Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Fev 23
publicado por primaluce, às 18:00link do post | comentar

E um dos sinais mais usados na primeira arquitectura cristã serve-nos também (agora/hoje) para diferenciar duas palavras - convicção e presunção - e ao que a estas se ligou, e ainda liga (ou pelo menos nós ligamos...)

 

No nosso caso, andamos por aqui (a escrever on line - que é como quem diz publicamente), convictos da utilidade do que fazemos. Tão convictos que achamos que vale a pena, e que até é um "must" continuar.

Porém, também vão aparecendo, chocamos com eles, os que se incomodam com tanta convicção. E ... é vê-los, lê-los, topá-los, mais a sua Aura - que lhes é difícil esconderem! - de tanta presunção.

São os que, mais ou menos disfarçadamente, nos tentam desviar com «metáforas atamancadas» *

concha-águaBenta-150ppp.jpg

Mas. de metáforas, analogias, e também alegorias, thanks God !, já nós vamos com algum treino, vindo da história da arquitectura antiga e tradicional:

O suficiente para lembrar que as conchinhas da imagem em cima - postas das duas maneiras (para baixo ou para cima) - foram marcantes na arquitectura paleocristã.

Pois quem fosse representado numa edícula, encimada por uma concha (abaixo é a imagem 2), era desse modo - visual e apologeticamente referenciado -, como sendo alguém baptizado. Numa língua escrita com ideogramas, que, como estamos convictos, terá funcionado assim: 

plate-pictograms-cronológicos.jpg

De igual modo, quem vir as edículas (acima), se conhecer exemplos de sinalização visual - como no caso dos nossos antigos alunos - vai ler/ver desenhos de edículas diferentes. E provavelmente vai questionar-se sobre, a que ideias diferentes se referiam umas e outras das referidas edículas? 

E desde já respondemos nós, de acordo com o que se tem captado/encontrado ou descoberto:

1. Edícula Clássica, com a Arquitrave recta  (relacionável com a aura quadrada, e os que fossem correctos);

2. Edícula Cristã, com a Concha completada depois pelas nervuras/caneluras nas paredes do nicho. Inicialmente serviu para indicar os baptizados, e portanto cristãos;

3. Edícula Romana e Românica,  encimada pela Arquivolta  (semi-circulo inteiro): a qual, e como bem fomos alertados pelo prof. Fernando António Baptista Pereira, foi ainda em obras dos Etruscos (antes das dos Romanos) que surgiu o arco de volta inteira.

Mais tarde, nalguns casos, as auras circulares dos que estavam representados no interior dessas «janelas» foram desenhadas concêntricas com a abertura do arco; mas, mais frequente, foi o arco que, simplesmente, substituiu a aura circular **. E assim, os figurados no interior das designadas edículas já não precisavam ser representados com auras (visto que a curvatura do círculo, que servia para mencionar a santidade, tinha ficado desenhada no próprio arco).

Claro que para agora podermos fazer estas leituras (e deduções), contribuíram algumas afirmações, por exemplo de Justino Maciel, que refere, sobre a Arte Paleocristã,  o seu crescente abstraccionismo.

 

Mais icónicos - e portanto de leitura mais directa, por não ter sido necessária uma transição ou intermediação para sinais de origem abstracta (como são os caracteres de qualquer alfabeto, ou as figuras geométricas) - foram os registos seguintes: ambos de Piero de La Francesca, que usou a concha (em escalas muito diferentes) nos dois exemplos retirados de obras suas:

Nicho-Concha_pinturaPieroDeLaFrancesca-b.jpg

baptismocrist-pin-PieroDeLaFrancesca-b.jpg

Na Igreja de hoje a concha ainda se usa para derramar água benta, na cabeça dos novos baptizados.

No entanto, por sua vez (e assim «entramos» francamente no espírito da polissemia medieval), na linguagem corrente, fora da Igreja, a água benta, é associada com alguma frequência à presunção ***.  Porque será...?

 

Mas de novo pergunta-se:

Qual o teólogo francês que referiu um "enchevêtrement" (ou um sobrepôr e «encavalitar» de sinais, e das ideias que lhes correspondem) muito característico da semiologia e arte medieval? 

E à pergunta responde-se já - aproveitando assim a oportunidade de revisitar alguns excertos (nossos conhecidos) que também ajudaram a compreender e a formar as hipóteses das teorias que (depois) passámos a defender:

Foi o caso de M.-D. Chenu, que em La Théologie au XIIe Siècle (1957), descreve o fenómeno da sobreposição de símbolos e de ideias, desta maneira:“…composent une amplification mentale et verbale, où la polyvalence native du symbole aboutit à d’inextricables enchevêtrements, littéraires et figurés." Reconhecendo ele próprio a multiplicação de alegorias, de analogias e correspondências simbólicas - “…un symbolisme innombrable, jusqu’à l’équivocité" - que, como dizemos foi típico, e está tão patente na Arte Medieval. 

Da qual, e ainda - querendo ou não - todos somos herdeiros...

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

*Acharão, quem sabe, que esses sapatos «mal-feitões», ou tamancos (?) nos servem. Para depois, como se ficou a saber - principalmente depois de termos passado pela FLUL -, então tentarem eles mesmos (os atamancadores de ideias) entrar nos nossos sapatinhos...

** Dizemos nós, já que FA, ora parecia perceber de geometria e entendia as imagens; ora, pelo contrário, mostrava não perceber, e me chamava geómetra...  Não se «sentia» que fosse presunção, pelo contrário, não dissimulava, em geral usando de grande clareza.

*** Quando se diz que de uma e de outra - "cada um toma a que quer". 


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