Ou seja, uns dias depois do "Rewarding Disobedience", e tendo nas mãos mais um álbum dedicado a Monserrate - que nos lembra os vários álbuns que foram feitos no meio-fim do século XX (enquanto lá em Sintra o edifício se ia desfazendo...). Por aqui vamos vendo, cada vez melhor, o que os desenhos e as imagens sempre ensinam*:
"Drawings that were (& still are) a reward"
E decidimos brincar com elas. Que é como quem diz, vê-las ainda melhor, estabelecendo métricas e marcas (o traço verde) para ajudar na comparação dos desenhos.
Acima imagem vinda da versão francesa do trabalho de Owen Jones - arquitecto e decorador inglês (na actualidade seria o verdadeiro designer) que reuniu ornamentos dos principais monumentos da Europas Ocidental, mais especificamente, daqueles que eram visitados no Grand Tour. Imagem (vinda da versão francesa La Grammaire de l'Ornement, ed. L'Aventurine, com os textos da tradução de 1865) que parece estar na origem do desenho que foi aplicado em grandes áreas do Palácio de Sintra.
Abaixo a imagem das paredes de Monserrate (fotografada em 1987 e passada agora a desenho) deixando para os leitores a curiosidade de procurarem as diferenças e as semelhanças**.
Por fim, e apesar de se saber que Owen Jones fez este trabalho aproveitando os conhecimentos que vinha a adquirir, entusiasmado com as possibilidades da cromolitografia (que então estava a nascer). Na verdade, e apesar desse seu interesse - mais técnico - por um processo de reprodução que permitia imprimir a cores, é forçoso destacar que este trabalho de Owen Jones é também de uma enorme qualidade literária (histórica e informativa***):
Assim, na Grammar of Ornament encontram-se óptimas informações que completam outras - em geral mais conhecidas, ou mais acessíveis, vindas de autores mais recentes, e da bibliografia contemporânea (mas não tão rigorosa). Como são exemplo as dos Dicionários de Símbolos, ou de trabalhos valiosíssimos, como é o caso do Dictionnaire Critique D'Iconographie Occidentale
Por isso a escolha do excerto acima (de Owen Jones), relativo às imagens que designa "Mauresques". Como se pode ler é incrivelmente preciso e informativo, fazendo lembrar o que vemos (e lemos) em sinais tão diferentes, mas que são igualmente, muito falantes. Ou seja, nos sinais nascidos no contexto da Arte Cristã, e que se destinavam a exprimir ideias do cristianismo.
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*Isto é, há (ou devia haver, e praticar-se) um carácter muito mais experimental adequado para a investigação em artes visuais. Já que, sempre que se põe a mão num qualquer desenho, pode receber-se em troca «um dilúvio de informação»!
**Não me esquecendo nunca da Visita Guiada a Monserrate, da RTP, e da grande lata da Maria João Neto a dizer que tinha sido facílimo encontrar nos desenhos de Owen Jones os padrões do Alhambra que foram transpostos para os estuques de Monserrate. Percebe-se! Ela lá sabe (aliás melhor que todos!), como plagiar é mesmo facílimo...
***Porque, lá atrás (no tempo), mais perto dos acontecimentos, há autores que transmitem informações muitíssimo mais completas. Bem diferente daquilo que hoje os nossos contemporâneos, andam tão longe de (as) perceber, quanto mais consegui-las nas investigações que fazem. Passa-lhes ao lado...