dizer já, visto que, talvez tenha toda a razão ?
Pela nossa parte, a ideia é que ainda poderia ter sido mais esticado (longitudinalmente, nos dois volumes laterais). Aproximando-se daquilo que ainda se pode ver no local...
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(*) Sobretudo não tem sido vista a sua relação - quase directa - com as opções religiosas e as políticas feitas (relacionadas com essas mesmas religiões); pelo menos no território europeu, pelos diferentes países/nações. E portanto menos ainda, muito claramente, o que depois chegou aos novos países, de outros continentes: as ex-colónias de algumas das nações europeias. Concretamente aos EUA.
O protestantismo, na Europa, está ligado mais aos países do Norte, onde a Reforma luterana mais se fez sentir; e onde também há (hoje ainda se verifica isto, com grande clareza) um predomínio da Arquitectura Gothic Revival. Diferentemente, os países da Contra-reforma, romana, são os que negando as opções de Lutero, e dos seus seguidores, preferiram retomar a primeira Arquitectura Cristã. Que foi a dos imperadores romanos, a começar por Constantino Magno, e seus «descendentes». A Arquitectura que em geral é hoje conhecida, como Renascentista, Maneirista etc., etc. Claro que este devia ser um assunto para as Universidades estudarem, e não para blogs e Facebook - como estamos a fazer -, no estado de atraso científico em que estes temas ainda agora se encontram...
(**) Segundo a Google Books - ver aqui - a palavra Seteais está 11 vezes no nosso livro.(por exemplo, nas pp. 74 e 98). Relacionado com as investigações dos nobres e milionários ingleses que por aqui andavam (no século XVIII, também relacionado com a construção das arcarias do Aqueduto, no Vale de Alcântara) «à procura» de Arcos quebrados...