Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
24
Jan 24
publicado por primaluce, às 23:30link do post | comentar

CONTINUANDO A VIVER EM TERRA DE CEGOS, felizmente aprendemos, e damos espaço aos que ensinam a ver. 

 

Neste caso a André Grabar, que foi dos que mais nos ensinou, através dos seus livros.

Por isso já escrevemos vários posts em que o mencionámos. A ver em Primaluce.blogs.sapo e também em Iconoteologia.blogs.sapo

Sendo o excerto que se colocou no fim (de propósito), talvez, um dos que já citámos mais vezes, por evidenciar como o circulo foi adoptado para representar Deus.

Embora nem sempre, seja exemplificado e explicado, com algum detalhe, o modo como isso aconteceu. É o que tentamos fazer no post de hoje e seguintes.

Claro que se o círculo estiver acompanhado de outras formas (desenhos e representações, porventura icónicas), e não for apenas  uma formulação, esquemática, abstracto-geométrica, assim será mais fácil perceber que o círculo foi usado em representação de Deus; ou até de outras entidades, que no cristianismo são consideradas divinas*.

Como acontece nas imagens seguintes - que em geral todos consideram serem representativas do Sol, e onde existem ornamentos e outros desenhos (icónicos), que complementam o círculo; ou ainda, inscritos nele, e dele irradiando, traços ondulantes - como muitas vezes fazem as crianças - na tentativa de desenharem raios de luz, vindos do sol.

PalaisSantos-azulejos2-deus-sol.jpg

(ampliar  - azulejos do Palácio de Santos, onde é actualmente a Embaixada de França. Foto proveniente de livro - por Hélder Carita)

Na imagem acima, desenho nosso, feito a partir da representação do Sol Invictus na fachada da Igreja de Santa Maria Novella de Florença **. Sendo que na ampliação (a seguir), é mais visível que a preceder os raios, do centro para a periferia, há um anel, ou círculo desenhado, notoriamente marcado.

Tal como no fim (vendo do centro para a periferia), as duas imagens - a do palácio de Santos e a da igreja de Florença - reúnem vários círculos concêntricos, o que é impossível não ver como «ênfases visuais»

Sol_LéonBattistaAlberti-detalhe-B.jpg

A partir daqui, e considerando aceite a ideia de que o círculo (e a esfera) foram usados para representar Deus e outras figuras celestes, vamos observar através de vários exemplos - imagens que temos recolhido e desenhado. E como é que formas básicas da geometria foram associadas; a ponto de criarem conjuntos de formas, que alguns viram como sendo semelhantes a moléculas ***.

Daí a expressão empregue por André Grabar, que lhes chamou "formules stéréochimiques". No exemplo seguinte, em nossa opinião, o entrelaçamento feito entre círculos maiores e menores, já terá pretendido ser, uma representação visual do Filioque, na Arte Romana (tardia). Vê-se em pavimentos romanos, de mosaicos, mas é um motivo que persiste a ponto de se encontrar (depois) em obras da Idade Média.

Por exemplo na Arquitectura Românica como já se escreu há 14 anos (e se aconselha a ler)

círculos-romanos-200ppp-5.png(ampliar

Curiosamente, no nosso trabalho dedicado a Monserrate consta uma passagem de André Grabar (ler na p. 40 de Monserrate, uma Nova História, Livros Horizonte, Lisboa 2008) relativa às representações do Espírito Santo.

Como temos vindo a defender há (sobretudo houve, embora desconhecidas da maioria...) várias outras representações. Que não apenas a Pomba, ou as Línguas de Fogo, que são muito mais percebidas e conhecidas (mas julgadas únicas, ou exclusivas, como representação do Espírito Santo)

E foi André Grabar, ele que questionou a representação do Filioque, quem melhor explicou - de acordo com a nossa opinião (e os livros em que estudámos) - o processo de elaboração da Iconografia Cristã que vamos continuar a expor.

Concretamente, escreveu sobre as imagens criadas, a fazer lembrar moléculas ou fórmulas químicas, como está no excerto seguinte.

(ampliar)

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

* Como Nossa Senhora, os Santos, os Anjos etc., etc. 

** Claro que nos questionaremos sempre, sobre a razão de Léon Battista Alberti para colocar uma imagem do SOL INVICTUS, tão visível, na fachada de uma igreja católica.

*** Representações que têm origem no mundo físico - nas Ciências da Natureza e na Astronomia, devendo lembrar-se também Demócrito, e a sua concepção (ou a invenção) do Átomo


20
Jan 24
publicado por primaluce, às 12:30link do post | comentar

Pode ser divertido, ou bastante triste?

É como  o «copo meio-cheio»: estará vazio, ou a deitar por fora?

FB-LuisL.Faria.jpg

Vindo daqui, já que uma tecla própria - PrtScr - nos dá as imagens do ecrã, imediatamente.

 

Empecilhos, como professores catedráticos invejosos, e mal-cheirosos... não ajudam o país*. Menos ainda se ajudam a eles próprios! (e ao que em Universidades normais, de todo o mundo, são equipas de investigação, devidamente organizadas, com chefes dessas mesmas equipas, dignificantes, e logo depois prestigiadas)

Post-postoFB-V.Serrão-2b.jpg

Ampliar - para ver até onde vai a «sonsice» - maldosa e invejosa!

Embora, esta situação configure - como dizemos - muito mais um crime, do que apenas uma pequena pecha (contra a Lei da Igualdade de Género): crime agora também designado Extractivismo Intelectual.

De uns, é amigo do FB (como mostra a imagem acima), de outros - em relação aos quais tem/teve obrigações de conduta e responsabilidade profissional, esconde os trabalhos...

 

Sim é preciso avisar toda a gente - como está neste post de Vítor Serrão, o enorme sonso, cegueta, que acaba a perder louros onde todos os outros os iriam buscar!

E ainda lembrar também, o copo: meio-cheio-meio-vazio :

Porque se tivemos a imensa alegria de fazer uma descoberta inimaginável, por outro lado, continua escondida.

 

E escondida à ordem de PROFs (agora catedráticos reformados**) da Universidade de Lisboa - da FLUL e de FBAUL.

~~~~~~~~~~~~~~~~

* Professores que escondem e desvalorizam trabalhos dos alunos, roubam o país.

Roubam o Estado, roubam a FCT. Verdadeiros ladrões!

 

** Ladrões que nunca terão a hombridade de querer esclarecer a questão. Nem sequer na Justiça e nos tribunais, já que, sabem bem de mais, como se portaram, e continuam a comportar... Perante algo que é, cientificamente, preciosíssimo!

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A que se acrescenta a lista de todos os posts em que já lembrámos Maria João Neto e aquela sua frase (adorável, de furibunda): "Você vê Coisas que Ninguém Vê"

1.   Sobre "Saber Ver e Treino de Visão"

01 Março 2019 por primaluce

[ aconteceu) de modo furibundo: "Você vê coisas que ninguém vê", podemos sentirmo-nos como criminosos, ou até]

2.   Do ensino que sempre quisemos fazer:

19 Junho 2018 por primaluce

[ sempre tentámos tornar esses conhecimenttos acessíveis: entre um faça você mesmo, e a prática]

3.   E confiante naquilo que nós vimos...

15 Dezembro 2016 por primaluce

[... ela plagiou*!   "Você vê coisas que ninguém vê. Porque é que você vê coisas que ninguém vê? Mas]

4.   Sobre o 'Post' de ontem: As visualizações de hoje - 24/05/2016: Para reparar no imenso interesse do «Senhor dos Agregados» - que aqui nunca falha

24 Maio 2016 por primaluce

[: captar o significado dos vocábulos/ornamentos dos estilos artísticos... - 2 Da série - "Você vê coisas]

5.   Depois de quatro décadas a ver desenhos de milhares de alunos do IADE, e a ver e fazer desenhos de projecto de arquitectura há mais de 45 anos...

13 Maio 2016 por primaluce

[ de 'visual thinking', claro que:    o  "Você vê coisas que ninguém vê", e o "porque é que ninguém viu]

6.   Da série - "Você vê coisas que ninguém vê!", ou sobre como desenvolver a Memória Visual

04 Maio 2016 por primaluce

[Para aprender a ver - e compreender porque é que se vê melhor? (desenhos e exercícios de observação)]

7.   Sobre a falta de originalidade: ou o Crime grave que todos cometem e se chama Plágio.

23 Abril 2016 por primaluce

[ habituados a ouvir sobre esta mesma ideia: Você vê coisas que ninguém vê. Porque é que você vê coisas que]

8.   Design é...

23 Março 2016 por primaluce

[... o impulso que você quiser! Se Marcel Duchamp quis ver Arte num urinol, se há quem veja Ciência]

9.   A inteligência e a perspicácia está a reduzir-se: era maior no século VI...?

01 Março 2016 por primaluce

[ com a máxima: "Você vê coisas que ninguém vê!". Elogio que nunca esqueceremos, apesar de ter sido]

10.               Crafting, again? Muitos ‘Designers’ sobretudo os que estão no Ensino...,

24 Janeiro 2016 por primaluce

[ foi, razoavelmente divulgada nos anos 60-70 do século XX: Ora na versão brasileira do “Faça Você Mesmo]

 

  1. Richard Perassi e o seu e-book...

01 Agosto 2015 por primaluce

[ são tantos, como tanta - imensa - é a fecundidade do que produziu, e por isso quero: Parabenizar você]

  1. O post «E por que as obras dão gozo (1)» fica para depois...

06 Maio 2015 por primaluce

[: «Você não ensina Património porque o PQPP não deixa!» Não, não era ele que proferia este disparate, e]

  1. Em Agosto e todo o ano: nadar contra a corrente, ver coisas que ninguém vê... embora isto seja muito incomodativo!

01 Agosto 2013 por primaluce

["Você vê coisas que ninguém vê"! A acusação feita em tom grave, é, no entanto, um dos maiores]

  1. Ensaios geométricos das formas, e a correspondente geometria das relações humanas: geometrias «fixas» e geometrias «variáveis»...

17 Abril 2012 por primaluce

[?". "É muito interessante, acho que tens toda a razão, mas é preciso provares..." E volta ao você: "Oiça, o seu]

  1. Ao contrário das Listas de Umberto Eco, as nossas são habitualmente finitas...

25 Fevereiro 2012 por primaluce

[ Programas mais antigos. **Haveria um "Faça Você Mesmo" das Selecções do Reader's Digest. Informações]

  1. E se começássemos a ver melhor? Tentando observar as coisas que poucos têm visto e valorizado; mesmo que não haja câmaras vídeo acopladas à nossa cabeça, a registar os «nistagmas»...

14 Janeiro 2011 por primaluce

["Você vê coisas que ninguém vê"! Acusação feita em tom grave, porém, uma das mais elogiosas que]


17
Jan 24
publicado por primaluce, às 13:30link do post | comentar

Ontem foi um dia cheio de provas

Ou seja, de provas das nossas ideias e teorias. As mesmas que a Universidade de Lisboa, pela mão de professores catedráticos e orientadores (no mínimo pessoas sem carácter, e inqualificáveis cientificamente...), entendeu deitar fora.

 

Essas provas começaram num post da M Lourdes RB, com uma pintura de Vermeer.

Da nossa parte havia disponibilidade de tempo, e mental, portanto apropriámo-nos dela, e fomos evoluindo; como ficou registado neste post.

E assim ficou (guardado, por algum tempo) material para uma posterior continuação, de explorações e investigações visuais (geométricas), a desenvolver.

Mais tarde, apareceu, também no FB, um outro post sobre Arcas e Baús.

Interessante, ou super-curioso, ver o encadeamento de fotografias. Para uma sequência de leitura (criada pelo acaso, ou não?), que assim nos fez lembrar a associação, incontornável (inevitável para nós), entre arcas - objectos de mobiliário doméstico -, e os «edifícios edificados».

Em que estes, em escalas muito maiores, obrigam/obrigaram, como se percebe, a uma tectónica bastante mais exigente, embora partissem do mesmo modelo: vindo do Livro do Génesis.

Talvez que a fotografia da igreja, fosse apenas para localizar uma cidade ou o país, onde mais um baú foi adquirido, para a colecção de Joaquim de Azevedo? Só que, de impulso, logo escrevi o que sabemos que aconteceu:

"Óptimo exemplo. A igreja romano-gótica provém - como se percebe quando se lêem - dos textos de Hugues de Saint-Victor (que viveu nos séculos XI-XII) conhecidos por De archa Noe.

Na igreja de Fátima em Lisboa, na parede onde está o arco que abre para a capela-mor, é mencionada a arca/barca salvífica. Portanto arcas e baús são peças, como diz a etimologia, arcaicas, mas ainda, também, a génese de muitas igrejas e catedrais."

FB-PauloMorais-2.jpg ampliar

E na legenda acima, falta lembrar Philibert De L'Orme **, que em França, deu ainda muito mais força, à ideia da Arca-Barca, como sendo uma tipologia de edificação.

O modelo que seria o mais indicado, ou o obrigatório?, para as edificações domésticas de reis e de nobres, e não apenas para os espaços religiosos. 

 

imagens superiores: vinda daquivindo daqui

 

Onde, para este último caso, retomando informações essenciais, se escreveu, sobre o tecto (e a consequente configuração arquitectónica do espaço): 

"Vindo dos De archa Noe, de Hugues de Saint-Victor. Assunto para se estudar no dia de S. Nunca; ou de preferência, quando no ensino como na administração pública os professores (catedráticos) deixarem de arrastar os pés, com medo de decidirem..."

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

* A expressão é óptima e vem de um socialista. Que ainda bem que o reconhece. Não é o socialismo que cria riqueza. Pelo contrário, os seus agentes na administração pública tendem a destruir e a limitar toda a riqueza. Por inveja e demérito, completamente abusivo,  a universidade (cujos agentes são os professores) por si mesmos, e à revelia de instituições como a FCT, decidem anular, valores imateriais - que são fragilíssimos - logo à nascença... Como é aliás muito normal. [Sempre que escrevemos sobre este assunto, há também um lado cómico e anedótico que vem ao de cima... Que aliás, pode ser muito mais explorado. Sendo que, à medida que vamos evoluindo, e percebendo que estamos perante uma enorme quantidade de evidências, é também cada vez mais risível, e ridículo)

** O nome do arquitecto francês - originalmente Philibert De L'Orme - pode estar nos nossos posts, com diferentes grafias; como aliás muitos têm feito, nem sempre adoptando a mesma. Mas já escrevemos vários posts sobre ele. Se quiserem ler é procurar (ou perguntar)


02
Jan 24
publicado por primaluce, às 18:30link do post | comentar

Como se diz abaixo, volta-não-volta este post vem ao de cima. Porém, em cada ano passado, e a cada novo mês, torna-se, crescentemente, uma enorme fantasia. E diz-se assim, para não lhe chamar outra coisa ...

 

Porém, como adjectivar essa coisa, e quais as palavras a usar? É o que se pergunta neste começo. 

Como na Arte, será que há termos melhores, mais aplicáveis, quando estamos a tratar de temas que são, quase da ordem do indizível? 

Sobre o dito post - que volta-não-volta vem à tona - não sabemos quem o puxa para cima, ou se serão vícios de algoritmos? Se é que eles existem, «derivados, a modos que...» dalguma inteligência artificial???

Seja o que for, existe também a inteligência emocional, a que usamos nos nossos relacionamentos com os outros. Com todos os outros, em especial com os que nos são mais próximos, e nos são muito queridos. E, já agora, inteligência emocional que é bem diferente da inteligência prática. Porque, se levados por esta última, nem sequer estaríamos agora aqui a escrever...

Porém, há deveres de consciência. E, inclusivamente, também os há de carácter muitíssimo interesseiro. Pois quem sabe se, sendo o nosso ADN o mesmo, não iremos pelo mesmo caminho, dentro de algum tempo?

Prepararemo-nos pois, que mais logo se verá!

Entretanto, avançando, é preciso dizer depois, que ficamos deveras felizes, com todos os votos e os desejos de felicidades, e de longa vida, desejados à Mãe; porém, não deixamos de ver a realidade, que é, verdadeira e infelizmente, bem menos «empolgante».

De facto, é muito menos apetitosa, ou sequer bondosa, quando a relacionamos com os comentários que este post de 2021, continuadamente vem a suscitar. Por isso, foi ainda ontem que se escreveu isto:

"Não consigo perceber porque razão este post, volta não volta vem ao de cima? Pergunta-se, já que, "malheureusement" - será que está bem escrito, e será que sabem o que significa? - a realidade da Senhora centenária, é a mesma de muitas Mães, e como vai por esse país fora...
Porque a apologia, e a festa que se vai fazendo no Facebook, pouco ou nada têm a ver com atenções reais, com o evitar a fuga e o abandono.

Em suma que o ano novo traga mais verdade a todos, incluindo às famílias: a capacidade de amor paixão e sobretudo compaixão pelos idosos. Que se aprenda, sei lá se com visitas a lares de idosos, ou até nalguns cursos?, a valorizar o que os mais idosos ainda nos podem dar. Já que, pessoalmente, e tenho-o dito às cuidadoras, tem sido a oportunidade de ver (como alguns/algumas, embora pouquíssimos) podem envolver da máxima ternura os mais idosos (...)"

E no fim do nosso comentário desejámos:

"(...) Que muitos mais, crescentemente, saibam devolver a generosidade e o carinho que lhes foi dado na infância. E ainda, ouvir e saber guardar pormenores preciosos, neste caso da infância em Portalegre, e depois Cascais, da minha mãe.

Acontece que, como família demasiado desavinda - o que não é difícil, pois somos 6 filhos todos muito diferentes, e senhores de si (eu que o diga!) - temos faltado no apoio que a mãe merecia e merece, cada vez mais.

Temos faltado na capacidade de entendimento, temos faltado na criação de conforto - que é absolutamente essencial, na idade, e agora na imensa fragilidade em que está.

Não nos conseguimos entender quanto a essas condições, que - em nossa/minha opinião - deveriam ter passado ou por obras na casa em que está; ou pela transição para um outro espaço (casa) menor, para onde tivesse ido, com alguns dos seus móveis (i. e., os pertences e equipamentos) preferidos.

Dessa forma reconstituía-se, de um modo relativamente fácil, o ambiente em que sempre gostou de viver.

Seria mais fácil  de gerir e de controlar, do que o casarão, que embora feito com «amor e carinho», na época dos Arts and Crafts e do Made by Yourself * (agora fora de moda, tornado vintage - mas não porque fosse intencional), é, a cada dia que passa, mais urgente remodelar, e até com razoável profundidade!

IMG_20230920_141254-c.jpg

Por ser a única disponível - como permanentemente é apontado -, tenho tido a sorte de conviver e ficar a saber várias histórias que toda a vida desconheci. Em 70 anos de contacto, é super-enriquecedor ouvir agora essas histórias e estorietas, que nem sequer conhecía. Mais ainda vendo fotografias, onde se lêem os cenários e os ambientes em que cresceu e viveu. 

Sabíamos que os idosos esquecem o quotidiano, por vezes o que acabaram de comer ao almoço, mas ao vivo e a cores, misturado com certas confusões e fantasias, relembram-se de factos antiquíssimos: oiço-a a lembrar estórias dos irmãos pequeninos, da cegonha que levou com o tamanco da empregada; ou ainda dos percursos feitos para chegar à escola em Portalegre. Também os caminhos em Lisboa: o mapa (mental, ainda descrito na perfeição, ou a corrigir-me se me engano...), para ir de casa ao cinema, ou ao antigo patriarcado, onde funcionaram os primeiros cursos do Serviço Social.

CasaDeMAntóniaHM.jpg

É com orgulho que fala disso, de quem criou o curso, de algumas colegas, do ter chegado a trabalhar na Misericórdia de Lisboa, em S. Roque.

E aí de novo, lá esta o desenho mental, que na cabeça tal como na cidade, ou nos mapas de papel, articula correctamente. Memórias mecânicas - dizemos nós, gestos e movimentos que o cérebro parece guardar mais intactos... Será assim? Temos que procurar em António Damásio.

Tenho tomado notas, e pode acontecer que ainda um dia reconte algumas das histórias com que tenho sido bombardeada  São já, e há medida que o tempo passa, cada vez mais especiais, e até diferentes. Como foi esta (surpresa), ouvida em 2022 (ou até antes?). Quando decidiu cantarolar quadras e versos de sabor popular, feitos para uma récita, que entre amigas e conhecidos prepararam, no que hoje é conhecido como Chalet Fayal, em Cascais.

Infelizmente, e por muito que custe e doa escrever isto, esta Mãe centenária, que por vezes teve que ser heroína, não merece - como no futuro todas/todos nós não merecemos (e para isso devemos construir as nossas soluções para a velhice, não deixando cair projectos de vida) - ficar à mercê do desorganizado, e do não-planeado!

É que a velhice pode ser ainda, desde que minimamente preparada, um tempo fantástico. E em que - como projectei e contactei nalguns casos ** - as pessoas ainda vivem, e embora diferentemente, continuam a realizar-se.

Completam-se, relembram, revivem, contam e gozam - como lhes apetecer (se estiverem bem...) - as suas vidas.

E dessas vidas, dependendo da riqueza das vivências - sobretudo das de carácter mais cultural e espiritual, ou religioso - dos bons e dos maus momentos; por essas vivências terão construido/definido o que irão ser os seus últimos dias. As horas e momentos finais.

Entendendo - como se supõe (crendo e querendo) - que por terem tido a sorte de fazer parte de um Cosmos vivo, de ambientes ricos e estimulantes (espiritualmente), também terão «compreendido», e aceite, as várias dimensões da vida  Aceitando, quando for o dia e a hora, que hão-de voltar ao mesmo Cosmos de onde vieram***. Portanto, com o mínimo sofrimento:

A agradecerem - os que partem, pelas vidas que tiveram.

E os que ficam - pelos privilégios, conselhos e sabedoria de que passaram a ser, definitivamente devedores 

27.10.2020-Tough-mindedWoman-original-b.jpg

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Já que todos somos exigentes com os ambientes e o conforto em que estamos e vivemos, em especial no tempo frio. Claro que é a arquitecta a falar em causa própria, mas é, coincidentemente, o que aconselharia a qualquer outra família, que não a sua. Portanto, à mente vêm alguns provérbio típicos; aqueles que se usam para justificar atavismos e imobilismos (quiçá retrógrados?). Como é o "em casa de ferreiro..." , o do "Frei Tomás", ou ainda, o pior de todos;  óptimo (sempre) para silenciar os argumentos de quem se quer esforçar para ter soluções, não desistindo às primeiras: "Santos de casa não fazem milagres".

** Profissionalmente tivemos contacto com vários projectos de espaços para idosos: concretamente no apoio à programação de Centros de Dia, e Projectos de Lares de Idosos (para a Segurança Social, Lisboa). 

*** Vem a propósito um adjectivo que sempre ouvi em casa, principalmente vindo dela (mãe): "edificante". Porque, na verdade as vidas são construções. E nos últimos anos, para melhor perceber a História da Arquitectura, esse conceito do "edificante", foi-me de enorme utilidade. Por fim, falta acrescentar, que as noções de Deus e de Universo (o Cosmos)em tempos antigos foram coincidentes, quase sinónimas.


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