Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Jan 23
publicado por primaluce, às 14:00link do post | comentar

Não sei se sabem, mas a casa de Monserrate (em Sintra) teve duas versões?

 

A primeira (a que passei a chamar, e ao contrário do que vem nos livros) Gothic Survival - como o Aqueduto das Águas Livres o foi - e que tinha sido construída por Gérard De Visme, ainda no século XVIII. 

E a segunda versão, projectada a partir de Londres, entre1856-58, por James Thomas Knowles; num atelier (familiar) que foi dos dois arquitectos, que eram pai e filho, com o mesmo nome.

Se, numa analogia, aplicarmos à casa de Monserrate a evolução da "Querelle des Anciens et des Modernes", como foi resumida pela frase de Mark Gelernter (e que hoje está no nosso título), Monserrate-I foi a versão racional, que subjaz, e portanto está agora invisível, dentro das paredes de Monserrate-II, a sensual

E nesta última versão (do século XIX), na casa que é muito mais exuberante, em geral já ninguém viu, ou destacou, alguma racionalidade. Pois nem sequer os (nossos) historiadores reclamam ou reclamaram, que houvesse réstias da tradição cristã (como Serlio preconizou) e/ou protestante...

Em geral apenas vêem um Gothic Revival, considerado frívolo (embora funcional): i. e., victorian, porque upstairs e downstairs, funcionaram - e assim se viveu nesses interiores - com estatutos sociais completamente diferentes (ora dos patrões ora dos empregados).

Mas enfim, dizemos nós, uma Casa onde na verdade se verifica, que a dita "sensual tendency" - na evolução artística que existiu -, ganhou ao racional.

No excerto seguinte, recolhido do nosso trabalho, escrito desde 2004 [1] , percebe-se o motivo que nos obrigou a compreender - em linhas muito gerais - a "Querelle des Anciens et des Modernes". E como a mesma pode ser essencial para uma melhor compreensão do desenvolvimento, e dos caminhos que foram feitos posteriormente (num movimento de laicização crescente) da História da Arquitectura:

No campo artístico, do ponto de vista teórico, o final do século XVII fora dominado por uma querela, começada (em 1671) nas Academias Francesas. Tinha por objectivo validar um modelo de pintura, em detrimento do outro. Foi chamada Querelle des Anciens et des Modernes. De um lado estavam os antigos, em torno de Poussin e de uma pintura em que a definição clara de limites e contorno eram prioritários; também de ideias como as de ordem e as regras clássicas. Do outro lado estavam os modernos, tendo Rubens como paradigma; a sua pintura mais livre, explorava a cor e a mancha indefinida. Para Mark Gelernter terminou “...with the sensual tendency winning over out the rational…”.

(…)

Como mostrou Raymond Bayer na sua História da Estética, “Fréard de Chambray (1606-1676) sustenta a mesma doutrina no Parallèle de l’architecture ancienne avec la moderne (1650)...”. Apesar destas querelas - e de uma vitória do Romantismo que ía acontecer mais tarde - o século XVII ficou conhecido como o século do Racionalismo, que a Arquitectura Barroca (primeiro em Roma, depois em Paris e finalmente) em Londres, tão bem exprime, na sua apologia que é a Catedral de São Paulo; obra concebida por Christopher Wren. Segundo Marcel Brion, essa perfeição racional (e modelos inspiradores), encontrou-a Christopher Wren principalmente no Barroco Francês:

“...Telle qu’elle a été exécutée, la coupole de Saint-Paul est une sorte de compromis entre le Classicisme et le Baroque, la coupole de Michel-Ange et le Dôme de Mansart à Saint-Louis des Invalides; l’ecletisme de la formation de Wren se reflète dans les oeuvres écletiques, mais d’une remarquable unité...”.

P1010196-b.jpg

[1] Ver em Monserrate uma nova História, Livros Horizonte, Lisboa 2008, pp. 22 e 23.

O que não podem ver no livro sobre Monserrate, é a evolução que ainda teve a nossa «aguarela digitalizada»: numa necessidade que se sentia de definir melhor os contornos do desenho. Assim como a fotografia acima, com a cúpula de S. Paulo desenhada por Christopher Wren.

Image0133-b.jpg

(ampliando)

Não esquecendo que há anos começámos a coleccionar imagens dos neogóticos cascalenses.

Tarefa que merece continuidade...


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