Mais: estamos todos a confiar neles!
Os povos do passado que todos temos tendência para achar incultos, impreparados e desconhecedores (de toda a tecnologia), pelo contrário não o eram. Mas, claramente, as suas praias foram outras, noutros tempos:
Em que não se era websummiter “de aparência ridícula, e histeria ainda mais notória”. E portanto não aparecendo com «falsas Sofias». Porque a sua Sophia era, vernácula, i. e., verdadeira!
Ou seja, eram detentores de toda uma sageza (ou sabedoria ancestral) que não desprezavam, nem podiam, por ser o principal garante da própria sobrevivência...
Como escreveu Bernardo de Chartres, sabiam ser devedores a todos humanos que os tivessem precedido, por mais longínquos que fossem.
E aqui está a prova (imagem e texto abaixo) – dando assim continuidade ao post de 16 de Nov. -, de que as técnicas milenares ainda são válidas, e necessárias, hoje.
Como aliás vem a ser explicado pelo Min. do Ambiente, e oxalá não tenha ele/ou tenham todos, acordado tarde de mais?! Pois embora a desconfiar muito, ainda estamos a confiar: há todo um país a depender do seu trabalho...
Recolher a água em cisternas não foi uma sabedoria/técnica que ficou no tempo de árabes e moçárabes, ou que inclusivamente chegou ao “çaloyo” de Sintra*.
Sabemos que depois de 1640, no litoral que dá acesso a Lisboa (do Guincho a Cascais até à capital, estão lá, e algumas vêem-se**), com o intuito que tinham de evitar que os barcos espanhóis pudessem entrar nas praias (muito NOSSAS!).
Para isso foram construídas linhas de mosqueteria, fortins e pequenas fortalezas. E estas últimas, sendo maiores e podendo ter maior número de «soldados» aquartelados, precisavam de guardar mantimentos e água. Assim foram empregues técnicas, artes e saberes ancestrais, que talvez poucos saibam datar (?).
Lembro-me de em 1978-80s, ter visto em Pêra – no aglomerado interior, que mandava armar, para a pesca do atum, a que é hoje a badalada cidade de Armação... Aí, numa pequena propriedade rural, e sob uma eira de aspecto muito mais rústico do que a da imagem, vi uma cisterna antiquíssima***. Prevalecia, era valorizada pelos donos, como um “atout” contra a seca. Embora não fizessem a menor ideia de quantos séculos teria?
(De Arquitectura Popular em Portugal, edição do Sindicato Nacional dos Arquitectos Portugueses, Lisboa 1961, volume 2, p. 291)
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*Ver Physiologia do Saloio, de A. Da Cunha Sotto Mayor, Reimpressão Anastática, CM Sintra, 2005.
**Vêem-se, as cisternas por exemplo na Cidadela de Cascais; mas também se vêem os Fortes e as Fortalezas. Algumas ganharam visibilidade no séc. XIX, com as casas e os palacetes (neomedievais/neogóticos) construídos a aproveitar as estruturas pré-existentes. Não apenas pelas potencialidades desses locais e implantações, mas, já se defendeu, tirando partido de um sentido (“régalien”) que não deixavam de ter. Pois tinham sido mandados edificar, directa ou indirectamente, pelo(s) rei(s).
***Devo ter feito fotografias P&B (?) mas na minha mente, meio-desfocado, está a «foto» de uma cisterna quase tão perfeita quanto a do Convtº S. Francisco no Chiado. Embora de dimensão muito mais reduzida, talvez 12x12, em abóbada, com 4m, ou mais, de altura...?
E ainda se quer acrescentar:
Sei que são várias as igrejas, párocos e bispos que rezam a pedir a graça da chuva. Óptimo, rezamos todos!
Mas ouvi (em 16.11. 2017) uma Profª da Univ. Nova, na SIC, a explicar que na Austrália, ou em Israel, há bem menos água do que em Portugal. Só que, explicou, há toda uma cultura de prevenção e poupança, «a montante», dizemos nós, das orações a S. Pedro. Até porque depois, durante as chuvadas, tempestades e trovoadas, passa a ser Santa Bárbara - «a santa mais requisitada» de todos os Céus!
E entre S. Pedro e Santa Bárbara, a sério... - já que ora se pede a um, ora se pede a outro, parecendo um jogo de tenis (ou um Panthéon pagão)? -. (nós aqui) achamos demasiado «sintomática» tanta idolatria: Lembrem-se do Papa Francisco, e da sua pregação, que faz (talvez?) bastante mais sentido. Sobretudo exige seriedade