O inconsciente colectivo, dentro de todos (e de cada um) que em português se quer calar, mas que em inglês fala (com mais liberdade e até tem nome): são os designados "faith-based styles"
Pela nossa parte ainda não desistimos de provar como vale a pena conhecer o funcionamento da Arte, e como se geraram muitas das imagens que hoje estão nas cidades, consideradas apenas como meros elementos decorativos, sem qualquer significado...
Se no texto seguinte o entrevistado - Tiago Cavaco - se refere a "carcaças" que foram antigas igrejas: edifícios inteiros a que agora se dão outros usos, e podemos lembrar o Museu do Banco de Portugal, instalado numa igreja antiga (ao lado do edifício dos Paços do Concelho em Lisboa), é também importante lembrar que as cidades europeias, todas, estão, ainda, e felizmente, repletas de "motivos" ditos decorativos (vindos dos "faith-based styles").
“Ao andarmos pelas cidades muitas vezes deparamo-nos com aquilo a que alguns chamam "as carcaças de cristandade", igrejas abandonadas ou feitas outras coisas. Em alguns lugares na Europa são bancos, são lugares turísticos.” (...)
E esta geração, se por um lado se pode tornar indiferente, por outro há nela quem reaja e tente perceber o que é isto e que carcaças são estas, o que é que elas significam..."*1
Referimo-nos a inúmeras «peças» que são bem menores do que os edifícios e as referidas igrejas, e que eram motivos (como lhes chamou Robert Smith) de ordem mnemónica, ou da memória. Isto é, eram formas e desenhos que dentro das igrejas eram para contemplar*2, mas que não se restringiram a esses espaços.
Motivos que vemos - pois são os mesmos - que também «saltaram» para as JANELAS; que eram muitas vezes sinónimas da Luz (e) de Deus (como acontece com os vãos que foram modelo para os do Palácio de Monserrate). Ou para as grades das VARANDAS, e ainda, por exemplo, no interior das mais belas salas, esses motivos passaram igualmente para os TECTOS.
Como aliás se podem ver, no Palácio de Belém (na foto seguinte, vinda do Museu da Presidência).
Tectos que alguns - sendo em madeira - são chamados de MASSEIRA, ou TAMPA DE CAIXÃO*3.
No caso (seguinte) são em estuque, e o que parecem ser as bordaduras de um jardim, esse foi o modo (ou como um «truque») de introduzir no tecto uma forma considerada falante - simbólica -, ou seja sinal de Deus, no cristianismo.
E portanto também - nas imensas polissemias da arte cristã - imagem que foi indicadora da condição (nobre) do dono da casa.
* - Post dedicado àquele Reitor Pro(fessional...... da destruição da diversidade e da riqueza científica, interdisciplinar). Sem ironia, claro, falamos de um «homem cultíssimo» que achou que com um estalar de dedos matava as religiões e as suas obras, que, inconscientemente, estão dentro de todos! Note-se ainda que o advérbio de modo - inconscientemente - significa, tal e qual o que se passa e ele mesmo pratica: Sem Ciência nenhuma! Aliás, para que serve a Ciência, se na sua cabeça as Religiões estão "fora de moda"? Se são Carcaças que nos atemorizam e perseguem, em bibliografia 'best seller', que vende bem graças à avidez dos leitores, "e a uma sede de compreensão que normalmente já ninguém tem!" Como pensa (se é que pensa?) o dito Pro Reitor de uma grande casa das artes...
*1 - Excerto. Ler a entrevista em: http://rr.sapo.pt/noticia/111964/tiago-cavaco-a-palavra-de-deus-nao-esta-escrita-para-nos-acomodar
*2 - A contemplatio de que escreveu Mary Carruthers autora deThe Craft of Thought: Meditation, Rhetoric and the Making of Images, 400-1200. Pelo que se aconselha (link anterior) a leitura da 1ª página de um artigo dedicado a esta sua obra. Aqui fica essa página com sublinhados nossos:
Ou ainda, na análise de Barbara Obrist, em JSTOR
*3 - No que se considera ter sido uma enorme «derivação», com sucessivas percas de sentido...
Vistos do exterior, os volumes que lhes correspondem são chamados "Telhados de Tesouro", mas na verdade correspondem também ao altear dos tectos dos espaços por razões/motivos que eram sinalizadores da nobreza dos respectivos proprietários. Só que tudo isto, muito, e muito longínquo no tempo, ainda deriva da Arca de Noé, e como é descrita no Livro do Génesis.
Enfim, são conhecimentos incrivelmente inovadores e tão inesperados a que chegámos, mas que várias Universidades de Lisboa do mais alto gabarito continuam a silenciar e a anular... Pois para estes só o país de picuinhas que inventou o "Design" é que também se deu ao luxo de inventar uns "faith-based styles".
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E agora, com republicação no facebook, claramente preferimos dizer RÉGIOS, em vez de regalistas, realengos, ou régaliens; como tantas vezes se optou pela designação em francês. Embora esta palavra (uma adjectivação) esteja muito bem explicada na Internet:
"Se dit d'un droit attaché à la royauté, ou qui, en république, manifeste une survivance des anciennes prérogatives royales. (Le droit de grâce du président de la République, en France, est un droit régalien.)"