Já há dias se apresentou esta página de um livro de J.-A. França. Mas agora os sublinhados mostram que o assunto do post de hoje são os telhados altos:
Ramalho escreveu sobre um "Horto Psiquiátrico" instalado nos Estoris; "Chinfrim" que como ele próprio pôde ver se espalhou, de Cascais em direcção a Lisboa. Num processo que - leiam acima - "de linguagem culta passou a linguagem corrente"...
É verdade que não sabemos muito bem - nem fomos mais longe para indagar -, onde acaba a descrição de Ramalho Ortigão e começa a de J.-A. França. A simbiose parece perfeita, e assim, melhor ou pior (?) aceitamo-la*.
Até porque no texto acima, no parágrafo que começa em "Os «chalets» anglo-suíços marcaram..." pode parecer um diálogo em que também esteve presente A.W.N. Pugin. Com Pugin - o arquitecto, a lembrar o problema do peso da neve e do gelo (e já há dias se adiantou esta questão**) sobre as estruturas construídas. De uma página sua, aqui fica a prova com uma pergunta:
Dada a importância do que escreveu, e como esses seus escritos contrubuíram (talvez mais do que a obra realizada?) para mudar a arquitectura; será que foi ele o primeiro a introduzir a ideia de que os telhados altos eram para a neve poder escorregar?
Pois, seja como for (não sabemos?), mas quando se lêem alguns excertos do Libellus formatione arche de Hugo de S. Victor, por essa obra conclui-se da importância da Arca de Noé para a imagem da igreja (e da arquitectura) gótica. Mas, primeiramente, porque foi essa a ordem, para a igreja tardo-românica (ou proto-gótica), e depois para a igreja gótica.
Enfim, e concluindo, quando se fazem essas leituras e nos apercebemos dos muitos questionamentos (tão erróneos) em torno das "origens do estilo gótico"; então, esta justificação da forma íngreme dos telhados - de serem assim por causa da neve -, francamente, «não cola»!
E mesmo que vinda do consideradíssimo A.W.N. Pugin, não deixa de ser para nós (como aliás já se escreveu) - uma "boutade arquitectónica".
Mais: vale a pena ler o original, e indo assim direitos ao assunto - no Livro do Génesis. E neste ler a descrição dos preparativos de Noé, que devia construir uma arca como Deus lhe disse***.
~~~~~~~~~~~~
*Lamentando que não tenham conhecido (ou pelo menos referido...) a ideia Enciclopédica que existiu e se fez em Kew Gardens? Pois talvez vissem melhor - com «mais bondade» - a colecção arquitectónica que existe no Concelho de Cascais. Talvez a precisar de roteiro turístico, exactamente com esse espírito. Mas, lá estamos nós a dar ideias...
**Como podem verificar já se aludiu ao assunto mais do que uma vez:
http://primaluce.blogs.sapo.pt/tecnicas-laboratoriais-ao-servico-de-396759
http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/ainda-em-torno-da-obra-de-hugo-de-s-44496
***Como é sabido, a monarquia e a nobreza sempre consideraram que o seu poder (e autoridade), são de origem divina. E alguns também sabem que uma das preocupações dos arquitectos oitocentistas, face às variedades arquitectónicas que então passaram a existir; nesse século XIX continuou a haver - ainda antes da preocupação com a funcionalidade -, uma preocupação com a conveniência.
Portanto, fosse em Cascais ou Sintra (cuja arquitectura dita "de veraneio" está repleta de telhados altos), ou em qualquer outro ponto - e o mesmo na maioria dos países ocidentais; os arquitectos e os construtores questionaram-se sempre sobre qual deveria ser o estilo, e as formas mais convenientes para marcar/distiguir casa do rei, e as dos nobres que o companhavam? Como vemos (por aqui, hoje), a resposta predominante encontraram-na nos telhados altos das igrejas e catedrais...