E faz sentido lembrar uma fotografia que fiz há dias, num local onde era proibido fotografar
Neste Menino Jesus com um Espinho no pé, naturalmente uma das surpresas que têm os que conhecem a história de Jesus Cristo, é o facto de se adiantar, de maneira alegórica, o seu futuro, e o modo como morreu:
Coroado como Rei dos Judeus, recebeu uma Coroa de Espinhos sobre a cabeça.
Ora, para além das imagens, que mental e automaticamente formamos, face à leitura dos textos, há também toda a imagética que a Igreja ao longo dos séculos foi elaborando. Como sabemos são terríveis, assustadoras, e muito dolorosas todas essas representações. Sendo em geral Imagens que todos preferíamos não ver, nunca ter visto, imaginado ou sonhado...
Mas se do ponto de vista imediato e afectivo, são tão tocantes (quanto chocantes); já do ponto de vista da catequese da Igreja, e da Justificação/Redenção que é supostamente «conquistada» na vida terrena. Durante este nosso percurso, a que muitos se mantêm (ou tentam manter) alheados, há por outro lado outros, que se preocupam em ser e estar conscientes, do lado mais espiritual das suas vidas...
É nesta perspectiva que vemos - parece-nos, e interrogamo-nos (mas definitivamente interpretamos a Imagem assim) - o Espinho no Pé de um Menino, que, agora até nos esquecemos que é Jesus, mas sem dúvida uma criança que parece estar a sofrer:
Surpreendido. Mas tendo em simultâneo uma dor inesperada, a qual terá pensado (?), como qualquer um e sobretudo as crianças, como uma dor muito injusta. Por não a merecer...
Há uma imensa humanidade nesta Imagem, que, por esta lógica, como a interpretamos, ganha logo em beleza. Mas..., temos por fim que acrescentar uma nota ao que não é um detalhe. Isto é, será hoje um detalhe mínimo, porque em geral não temos informação religiosa, mas não o foi no passado. Sobretudo para quem idealizava e concebia (o clero) a maioria das obras:
O Espinho é um Y. A letra que se pode ler de duas maneiras:
No alfabeto foi uma das formas de escrever Jesus; formalmente é uma bifurcação (como se pode ver nas estradas).
Seja a direito ou invertido, é o sinal gráfico que reúne o 1 e o 2. O entroncamento, ou a separação. Enfim, foi um dos sinais mais usados na arquitectura*, mas também na pintura e em geral em todas as obras de Arte Religiosa, tantas vezes (ou a maioria das vezes!?) para traduzir a ideia do Filioque**.
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*Como já deixámos (desde 2004, está escrito) no nosso trabalho dedicado a Monserrate.
**Particularmente num caso que nunca registámos (por escrito) mas que é absolutamente fascinante, e fantástico, pela forma como pelo emprego do Y associa directamente Carlos Magno à imposição que fez à Igreja Católica relativamente ao uso da partícula que é o Filioque. Referimo-nos à Carolingian gatehouse of Lorsch Abbey, e nesta obra particularmente à imagem da fachada. Ver aqui, já que se trata de um modo de proceder (ou de desenhar a Arquitectura) que durou séculos.
Ou seja, exemplo de como um simples IDEOGRAMA, em geral se associava às janelas e às portas dando-lhes forma, ou enquadrando-as. Muitas vezes estruturando-as (como se encontra explicado por uma frase de S. Paulo que Mary Carruthers citou).