... dedicado às teorias da conspiração:
As muitas que têm sido criadas à volta da sua curiosidade - que era, como se supõe - completamente genuína!
Mas, dir-se-ia - inesperadamente, ou talvez não...? - do génio biografado, também o biógrafo (Carlo Vecce) mostra alguma distância. Na verdade, parece-nos, é mesmo incompreensão. E por isso a terceira parte do livro é englobada na designação de "o Errante".
Embora, mais acertado, fosse talvez tê-lo considerado como "o Incompreendido" (*) :
"... e por muitas folhas do Codex Atlanticus, do Codex Arundel e do Codex Windsor; com a ansiedade crescente de quem sente que o seu dia terreno está a chegar ao fim, com o tempo a esgotar-se e nunca o suficiente para completar tantas obras inacabadas.
Em Castel Sant'Angelo, realiza experiências de acústica, pensando num tratado De Voce. Em Monte Mario encontra um pequeno depósito de fósseis marinhos, os chamados «nicchi», que confirma as suas teorias sobre as transformações da terra na longa perspetiva das idades geológicas. Nos jardins do Vaticano existe uma enorme quantidade de gatos vadios, senhores indiscutíveis de Roma e das suas ruínas: Leonardo pôs-se a persegui-los, em vez dos lagartos, retratou-os em todas as suas contorções, o que o inspirou a escrever um livro sobre os movimentos dos animais, e por vezes, quando os via a lutar, imaginava-os como ferozes feras semelhantes a leões.
Devendo reparar-se, já a seguir, como aproveita as observações dos astros e da lua, para referir as "lunulae". Formas que já conhecemos relativamente bem (tanto como Leonardo não sei?), e a que estamos a chamar Ideogramas (a algumas delas) desde 2004:
A partir de finais de 1513, no terraço de Belvedere, retoma as observações astronómicas, nomeadamente da Lua, com um instrumento ótico semelhante a um protótipo de telescópio: «faz óculos para ver a lua grande».
Leonardo preencheu dezenas e dezenas de folhas com desenhos e diagramas de lúnulas, muitas vezes intitulados De Ludo Geometrico, e relacionados com a sua investigação sobre as relações e transformações de figuras geométricas inspiradas em textos de Arquimedes como De Quadratura Circuli ou De Sphaera et Cylindro."
(da página 572)
Por fim, há que o registar, foi uma imensa sorte, esta nossa agora.
Como nas 702 pp que o livro tem, tão depressa se ter encontrado aquilo que mais nos entusiasma na obra de Leonardo da Vinci. E de que já escrevemos alguns posts como aqui se pode confirmar. Ou ainda em Iconoteologia, já que essas lúnulas, muitas delas, apesar de consideradas formas abstractas, são verdadeiros ícones teológicos
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(*) Incompreensão do autor relativamente ao muito maior alcance (ou à verdadeira dimensão) dos conhecimentos de Leonardo. Devendo questionar-se, ou formular esta pergunta que logo nos ocorre: Alguém lhe transmitiu (a Leonardo) informações concretas e especificas sobre os significados e aplicabilidade das referidas lúnulas na arte e na arquitectura? Formas usadas como décor, ou as mais convenientes, e as mais apropriadas para alguns discursos que a obra de Arte, na realidade é?
Ou Leonardo foi deduzindo e chegando a essas «formas polissémicas», de um modo lúdico: a brincar com a geometria, como tantas vezes temos percebido que é possível acontecer? E por isso lhes chamou, como consta no texto que citamos De Ludo Geometrico?