... é o título de um livro de Manuel Vilas (autor espanhol)
Estamos a lê-lo* e a fotografia abaixo tornou-se, por momentos, como um símbolo, ou mnemónica, deste livro
Porque nos lembra trabalhos nossos - aqui na R. de S. Bento, frente à AR - num tempo em que tínhamos a sorte (ou o azar) de ser bastante mais desconhecedores (para não dizer ignorante!).
De um tempo em que se projectava não tanto a pensar nas ideias (que hoje se chamam conceitos ;) ), mas em que, «muito alegremente», um trabalho começava geralmente, com os lápis e as canetas na mão - e os papéis também à mão, quase urgentemente, levados pelo prazer do desenho -; sem se discutir/conversar nada (ou quase nada) com ninguém.
O autor - arquitecto - era, por esses tempos (e ainda é) como que um grande caprichoso: alguém que sabia, podia e decidia. E se fosse questionado, em geral, a posteriori, então procurava encontrar alguns argumentos que fundamentassem o que já tinha avançado, talvez «a gosto»:
Ao seu gosto, ou ao gosto do cliente...
Para nós isto era o modo Arts & Crafts em que fomos formados. E em que atrás das formas, talvez muito pouco existisse (não sabíamos o que hoje sabemos), para além de uma «certa sensibilidade», e habilidade, sobretudo inata? Com motivações que eram pouco exploradas, e pouco investigadas.
E que o tivessem sido de uma maneira assumida, deliberada e consciente.
Dir-se-ia (agora) que eram o hábito e a práxis que co-mandavam a mão. Como se o projecto fosse mais gesto, do que cosa mentale, como os autores renascentistas defenderam (por exemplo Leonardo da Vinci terá dito isso da Pintura).
Claramente, muitos, os mais estudiosos**, poderão achar que escrever isto é injusto, e que sempre investigaram, muito, para fazer os seus projectos.
No entanto, por aqui, e honestamente, é esta a sensação que temos.
A de quem ao estudar história, fosse da Arquitectura ou a do Design (ao nível da licenciatura, nos anos 60-70...) era instruído - mas pouco -, para trás, ou anteriormente, à obra de Nikolaus Pevsner intitulada Os Pioneiros do Desenho Moderno. Obra que era quase obrigatória, e em geral todos lemos.
Insisto, verdadeiramente não tínhamos a percepção da imensa informação - a que hoje chamamos herança cultural, patrimónios intangíveis, que tinha dado forma (ou todas as formas) às obras que nos precediam, e nos rodeavam, nos ambientes em que vivíamos.
Concluindo e voltando ao título deste post (e ao livro que estou a ler):
Quando há décadas se desenhou o guarda-vento acima, então éramos muito mais impulsivos - ingénuos, supostamente inspirados e felizes - e isso às vezes resultava! Completamente ***
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*Depois de um solavanco, e de alguma dificuldade inicial, agora apetece ler, sem parar. Um livro que é uma espécie de biografia, estranha, por vezes a lembrar um brainstorm:
Um olhar para o passado, num misto de saudade valorativa, mas também, e em simultâneo, numa desconstrução impiedosa. Como se, de futuro todos fôssemos altamente prosaicos, e nunca mais capazes de compreender e justificar (com alguma ternura, poesia) o que fizemos, e o que fomos, talvez pela falta de informação (e formação) que então tínhamos ...
**Os que nunca avançavam no desenvolvimento dos seus projectos (e depois para as obras) sem longas análises e estudos demorados. Como se estes fossem semelhantes a «redes protectoras» que, garantidamente, os impediam de cair no mais fácil; ou em saltos no desconhecido que não tivessem previsto nos seus actos projectuais...
*** Lembro-me aliás de uma vez, uma cliente ter conversado comigo sobre este tema, em que ela, segundo defendia, dava muito mais valor à inspiração, do que ao estudo ou ao trabalho analítico, prévio, que a maioria dos projectos pode/deve exigir.