... que passaram para a História da Arte (e o seu ensino, que está ainda repleto de paradoxos)
Um comentário demasiado longo que deixámos aqui:
"UMA REFLEXÃO: Conhecemos os museus, da sua constituição inicial, para apresentarem obras de arte, de artes que eram produções humanas. Mas também, os gabinetes de curiosidades, em que muitas dessas obras/produtos foram produzidas pela própria natureza: sem intervenção humana. A única, terá sido o facto de os homens terem recolhido ou retirado da natureza esses objectos, levando-os para espaços onde eventualmente uns - objectos criados pelos humanos, e outros - produções naturais, passaram a estar juntas... E da não separação (ou junção que se fez) entre uns e outros, também nasceram, os «métodos» com que se olha para as obras de arte. E as taxonomias das ciências naturais, por vezes bem, e de uma maneira útil (mas nem sempre), foram transpostas para os objectos das artes criadas pelos humanos. É ainda agora uma pecha, que os estilos (decorativos, arquitectónicos, artísticos) sejam vistos, como funcionando de modo muito análogo, às variantes naturais, encontradas na natureza/na biologia. Enfim, sabemos que, lamentavelmente, nas universidades ainda há professores (e ideias feitas, que estão nas cabeças dos alunos que seria necessário desmontar) que espalham a noção daquilo que se encontra nas obras de arte, obedecer a regras semelhantes às que existem na natureza... Sem se evidenciar (e ensinar) que essas normas, que levaram a que muitas obras fossem tão semelhantes (às vezes quais iguais), são o resultado de regras e normas - neste lado ocidental do mundo, em que nascemos - são regras difundidas pela Igreja (IIº Conc. de Niceia, e Conc. de Trento... sendo que pelo meio devem/podem ter existido eventos que mantiveram, confirmaram essas regras). Era útil que os museus, pelo papel que desempenham na divulgação cultural, começassem a introduzir estas ideias, no que expõem. Que não é tudo a mesma coisa! Se passasse a distinguir, o que é a inovação em ciências e em artes, do que é a «inovação» na natureza... Essencial, para ajudar a compreender, que, no que nos rodeia (produções humanas), não há automatismos: ninguém se deitou numa noite numa cama gótica, e acordou no dia seguinte numa cama renascentista. Isso é vicio de historiador - fatiar o tempo -, como encontrei toda a minha vida, e aos 50 anos (ainda) no Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa!"
Claro que ao lermos o que se transcreve abaixo, dando quase a ideia que para ensinar alguma nova matéria ou fazer passar algum assunto de verdadeiro interesse para todos, não se escreve um livro, com imagens a ilustrar, mas que se faz um museu (porque estes são interactivos e muito mais apelativos...).
E que ainda. perante a ideia da plena consciência poder acontecer (mais facilmente?) dentro de um museu, foi quando nos lembrámos que, cada vez mais, é preciso um Museu que conte a história de como se tem feito a História da Arte. Os valores e os vícios que hoje a caracterizam.
Porque, e em suma, o desafio é enorme:
Compreender e pensar o pensamento (desdobrando-nos...) que pensou a história da arte. Atingir a plena consciência, não só do que nos rodeia, mas também as razões da evolução que foi feita para se chegar à cultura contemporânea. Em que as artes têm um papel do maior relevo, também para nos conhecermos, incluindo aquilo que está dentro de nós, vindo de tempos ancestrais
"L’idée de la pleine conscience dans les musées nous semble être un concept utile. Janes (2010) décrit la pleine conscience comme le fait d’être pleinement dans l’instant présent et de prêter une attention délibérée et explicite aux choses, aux personnes ou aux événements qui se produisent autour de nous, à la fois localement et globalement – des événements que nous pourrions autrement ignorer. Il s’agit de comprendre ce que nous choisissons de faire et les raisons qui nous poussent à le faire. La pleine conscience muséale n’implique pas que nous abandonnions les traditions qui ont historiquement soutenu et caractérisé les musées scientifiques du monde entier. Au contraire, nous devons également assumer le rôle de la pleine conscience pour aborder des questions plus vastes et repenser les identités et les rôles des musées scientifiques dans les sociétés contemporaines.Dans le monde des musées des sciences, nous commençons à voir des plaidoyers et des appels qui reflètent des perspectives critiques et agentielles (Pedretti & Navas Iannini, 2020). Par exemple, la Déclaration de Toronto (Science Centre World Congress, 2008), le Protocole de Tokyo (Science Centre World Congress, 2017a) et la Déclaration de Malines (Science Centre World Congress, 2017b) témoignent d’une présence mondiale plus large et d’un travail qui dépasse les murs des musées des sciences, à mesure que des coalitions et des objectifs communs d’action et de responsabilité civique se mettent en place." (*)
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(*) Vindo daqui e também de: Vers des musées scientifiques de quatrième génération : changer les objectifs, changer les rôles (openedition.org)