Andam por aqui, na Internet e Facebook muitos antigos alunos nossos. Sim do IADE.
Por isso se pergunta: "Quem conhece Francisco Henriques?" [1]
Não me lembro se foi meu aluno..., talvez sim.
Re-encontrei-o na FBAUL, à porta do Dr. Fernando António Baptista Pereira, que convocava todos os seus alunos de mestrado e doutoramento (que seriam talvez, muitos mais do que uma boa dezena?) para os mesmos dias e os mesmos horários; tudo ao molho!
E em que os atendia - tal e qual como um médico de província - depois de penarem, e penarem pacientemente, algumas horas na «sala de espera do consultório»...
Que é como quem diz, no Convento de S. Francisco, onde nasceu a Biblioteca Nacional, e onde ainda agora «funciona» (mas será que já funciona melhor?, ou continua a vergonha que conhecemos a partir de 2006?) a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. E claro, isto acontecia, quando chegava (se é que chegava, o tal dr.?), e os atendia...
Porque, lembramo-nos bem, as mais das vezes - até traduzimos em percentagem – era entre 40 a 60% das vezes, ele nem sequer aparecia para cumprir o que ele próprio tinha combinado [2].
Depois, eram mensagens vergonhosas: "K pena, k pena Glória, foi-se embora... Mas eu aiiiinda cheguei !!!" [3]
É verdade, são cenas passadas, e das quais nos envergonhamos, por não as termos denunciado … Logo na altura!
Porém, como se vê ainda estamos a tempo. Dirão alguns - os cães ladram e a caravana já passou! Mas não, o que passa hoje, amanhã e depois, é «uma vara de suínos», em que (pelo menos um de) os keynote speakers, que nem inglês falam, continuam a lesar o país.
E assim volta-se ao Francisco Henriques, que foi perseverante, paciente até dizer chega (e ainda é, pois fez o doutoramento, aparecendo-nos hoje integrado num Congresso de História da Arte). Tendo ele tido, de certeza, uma imensa paciência para aturar faltas de profissionalismo, verdadeiramente innominabilis.
Mas enfim, é o que há nas nossas universidades!
Pelo contrário, muito positivo, geralmente, super-simpático, o Francisco Henriques deu-nos informações, inesperadas. Razão para termos Kepler neste post.
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E passando a fazer copy and paste do Livro-de-Resumos-APHA.pdf (ver pág. 27) segue-se o título da comunicação, algum desenvolvimento (ou seja o resumo), e a nota curricular que associou:
“O Método Geométrico como auxiliar de investigação histórico-artística em obras escultóricas do Renascimento Francisco Henriques (Universidade de Lisboa)
Correcta e integralmente devemos denominá-lo matemático-geométrico, sendo simultaneamente iconográfico-iconológico, pelo que, de imediato, se depreende a sua amplitude pelos âmbitos a que se estende. De facto, alicerçado nestas ciências exactas, este estudo dirige-se ao alargamento do espectro da semântica, constituindo, aquelas, intricados mecanismos de significação na leitura da obra de arte.
No domínio matemático-geométrico, empreendido por diversos historiadores e teóricos ao longo do último século, mostra evidências claras do seu rigor, aplicabilidade e eficácia na clarificação das diversas metodologias empregues por artistas ao longo dos séculos – mormente nos períodos gótico, renascimental e maneirista - durante os quais, pretendendo aqueles participar activamente da grande ordem cosmogónica, imbuíam as suas criações de propriedades estudadas e elucidadas pelo quadrivium, concordantes e inerentes ao número, dada a identificação que dele faziam com o belo. Escorado nestas ciências exactas e projectando-se aos domínios da significação e da semântica, seguindo sempre a metodologia enunciada por Panofsky, permite propor novas, mais amplas e complexas leituras e interpretação do objecto artístico.
Dando a conhecer, justificadamente, as metodologias geométricas seguidas por autores de reconhecido mérito em obras documentadas ou mesmo seguramente atribuídas, e as discrepâncias encontradas noutras obras que lhes são habitualmente atribuídas em que se não detectam esses traçados ou se detectam outros, conduz a uma revisão dos termos dessas atribuições, seja retirando-as do elenco das obras a esses autores atribuídas, seja reequacionando a informação subjacente aos percursos desses mesmos autores.
Paralelamente, após identificadas metodologias geométricas específicas, regularmente empregues como auxiliares de composição em obras de arte documentadamente atribuídas, este método concede a possibilidade de melhor equacionar e elaborar mais plausíveis propostas de reconstituição de outras obras do mesmo autor que se encontrem mutiladas ou incompletas, ou mesmo, desconhecendo-se o seu autor, se compreendida e identificada justificadamente a génese geométrica compositiva da obra de arte, poderem ser avançadas propostas hipotéticas de reconstituição da mesma.
Na apresentação deste método, conjugando a fotografia e as ferramentas de desenho digitais, evidenciar-se-á como este método contribui eficazmente e promove o amplo desenvolvimento da História da Arte.
NOTA CURRICULAR
Francisco Henriques (Coimbra, 1966) é Doutor em Ciências da Arte e do Património e Mestre em Teorias da Arte pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Licenciado em Design Gráfico e de Comunicação, trabalha como artista digital, diretor artístico e realizador.
Professor em várias instituições de ensino públicas e privadas, é investigador do Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA), na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa: foi investigador e consultor convidado do projeto Santo Cruz - Reconstituiçõo digital em 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra: e Cientista Convidado do projeto Blackbox - Arts ond Cognition, no ICNOVA, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Procurando o inextricável enleio entre Arte, Ciência e Tecnologia, dedica os seus projectos de investigação ao estudo das estruturas visuais subjacentes à idealização da obra artística, desde a antiguidade à contemporaneidade, e em particular das escultura em pedra do Renascimento em Portugal, procurando destrinçar os pressupostos geométricos subjacentes às suas organizações compositivas e à leitura iconológica dos respectivos programas narrativos.
É autor e coautor de vários artigos em publicações nacionais e internacionais de arbitragem científica.”
Terminada a transcrição, há que o dizer, quisemos enfatizar algumas das ideias contidas em frases que se percebem como muito cuidadas, na procura das palavras mais exactas, e mais rigorosas; sobretudo capazes de transmitir as imensas potencialidades do que designa por Método Geométrico. Por isso as sublinhámos.
Não escreveríamos assim, mas compreendemos, perfeitamente aquilo a que se refere:
Por isso, sobre o seu trabalho Francisco Henriques registou: “… dedica os seus projectos de investigação ao estudo das estruturas visuais subjacentes à idealização da obra artística, desde a antiguidade à contemporaneidade (…) procurando destrinçar os pressupostos geométricos subjacentes às suas organizações compositivas e à leitura iconológica dos respectivos programas narrativos.”
Mas o que é mais extraordinário, porque (me) foi dito mais do que uma vez pelo orientador - de ambos, Fernando António Baptista Pereira - é que um tema/método historiográfico, capaz de explicar, quase integralmente, a História da Arte do Ocidente europeu, e as formas usadas nos diferentes períodos (históricos-estilísticos); sim, é verdadeiramente extraordinário, que tendo tido essa percepção, quase imediatamente, o orientador não tivesse tido a postura de um VERDADEIRO CIENTISTA?!
A de um PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: verdadeiro em todos os sentidos, e sobretudo no melhor dos sentidos?
Porém, não esquecemos, houve o lado positivo de toda esta mesquinharia bem portuguesa: já tinhamos feito entrar no trabalho escrito a propósito de Monserrate, as ideias essenciais,... descobertas por acaso.
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[1] Leiam a nota curricular, e resumo da comunicação, neste nosso texto, que por isso mesmo, é bastante longo; mas, parece-nos - tem essa vantagem? - pois é muitíssimo interessante
[2] Repare-se que aconteceu entre 2006 e 2012, quando tive, obrigatoriamente, que me aperceber da verdadeira identidade do personagem! Nessa altura, levando já cerca de 39 anos de trabalho, embora não de vida profissional como projectista, que essa só começou, formalmente, depois de Dez. de 1976. Imagine-se, se tivéssemos tido comportamentos semelhantes, diletantes, se alguma vez alguém nos entregava um projecto?
[3] Portanto, o que agora chamam de "Extractivismo Intelectual" de Boaventura Sousa Santos, e outros, não tem nada de novo... Tem décadas na FLUL, garantidamente, e depois também na FBAUL. E tem tido, obviamente, nos avanços do país...