Enfim, é o poder da letra A!
A imagem seguinte
Veio de um livro (genial) de Grabar (do André, e não do Oleg): que foi dono do seu nome próprio, que também começa por A...
Livro cuja capa já se publicou AQUI
Acontece que, dito ou mão dito, as imagens visuais funcionam frequentemente (mas já funcionaram bastante mais - na Antiguidade Tardia e nos Tempos Medievais, quando as massas não sabiam escrever); sim, muitas das imagens eram falantes, e até funcionavam como verdadeiros epítetos
Ou adjectivos, ou classificativos-qualitativos...etc. Eram até, por vezes (ou muitas vezes?) apologéticos.
Como acontece com os arcos nascidos dos (mais emblemáticos dos) ideogramas cristãos (*).
E a razão para termos escolhido, uma imagem que A. Grabar também escolheu (e que por isso a incluiu no seu livro), está dentro da Aura com que o Anjo foi «presenteado». Ou representado!
Reparem, na imagem acima, como a Aura parece ter poderes lumínicos:
Pois além de se deixar atravessar pela luz, sendo transparente, ainda tem uma outra propriedade (chamada refracção) que alguns dos materiais e substâncias transparentes, conforme a sua densidade, também apresentam. Ora mais, ora menos.
Assim a Aura representada, como se vê, parece uma lente. Talvez de vidro transparente (?), talvez esférica, talvez convexa, talvez brilhante? Conseguindo-se, enfim, que a parte superior das asas, que nascem nas costas do Anjo, fiquem ainda incluídas, por convergência (desvio geométrico da luz), dentro da Aura.
O que na prática, note-se - e é isto o mais interessante - equivale a uma dupla sinalização.
Porquê?
Porque normalmente, para se representarem Anjos - que na Antiguidade Pagã foram os mensageiros (como Cupido, Mercúrio, etc.**) - as Asas eram completamente falantes, e portanto, por si só suficientes!
Ora neste caso, não literalmente, mas pelas imagens - visto que não há letras (nesta espécie de texto) quando o Anjo é ainda sobrecarregado com o epíteto visual que é/foi a Aura, aí então está-se a insistir, que não é um Anjo qualquer; mas que se trata de Um Anjo Santo ! (***)
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(*) O que é um outro assunto. Complexo e difícil, mas que, muito convictamente, continuamos a afirmar ter existido e estar na base da História da Arquitectura: a nossa, dita do Ocidente.
(**) Ou designados Génios Alados, que no cristianismo - não esquecer que houve sempre sincretismos -, o Anjo passou a ser o Mensageiro da Boa Nova (que é o Evangelho). Ver imagem da Arca Tumular dita das Estações. Onde a frente da dita arca, na sua distribuição compositiva, coloca os génios alados a segurarem um clipeus. O que a nós nos lembra, algum portal do estilo Românico, quando os Anjos têm que segurar as pesadas Mandorlas (indicativas da Majestade de Cristo).
(***) Obviamente sem Acne! Já que os anjos, com a sua força - santa e interior - e cientes de que são mensageiros, com uma missão a cumprir, tentam sempre melhorar a mensagem que devem transmitir.