Quando nos apercebemos que a palavra construir, o edificar, que vem do latim aedificare – que significa erigir, e ainda, também, "...o mover à piedade e à virtude, pelos bons exemplos". Quando se apreende todo o alcance desta palavra, que tanto serviu para referir obras como os edifícios, ou até mesmo para referir a edificação do Conhecimento e do Pensamento; nestas condições, i. e., dispondo de um razoável maior esclarecimento, do que aquele que tivemos durante anos, agora, ao ter pela frente uma nova turma de Projectos de Design de Interiores, não deixa de haver a enorme responsabilidade habitual, mas, igualmente, uma responsabilidade e um desafio acrescido: um novo entendimento do que podem ser as metodologias de trabalho, e as novas ênfases, que se podem colocar noutros conhecimentos, que, durante décadas, têm sido desvalorizados e esquecidos.
Tentando da nossa parte aproveitar para chamar à colação, sempre que possível, para a verdadeira essência de muitos dos Conhecimentos e Saberes: ou seja, destrinçando-os dos «panos de fundo», e de outros «materiais residuais» em que foram gerados.
Tentando, com o maior esclarecimento que adquirimos, que não haja os sucessivos erros, graves, que têm sido feitos: a incompreensão e o acumular de parcelas, que levam a somatórios, onde não se destrinçam (ou destrinçaram), os elementos e as qualidades diferentes – que deveriam ter sido separadas e não adicionadas – de diversos saberes. Vários foram os autores que mostraram a importância dos sentidos, na construção do Conhecimento, como por exemplo: Schopenhaur (m. 1860), Kant (m. 1804), Leibniz (m.1716), ou ainda bem antes destes, Santo Alberto Magno (m. 1280) que o defendeu, explicitamente, nestes moldes:
“«Todo conocimiento comienza por los sentidos», sin exceptuar el conocimiento de Dios. El paso del sentido al entendimiento se realiza por la abstracción, procediendo a distinguir universales. Afirma por tanto un alma como sustancia independiente que es al cuerpo como un piloto respecto a la nave. Así el alma pervivirá después de la muerte. Alberto Magno fue el más grande naturalista de su tiempo. No liberándose de la astrología y adivinación, incluso sostuvo que la unión entre el Mediterráneo con el Mar Rojo podía realizarse sin riesgo (canal de Suez)”.*
Isto que hoje nos parece ser óbvio – há Conhecimento, Pensamento e Razão, porque há uma base material onde o mesmo se processa, canais por onde se apreende (os sentidos), e “black box” onde se combina esse «material» recolhido pelos sentidos, e se elaboram novas ideias** – quando, no século XIII isso foi defendido por Alberto de Magno, de certo modo constituiu, então, uma importante novidade.
Enfim, claro que para quem é pouco dado a formalismos, ter ou não o grau, ser ou não PhD (?), isso só interessa se tiver permitido uma viagem às raízes: e, nesta área, provavelmente é na Filosofia (de onde provém o Ph), que se encontram unidos, e na génese (qual Pangea) vários dos Conhecimentos que as diferentes Ciências têm partido e repartido entre si. Repartido, muitas vezes, erroneamente, e sem a mínima preocupação de operar o «corte correcto»***: o que seria feito, mantendo legível, e lembrando, para que não se esquecessem, as ligações a outros conhecimentos e a outras realidades, das quais alguns conhecimentos são variante, ou partes integrantes (quase inseparáveis). É que se houve necessidade de dividir, trataram-se de questões operacionais, o que não pode ser esquecido.
Este é um outro tema, que a riqueza de Monserrate – com a sua colecção de formas, e respectiva capacidade de comunicar – nos ofereceu: assim haverá sempre, muito mais, para outros posts…
Figura (ou diagrama) proveniente de Christopher Jones, op. cit., p. 42 (alusiva à procura de novos métodos para a implementação da criatividade em Design).
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* Note-se na citação (que levámos até ao fim), a previsão da possibilidade, e importância, da abertura do Canal do Suez. Ver em http://www.robertexto.com/archivo15/inteleccion3.htm
** Termo de Christopher Jones, em Métodos de diseño, Gustavo Gili, Barcelona 1982 (agradeço à Teresa Rosas o empréstimo deste livro). Ainda sobre essa base material, e ironizando, claro, no limite também diremos que há Pensamento porque há cabeça...
***Como é explicado por Christopher Alexander, em Notes on the synthesis of the form; Harvard University Press, Cambridge, Mass, 1964.