Há uma separata do JA (Out., Nov. e Dez. 2010) - Viva a República - em que Raquel Henriques da Silva alude aos «Patos-Bravos». No fim deste post encontram várias ligações ao tema incluindo a referência a uma homenagem prestada em Tomar, aos Patos-Bravos. É que sobre as origens da designação, parece-nos (?), não deve haver uma opinião única, mas centra-se em Tomar, na região madeireira, a sua origem.
A analogia serve-nos porque gostaríamos de ser, "tout court" e sem mais, o pato mansinho das histórias de Hans Christian Andersen: i. e., colocado, na sua vida e no seu canto da capoeira, sem ter que ser, permanentemente, incomodado por quem faz pouco, não sabe fazer, e por isso não deixa os outros produzir. Pessoalmente, e como faz sentido, gostaria de poder acabar a tese de doutoramento - da maneira que é normal em qualquer Faculdade e consta no ECDU. Ou seja, à semelhança do que sucedeu no mestrado em 2003/04.
Assim, gostaria que fosse a coisa mais normal deste mundo, em vez de ter de andar «a armar em pato-bravo-pioneiro», e a ter de puxar por todas as capacidades - asas, olhos, velocidade - a tentar conquistar o «canto» que é necessário, onde, enfim, possa pousar e repousar. Para com as condições normais e habituais, conseguir depois acabar de escrever a tese.
Mas, entretanto, e dado o tempo decorrido, acontece que, simultaneamente, estão a vir ao de cima, tal como a verdade, vários factos que para nós podem ter influenciado (talvez inconscientemente?) as nossas vidas e aquilo em que o nosso trabalho se tornou. Para nós está agora a começar um «ciclo de efemérides» em que avultam factos ocorridos há precisamente 10 anos, e que tiveram a particularidade de "desenhar", ou constituir o desígnio, do que estamos a viver. Por isso eles são inolvidáveis, não os esquecemos, e decidimos lembrá-los:
Em 17 de Maio de 2001, quando o IADE, mais uma vez, era de novo atravessado por mais uma das (muitas e recorrentes) ondas reformistas em que, com demasiada frequência, se tem vivido na instituição, nesse dia fomos todos "passar a tarde" à Academia das Ciências. Assistimos então, por acaso (ou claro que não...), à apresentação de um trabalho que nos fez perder tempo: pois era, sem qualquer base lógica, sem pés nem cabeça, e como ainda hoje é, completamente inverosímil*.
Em nossa opinião - pois pode haver quem pense o contrário, e esta é a nossa - o mesmo não fazia (ou faz) sentido, para qualquer pessoa com a cabeça no lugar. Mas, para nós, então já há anos a tentar entender Monserrate, no mínimo ele teve uma vantagem: recolocou questões antigas que sempre nos intrigaram, e que ao longo da nossa vida profissional questionámos. Inclusive, poucos anos ou meses antes, particularmente ao procurar Iconografia cujo significado fosse conhecido, e que pudesse ser colocada, com o mesmo intento que hoje já conhecemos, e consta na obra de alguns (raros) autores. Isto é, pretendíamos conhecer Iconografia que fosse moralizante ou edificante, para ser aplicada num Espaço Cemiterial: para quando o paroxismo da dor, individual ou colectiva, toca os limites da vida e o seu sentido. Momentos em que, olhando à volta, esperamos ver nas paredes, nas pedras, e no que nos rodeia, alguma justificação...
Ora dado o que chamamos de "non sense", das ideias apresentadas nessa sessão de 17 de Maio de 2001, fomos reagindo e comentando, ao longo da mesma, com quem estava ao nosso lado e outros arquitectos, as ideias, basto ilógicas, que ouvimos. Assim, foi nesse dia - recordamo-nos de o formular com clareza - em que, tal como num brainstorm, nos saiu espontaneamente, algo em que nunca tínhamos pensado e é hoje a ideia-chave que comanda os nossos estudos. Enfim, face a tanto abuso da lógica, ou da sua ausência, quer em hipóteses, provas e evidências, a permitirem lançar tal ideia e as deduções feitas, «saiu-nos» então o que nos pareceu muito mais lógico:
"Quem disse aos «contadores de informação» - que contaram asas e anjos, folhas de acanto, capitéis, e tantos outros adereços superficiais, tudo ao mesmo nível, quem lhes disse que a verdadeira informação, aquela que foi relevante e se pretendia transmitir, não estava nos elementos de suporte (que não tinham sido contados): no desenho dos diferentes arcos dos Estilos Arquitectónicos? Antes de contar classifica-se e elenca-se, e só depois se contabiliza: sem misturas..."
Nunca mais teríamos pensado neste assunto, se meses depois não tivéssemos iniciado estudos específicos, dedicados ao Palácio de Monserrate, os quais, em nossa opinião, de acordo com a nossa honestidade (lógica e capacidade) intelectual, foram sérios q.b. Beneficiando, simultaneamente, do «enquadramento» de 25 anos de vida profissional, vivida**.
E claro que também nunca mais teríamos pensado no assunto, se nada tivéssemos lido sobre Querelas Iconoclastas, e, concretamente, sobre a vontade deliberada de Bernardo de Claraval, relativa à austeridade e ao despojamento que pretendia imprimir à Arquitectura Cisterciense. Uma atitude vista hoje como um «quase-iconoclasmo», que retirou informação que deveria ser contabilizada (sublinhe-se isto, na lógica desses autores), a muitas obras da Ordem de Cister. Porém, se na referida «investigação» houvesse uma procura de acerto, talvez tivessem encontrado o que é medianamente sabido: a crítica de Bernard de Clairvaux aos Beneditinos. Como para si as decorações eram um esbanjar inútil, devendo ser banidas: considerava que tudo estava dito, na forma do Arco Quebrado...
Seremos o «Pato-Bravo», sim, sempre, se tal for necessário, para fazer valer as nossas razões. E iremos até onde fôr preciso, se o ECDU continuar a não ser cumprido!
Mas, no nosso íntimo, aquilo que somos e queremos permanecer, é o «pato-manso» (e pacato), que põe ao mesmo nível a honestidade intelectual e a honestidade face à lei; o que, como se vê, anda a rarear. Alguém que, com toda a calma, vai fazendo como sempre fez, o seu melhor. Dando boa conta, ao longo de décadas e de vários trabalhos: que funcionam sem alarido, e como é suposto, no silêncio em que queremos viver! E também de distâncias, bem marcadas, relativamente ao chinfrim inútil da propaganda sem obra!
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*Trabalho intitulado: Quantidade de Informação na Arquitectura Portuguesa, 1050-1950, desenvolvido na UBI. Consideramos que é muito bom para iniciar um brainstorm... E claro que há tags que se contam, mesmo que apenas se refiram a um número, sem qualquer outro sentido.
**Daí, talvez, a origem das muitas «incongruências inexplicáveis» com que somos tratados? Da versão que nos apontam, de um ECDU que não existe, nem está escrito em nenhum documento.
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http://semanal.omirante.pt/index.asp?Action=noticia&id=55568&idEdicao=400&idSeccao=6066
http://www.ido.pt/artigos/patos_bravos.html
http://alcatruzesdaroda.blogspot.com/2009/11/hoje-e-com-os-patos-bravos.html
http://ospatosbravos.blogspot.com/