Na nossa geração a «desmaterialização» que a informática e os computadores nos têm trazido é um enorme passo em frente.
Mas educar, por exemplo na matemática, o ensinar a medir, sem precisar que um comprimento, em metros - mas podia ser em jardas (em côvados , ou em bengalas...): por exemplo o comprimento de um campo de basquete, com 28,00m X 15,00m. Não ensinar que essa medida, os 28 metros, é a relação dessa distância com a medida de um «objecto padrão» que ficou definido como metro padrão; não ensinar isto - ou não ensinar como as galinhas põem ovos e vivem no campo – é coarctar as novas gerações, por exemplo, do melhor da vida!
Dizemos nós...
Esta imensa ganância de desmaterializar, tudo virtualizando, como se todos fossemos Einstein; i. e., como se todos fossemos capazes de, mental e «abstractamente», viajar entre ideias e conceitos (sem ter na nossa mente) as correspondências materiais que lhes deram origem; isso é (na nossa opinião) a mais completa e a mais estúpida vontade de regressão cultural e civilizacional!
É uma vontade típica (ridícula e ignorante) destes novos ricos urbanos, desmemoriados, e desconhecedores da HISTÓRIA!
Mas também desconhecedores de tudo!
A de uns fascinados com tecnologias, as quais (as tecnologias) tiveram que fazer uma caminhada que tem milhares de anos, e que (eles) julgam que, com os avanços de 3-4 décadas mudam o mundo...
Como está aí, nessa série de materiais e objectos que hoje podem parecer lixo (e que ainda aqui os temos...), mas que, alguns desde aprox. 1960, ou bem antes (?), e até aos anos 90 do século XX, foram essenciais para produzir muitos dos instrumentos de precisão, os gadgets e todos os atouts, que neste momento estão na berra, e bacocamente, tão endeusados!
Só que, apetece perguntar: Até quando?
Donde a Questão das Touradas
É que é tão mais profunda, na verdade um verdadeiro iceberg, imenso, que anda para aí a flutuar, sem que ninguém pense nalguma vantagem que pode haver em controlá-lo*.
Para mim - e ainda do muito que estudei para uma «coisa» que iria ser um doutoramento -, esta problemática lembra-me dois super-conceituados autores franceses, da historiografia (da Arte, e da Iconografia):
Émile Mâle, que viu todo o Universo estampado na Arquitectura das Igrejas e Catedrais francesas. E, exactamente ao contrário, André Grabar que “...en 1955, (...) est élu membre titulaire de l’Académie des inscriptions et belles-lettres où il succède à Émile Mâle.”
É que apesar deste último ter substituído Émile Mâle na Académie, André Grabar nunca percebeu as correspondências, e aqui temos que dizer linguístico-simbólicas, que Émile Mâle viu materializadas na Arte e na Iconografia antiga.
Se a «Questão Civilizacional» das touradas é residual relativamente ao IVA - e à resolução de um défice que continua a ser preocupante -, ela é, para nós, um sinal da perca emergente, e hiper-acelerada, de muitos - quem sabe se não de quase todos - os elementos basilares da nossa civilização?
É que não somos marcianos..., não viemos de Marte...!
E esta civilização (terrena/terrestre), altamente securitária, que – e muito bem! – tem dado um lugar central à medicina e à saúde, está a pensar tornar-se totalmente virtual? Em deixar de ter os pés no planeta Terra? Estará a pensar em abdicar dos milhares de produtos e substâncias da natureza com que se fazem os remédios? Não vêem que está tudo ligado?
Os lisboetas novos-ricos, fascinados com a turistada**, estarão envergonhados com o interior do país, de onde lhes vem tudo, a começar pela água?
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*Sobretudo no ensino... esse iceberg precisa ser pensado.
**Não percebem que os turistas estão eles próprios fascinados com este estágio/patamar civilizacional em que nós - portugas (e por sorte) - ainda estamos?
Chamo-lhe Vintage, mas... - penso eu -, há aqui uma combinação de tradição e modernidade, que não é só inteligente. Acho-a fascinante. Que seja possível, e exista...
Talvez fosse boa ideia não a destruir...!?