Para quem como nós tem andado de volta das "Origens do Gótico" ** e vê no Românico - inteirinho -, o preâmbulo do Gótico;
Naturalmente este assunto interessa-nos. Mas interessa, muito em especial - e há que o dizer -, numa outra perspectiva
Face às opções contemporâneas da arquitectura, em que os estilos, se é que existem, não têm (nem têm que ter, como nos parece...) nenhuma designação. Pois a taxonomia cientifica, e oitocentista - de raízes bem antigas - já não faz parte das mentalidades de hoje. Podemos dizer talvez, que não é agora uma necessidade absoluta, para o pensamento? Melhor dizendo, para a mente poder, e ser ajudada a pensar, a partir de títulos de caixa-alta.
Não precisamos de designações, perguntamos nós daqui, e isso é porque já nos estamos a habituar a grandes transversalidades, temáticas e disciplinares? Não precisamos de um grande título, que defina «a caixinha», onde - neste caso - haveríamos de colocar, classificando-a, um certo tipo de arquitectura?
Em inglês, esta ideia de permanentemente classificar, pode ser expressa por um verbo que nos diverte bastante: é o "pigeon hole"***
Mas agora, e para o que nos preocupa, em vez da arquitectura tentar ser expressão de ideias teológicas (como em geral aconteceu no passado); na actualidade a arquitectura tem que se preocupar, com questões de sustentabilidade e emergência climática. Numa palavra: em melhorar a Terra:
Sim, em melhorar este nosso planeta, que temos habitado "a troche y moche", como se não houvesse amanhã...
Terra em que procuramos não só protecção contra os elementos climáticos - cada vez mais extremados; mas em que a habitabilidade não é só sinónimo de segurança, e é muito pautada (talvez mais do que nunca) por padrões de conforto. Mais:
Quem não os quer, quem não exige esse conforto?
Assim, atente-se na solução para a ampliação do Centro de Interpretação do Românico, que parece ser (ou se aproxima?) da ideia de uma edificação semi-enterrada; o que é, como julgamos (apesar dos poucos dados), uma óptima ideia.
Deste modo dando sequência a opções muito mais antigas, como são as «grutas» dos chamados trogloditas da Capadócia (Turquia). Ainda a um outro tipo de casas, visível próximo de Granada - em Guadix - as chamadas casas-cueva. E por fim materializando o que alguns estudos contemporâneos têm proposto. Conceitos que, há décadas, vêm a fazer o seu caminho, em especial a partir dos EUA.
Razão para se perguntar, face ao novo Centro de Interpretação do Românico, ou à sua ampliação (imagem abaixo), se esta nova tendência... estará já agora mais disseminada?
Chegará a Portugal com mais exemplos? E a ideia inicial, ou a razão (conceptual) porque surge, é já reactiva? Com o propósito de começarmos uma nova fase de acção relativa ao crescer das alterações climáticas? Ou será que aparece apenas como uma moda, e apenas como um estilo que se quer implantar? A fazer-nos lembrar o MAAT, à beira-Tejo (im)plantado?
*Porque o tempo passa, depressa ou devagar, o certo é que um dia se nota, claramente, que tudo avançou. E nessa clareza pode estar a percepção, talvez lúcida (muito verosímil), daquilo que se terá passado.
**Com êxito e por isso com respostas às questões colocadas (não esquecer que uma investigação é pôr questões); questões incrivelmente paradoxais, que é impossível não surpreenderem todos: e a nós inclusivamente, como já deixámos uma boa parte em Monserrate uma Nova História, Livros Horizonte, Lisboa 2008.
*** O que usou Marianne Barrucand em Moorish Architecture in Andalusia, quando escreveu: “One could spend hours discussing the most appropriate way to pigeon-hole this architecture in some classificatory scheme..." Ver em Moorish Architecture in Andalusia por Marianne BARRUCAND e Achim BEDNORZ. Edição Taschen, 1992.