Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Jul 19
publicado por primaluce, às 13:00link do post | comentar

No nosso estudo dedicado a Monserrate, várias vezes nos apercebemos da importância da Heráldica, e escrevemos sobre isso*.


Por nos parecer verdadeiramente necessário introduzir este tema, ou «cruzar» com ele vários elementos visuais, para se poderem entender muitas das formas (ditas abstractas - mas que afinal eram convenções e portanto eram formas legíveis, que falavam...).
Em suma, para se compreenderem as formas (ou o vocabulário formal) integrantes do que vemos como arquitectura antiga e tradicional.
Assim, e repescando (de 2001) o mote da orientadora dos estudos que dedicámos a Monserrate, quando nos disse:
Não poderá perceber Monserrate se não perceber os círculos entrecruzados que estiveram nas origens do Gótico…”. Agora, e abrindo ainda mais toda esta questão, somos nós a ter de dizer (e a corrigir) aos historiadores:
Não poderão perceber a arquitectura antiga e tradicional, se não compreenderem a interligação que existiu numa série de conhecimentos que hoje estão cada vez mais disseminados!” **

Mais: o livro que agora nos chegou às mãos de Miguel Metelo de Seixas (edição da FFMS, ver capa abaixo), e sobretudo a Visita Guiada da RTP2 ao Palácio da Vila de Sintra, têm a enorme vantagem de nos darem razão: Descrevendo e explicando algumas das Salas, consideradas as mais bonitas desse Palácio, como o resultado de um Programa. Mas não exactamente de um  Programa Estético (como aprendemos com Vítor Serrão na FLUL) e sim de um Programa Heráldico ***.

Reparem como, se estes espaços hoje nos deslumbram - e não sabemos da “tradução” (como refere Paula M. Pinheiro na Visita Guiada ao Palácio de Sintra) de muitas das ideias, ou dos conceitos que estiveram na sua génese. Se hoje todos nós, e vendo apenas superficialmente, ou «pela rama» …, nos deslumbramos: o que não seria no passado? O que não deveriam estes espaços representar, para os mais entendidos? Quando ainda não se tinham perdido os elos significantes, e as correspondências, que, sabemos, que existiram entre todos estes elementos?
[E já agora este parêntesis, sabemos porque os lemos, tendo já escrito sobre eles como aqui podem confirmar].

Porém, de este novo sobressalto (muito bom!) – que é para nós o livro e a linguagem empregue por Miguel Metelo de Seixas – falando por exemplo em sinais visuais e não em símbolos; deste seu contributo que agora recebemos (pois um livro é sempre isso), chega-nos também a certeza de que estamos num caminho completamente certo, para dever prosseguir na divulgação daquilo a que já chegámos.

Por isso, continuo a escrevê-lo, e a explicar as razões para tanto entusiasmo:
É que apesar de William Morris ter escrito que muitas das “…formas (ditas decorativas) tiveram significados sérios: vindos do culto e de crenças,…”, o ensino que posteriormente é feito, influenciado por aquilo que foi em Inglaterra a figura do Architect Amateur, no século XX, quando estudámos e nos licenciámos, já nada disto era perceptível.

E é toda esta «distorção», de um caminho que se iniciou, como supomos, com ARQUI a significar principal, e TECTURA a significar construção, que nos fascina. O como chega ao hoje:

Não apenas alterado no sentido, mas super-variado e incrivelmente enriquecido... por sucessivos esquecimentos e ainda mais incompreensões!

quinas-e-castelos.jpg

* Por exemplo, sobre o Pátio da Casa que foi de Gérard De Visme em Benfica, lá está a referência que se fez à Heráldica:

O Pátio de Entrada revestido com uma calçada tradicional portuguesa – de vidraço preto e branco - apresenta um desenho muito interessante, e original. Depois do que estudámos sobre a época medieval, passou a ter para nós enorme valor. Porque o que se julga, tratar-se aparentemente de um “arranjo floral”, é muito mais do que isso; tem elementos que foram segundo pensamos, relevantes em Heráldica, transformados em folhas (ou flores). Estas são mandorlas, brancas com círculos pretos no interior; o que é provavelmente, uma elaboração, com base nas Armas Antigas de Portugal. Dentro das mandorlas, os círculos pequenos, seriam besantes, a moeda com que Afonso Henriques “pagou” o reconhecimento do título real ao Papado. Se os jardins que Devisme mandou fazer foram precursores, este pátio é revelador do seu gosto e cultura. São aspectos de relevo na personalidade de um encomendante, mas que nos levam também a questionar quem pode ter sido o autor, deste magnífico desenho de pavimento…”. Ver pp. 177-178.

**I. e., - e descrevendo o que se passa na realidade das universidades – conhecimentos separados em designadas (eufemisticamente) por Áreas Científicas. Áreas que também são delimitadas por verdadeiras barreiras, «de arame farpado», a mando da cultura de Ciência e Investigação que a Agência A3ES estipulou, e assim - como barreiras intransponíveis -, as mantém milimetricamente, separadas. Em vez de se reconhecer que sem Geometria, Teologia, Filosofia, Neurociências, Heráldica… nem sequer vale a pena andar a investigar.
***Achamos que é precisa uma designação, e acabámos de usar esta - Programa Heráldico. Será a mais certa? Mas sem nos esquecermos que em tantas outras ocasiões temos empregue, e continuaremos a empregar, a designação ICONOTEOLOGIA. Como refere Miguel Metelo de Seixas (e neste caso estamos a pensar  no livro recém-publicado), são vários os elementos cristológicos, adoptados e presentes na Heráldica
Enfim, o Ensino Superior, os Centros de Investigação, servem para os investigadores não estarem sós (ou entregues às redes sociais...); encontrando nesses centros os parceiros que, compreendendo as investigações de uns e de outros, vão trabalhando colegialmente para resultados úteis à Ciência, e por isso também a cada país que a produz. 

Por cá, vê-se o que acontece!


17
Jan 16
publicado por primaluce, às 00:00link do post | comentar

Arquitectura, Artes Decorativas, Design.

 

Quando é que a Arquitectura, ou as designadas «Artes Decorativas», que tantas vezes a complementam, não como equipamento e mobiliário solto, mas como elementos integrados e plasmados (built in - dizem os ingleses) na construção; quando é que esses elementos se soltaram e ganharam autonomia?

Mas, tentando mais clareza, pode-se pôr a questão de outra maneira: foi a Arquitectura que influenciou essas «Artes Menores», ou ao contrário, foram essas Artes como «objectos soltos» que passaram a influenciar a Arquitectura?

Esta é sim uma eterna questão, porque vem de muito longe.

Em nossa opinião, como nos exemplos que estão abaixo (um tecto, trabalho naturalista de Domingos Meira, e duas peças de loiça da Fábrica Bordalo Pinheiro) os estuques decorativos - plasmados na construção - um dia autonomizaram-se e ganharam um estatuto próprio, passando a objectos; se bem que quase contemporâneos dessas edificações, mas independentes delas.

No entanto, esse processo - das formas arquitectónicas influenciarem (aparentemente) os cenários extra-construção e os objectos que os formam, tal processo vinha já de trás; e dizemos que vinha de há um ou dois milénios antes, a ideia de que a Decoração (ler a explicação de 'Décor' dada por M. J. Maciel) era uma ênfase, concomitante com a ideia de adequação e conveniência, do vocabulário que também já estava na Arquitectura.

Assim, dizemos que só nesse sentido enfático (indo à Etimologia e ao vernáculo), é que faz sentido usar a designação Artes Decorativas. Ou, tentando exprimir melhor: as formas - e em geral estamos a referir as geométricas e as que são consideradas abstractas - constituíram uma linguagem: verdadeira linguagem que era disposta (ou composta e aglutinada, feita imagens e novos sintagmas visuais*) e que desse modo se distribuía por diferentes superfícies da construção, em sucessivas e repetidas afirmações, quase sempre, das mesmíssimas ideias.

Que eram a afirmação da Fé na Trindade Divina. Ou, que poderíamos também dizer, essas formas e as suas combinações (mais ou menos sintagmáticas, ou, com o tempo e depois de estabilizadas e aceites apenas paradigmáticas**) eram uma das muitas possíveis proclamações visuais do "Credo in unum Deum...: habitualmente mais conhecido como Símbolo de Niceia-Constantinopla.

Nesta nossa opinião (e imensas explicações inerentes, que são necessárias) está aqui muita informação, não destrinçada como hoje se tornou regra essencial fazer. Porém, não a fazendo pela imensidão do tema e falta de espaço, seria a partir dela, que mais uma vez insistiríamos em sucessivas e muitas outras explicações (e desdobramentos de ideias) que assim permitem compreender o passado e as evoluções que a Arte fez.

Não terminando ainda, lembra-se a capa de um livro de Gombrich que explica um pouco as Artes Decorativas, como as compreendeu, e como em geral (em nossa opinião) funcionaram quer no século XIX, quer durante o século XX. No entanto, e apesar do muito que em geral todos devemos a este autor, para a compreensão da Arte mais antiga, por isso mesmo não podemos estar de acordo com o sentido que viu nessas Artes Decorativas, e o referiu no dito livro.

Insiste-se, - sejam ou não primeiras luzes nesta temática? - o que hoje alguns chamam e vêem como Artes Decorativas, inicialmente foi uma língua: cujos vocábulos mudavam de escala, deixando de ser arco, ou suporte da construção para serem algo comparável a vários (ou um único) post-it.

Qual alfiz adjectivador (o dito post-it) colocado sobre uma porta, que assim indicava quem passasse sob essa mesma porta. Ou, qual tímpano de Arco Quebrado, ou as bandeiras (no século XVIII em forma de leque - fan door) e as vergas de portas, como as explicou já no século V-VI, o Pseudo-Dionísio, o Areopagita***.

A terminar, sabemos que hoje (cada vez mais) todos separam tudo, e que assim perderam a noção da história de muitos elementos estilísticos. E neste caso também a passagem para o Design, porque já o é, de peças que se inspiram nas formas colocadas (inscritas, moldadas) na arquitectura. Ou, indo mais longe, que aproveitaram para a moldagem do caulino, as mesmas técnicas que foram usadas (ou estavam ainda a ser desenvolvidas)  na moldagem do gesso.

Claro que este post é dedicado aos nossos orientadores de estudos pós-graduados, e também às instituições onde estão e se faz essa investigação (mestrados e doutoramentos) relativa à história dos estudos artísticos e à «formação» das chamadas escolas industriais. Aqui, pelo link, ler o que está na p. 27, e também as várias disciplinas que eram leccionadas, para se confirmar como na actualidade foram banidos conhecimentos que são essenciais, de cultura geral: Mas essa é já uma mensagem para outros, que não sabem qual é o papel do design, que em português se traduz (simplesmente) por projecto.

tecto-DomingosMeira2.jpg

FábricaBordaloPinheiro.jpg

FábricaBordaloPinheiro-detalhe.jpg

*Nos casos das obras mais criativas

**De quem teve que estudar e «tentar compreender» Semiologia nos longínquos anos de 1973-74

***Uma das melhores provas de que se faziam correspondências linguísticas ou de ideias (e assim atribuíam significados), às formas que se colocavam nas edificações. Num excerto que não nos cansaremos nunca de apresentar:

Porque é prova imbatível, contra todos os argumentos bacocos que ainda habitam várias instituições de Ensino Superior

A imensa prova de que no passado se acreditava na perspicácia da mente humana, coisa em que hoje a maioria não acredita: o que não deve admirar!


01
Ago 13
publicado por primaluce, às 11:00link do post | comentar

"Você vê coisas que ninguém vê"!

A acusação feita em tom grave, é, no entanto, um dos maiores elogios que alguma vez nos fizeram*.

 

Claro que o problema não está no que nós vemos/compreendemos, como surgiu na frase e no seu tom acusatório, vindo de alguém que estava muito incomodado.

Essa acusação - de quem nos acompanhou no mestrado - foi basto reveladora: um lapsus linguae, verdadeiramente anedótico. Frase que, desde então, nos tem feito querer ensinar..., a ver!

A ver, sim, claro! Pois contra a cegueira alheia contida na referida asserção/acusação, o máximo que podemos e queremos continuar a fazer é a ensinar! Embora se compreenda que aquilo que tendemos a ensinar é como nadar contra a maré! 

É almejar a recuperação de um Ensino que seja útil ao progresso dos indivíduos e da sociedade (e não apenas, directamente, hiper-lucrativo para aqueles que o fazem...) 

É querer ter mentes capazes, pensantes e críticas, e não autómatos acríticos! 

Todos os Entrelaçados incluídos nas obras - e não foram poucos, desde os séculos III-IV d. C. - eram altamente significantes, embora detalhes mínimos. Nos quais poucos têm reparado ou sequer têm reconhecido a «respectiva simbologia»**.  

~~~~~~~~

*Começando por se relacionar com vários detalhes mínimos, porém altamente significantes, de que nos apercebemos (logo em 2002):

http://www.youtube.com/watch?v=xT1rn2FlsIo&feature=player_embedded

**À excepção de Mircea Eliade, ou ainda de Henri-Irinée Marrou. O valor dos Entrelaçados (expresso por imagens), era coerente com a fé cristã, pretendendo-se, pela leitura - ou de um modo «algo mnemotécnico» - reforçar o articulado, textual e escrito, do Símbolo da Fé.

http://primaluce.blogs.sapo.pt/22940.html


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