De facto ele há dias generosos, e há pessoas que até «a macaquear» protagonizam alguma dádiva, sendo generosos ... mesmo que não saibam!
Enfim, a história de hoje :
Por ser 5 de Outubro, há quem ache que respeita os outros - e sobretudo respeita-se a si próprio -, substituindo na bandeira nacional a esfera armilar por um cacho de bananas...
Mas, lembrámo-nos logo de uma pintura de Botticelli, que representa S. Agostinho (num"afresco" - como se diz no Brasil).
Lembrámo-nos por ter presente, à esquerda, e no cimo da composição, uma esfera armilar.
Donde, nada como mandar passear o dono do cacho de bananas, já que uma voltinha, who knows?, lhe poderá acrescentar qualquer coisinha? Que o autor da bandeira das bananas vá ver, em qualquer sítio da Internet, o Santo Agostinho de Botticelli. Feito no tempo em que Portugal dava novos mundos ao mundo .
Só que, e grande sorte a nossa, assim também olhámos muito melhor para a dita esfera armilar.
E vendo-a, ou como geómetra, ou sobretudo como «especialista em intersecções de círculos» (riam-se!), desta vez, como bónus, captou-se de facto mais «qualquer coisinha».
Ora vejam. Que é como quem diz, os olhos podem ser como scanners, mas ao lado está, algures na mente estão neurónios (ou massa cinzenta?), que «ao tropeçarem» nos detalhes da imagem, reagem, e até pode ser, com alguma emoção...?
E continuando, passadas umas horas, a nossa emoção ainda existe! **
Porque, está-se habituado a ver esferas armilares em cujo interior, onde deveria estar uma elipse - resultado da posição de um meridiano (posto quase de perfil, muito próximo de um plano antero-posterior*) - aí, nessa zona central, nas representações de "esferas armilares manuelinas", normalmente está uma mandorla. Posta muito afirmativa, retórica, e sem espaço para dúvidas.
Ou seja, visual e claramente, o resultado da intersecção de dois arcos de círculo - e portanto com dois vértices marcados.
Como acontece neste exemplo no claustro do Mosteiro. dos Jerónimos
Embora, note-se, procurando vêem-se outras esferas armilares esculpidas na pedra, em Santa Maria de Belém
A terminar, lembra-se a existência de uns azulejos (será que se podem chamar neo-manuelinos?) que já desenhámos, e já os fotografámos, aqui em Portalegre, nas paredes de uma montra cujo motivo é, exactamente, a esfera armilar que temos descrito.
Uma fusão entre uma esfera armilar realista, como é a de Sandro Botticelli, e a mandorla. Que, tão cedo (século VI ?) se tornou numa imagem emblemática. De tal maneira que, dizemos, funcionou como imagem («símbolo visual») do Credo dos Godos. Isto é, com a intersecção de círculos, sobrepostos, a querer traduzir, com o máximo rigor (linguístico-visual), "a dupla procedência do Espírito Santo" :
Vindo do Pai e do Filho, que em latim é Filioque
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* Atenção, está-se perante um exemplo de Geometria tridimensional, dita por vezes, Geometria Descritiva. Nestes modelos - esferas armilares e representações geográficas da terra - chamam-se paralelos aos círculos de diferentes diâmetros que existem, cada um num plano de nível; mais acima ou mais abaixo, relativamente à esfera. Chamam-se meridianos os círculos que existem em planos verticais. Os Paralelos definem a Latitude da terra, Norte e Sul, mais ou menos próximos dos pólos e do equador. Os Meridianos medem a Longitude, como acontece a partir do designado meridiano de Greenwich, para Leste, e para Oeste.
** Já que, desde logo pensámos nas Leis de Képler (1571-1630). J. Képler em 1596 publicou Mysterium Cosmographicum, e a Astronomia Nova (Wikipedia) foi publicada no início do século XVII (Botticelli já tinha morrido em 1510).