Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Jun 17
publicado por primaluce, às 18:00link do post | comentar

Explicado que está (ver post anterior) o nosso interesse pelo trabalho da Cristina Pinheiro, trabalho que veio apenas para dentro da instituição, mas que pela sua qualidade não só não deveria ficar limitado à instituição, como deveria ser projectado para fora, i. e., publicado; o facto é que de certo modo ele dá alguma continuidade - de maneira muito mais desenvolvida -, a uma parte das matérias que ensinámos, e às razões que em 1976 nos fizeram entrar para os quadros da Escola.

E assim sendo, queremos agora passar, definitivamente, à tarefa delicada (e honrosa!*1) que nos propusemos desenvolver.    

Claro que para este efeito houve que recolher, directamente no trabalho, elementos diversos que agora passamos a citar, aqui e ali quando entendermos, acrescidos de explicações que se julguem pertinentes, de maneira que ajudem a avaliar, mais e melhor, o trabalho amplíssimo e à partida difícil, que em nossa opinião, ficou muito bem feito.

Para começar deve-se dizer que o trabalho já tem 5 anos (2012), tendo sido desenvolvido no âmbito de um doutoramento na FAUTL, na (que é agora uma) área científica de Design.

Área que é completamente assumida, não à maneira de Louis Sullivan - “A Forma Segue A Função” - mas por se colocar numa perspectiva específica, própria da disciplina do Design, i. e., um Saber com metodologias próprias; em que se mantém o sentido de utilidade (acrescentamos nós*2).

Como é sabido este tipo de trabalhos tem que ter alguma dimensão (em parte para justificar o grau que se vai adquirir, mas também por ter a ambição de reunir conhecimentos que vêm de áreas científicas diferentes (por vezes autónomas), e relativamente às quais se pretende criar uma visão multidisciplinar. Sobretudo, um trabalho deste tipo deve querer ser original!

Assim, irá ser construída uma nova ideia (tese) em que de futuro, e para que por exemplo outros se possam apoiar nela, deve servir-se de casos práticos. O que aliás sucede no estudo em causa. E estes, por sua vez, devem permitir verificar/confirmar/provar as hipóteses que no início do trabalho foram colocadas pelo seu autor.

Hipóteses que depois de analisadas e retiradas as respectivas conclusões – darão consistência, ao que se torna, daí para a frente, numa verdadeira TESE. Razão para que a(s) metodologias de estudo, e de todo o desenvolvimento do trabalho (analíticas ou de proposição de ideias) sejam também elas verdadeiramente científicas.

Como já se escreveu o trabalho é longo - apresenta-se com 9 capítulos, obrigando-nos a fazer (aqui) um enorme resumo:

 

O Cap. I é a Introdução. Como em todas as teses dá uma ideia geral das intenções e daquilo que o trabalho vai conter. Sempre que se escreve a Introdução (na sua versão definitiva), norma geral o trabalho já está feito.

Desta destacamos uma ideia que se considera essencial, e que de certo modo abarca as motivações da autora, e a pertinência em querer fazer este trabalho: “(...). Pretende-se, também, que a abordagem ao tema da utilização da cor no design de comunicação visual seja menos intuitiva e mais fundamentada, ...”     [ver op. cit., p. 12].

Isto é, segundo a autora (e estamos completamente de acordo) em geral, nos trabalhos e obras de Design as opções cromáticas pouco obedecem a regras, sendo geralmente feitas com base na intuição. Sendo difícil, talvez (pergunta-se), conseguir ultrapassar esse nível operativo, pré-científico, e passar a ter sempre regras (bem mais) definidas e apertadas, para fundamentar as opções projectuais?

Mas, a este cepticismo, também opomos alguma experiência de projecto: é que quando há uma equipa multidisciplinar, tendo à frente o projectista coordenador, então os contributos de uns e de outros - especialistas ou consultores - , tornam-se mais conscientes (e portanto menos intuitivos). Sendo assim obrigatoriamente justificadas as mínimas opções de projecto, e o que se considera serem pormenores, ou pequenos detalhes.

Porém, note-se, frequentemente a Cor não é um detalhe!

 

O Cap. II intitula-se Acerca da Cor, incluindo Teoria, Sínteses (ou adições cromáticas – dizemos nós, conforme é cor luz ou cor pigmento); também trata de Sistemas - i. e., dos sistemas de registo ou de referenciação cromática – que alguém os inventou, para, com base científica e essa referenciação objectiva (que se pretende seja unívoca) se poderem diferenciar as cores. Assim como também trata da Percepção da Cor.

Em resumo, são conhecimentos que um designer que pratique a sua profissão de forma responsável e conscienciosa, um dia, mais cedo ou mais tarde, vai compreender a vantagem de os possuir.  

 

O Cap. III intitula-se: Sobre a Visão, analisando - O Aparelho Visual (humano); desdobra-se em sub-capítulos sobre a - Visão da Cor, A Visão Envelhecida e as várias doenças (não são poucas) que, frequentemente, podem afectar a visão.

Note-se que estes primeiros capítulos, embora muitíssimo mais desenvolvidos, coincidem com ensinamentos e conhecimentos que no passado eram transmitidos aos alunos. Portanto, para nós muito interessante e útil, caso o aluno esteja empenhado em trabalhar em qualquer área do Design, pois luz e cor, nesta profissão, nunca podem ser indiferentes (e o seu conhecimento insuficiente).

 

Já o Cap. IV, dedicado a Tipografia e Legibilidade para nós é substancialmente novo. Se o anterior precisou de cerca de 80 pp.  - o que não admira dado o grau de pormenor que se atingiu a querer explicar e apresentar uma série de patologias da visão. Assim, este outro capitulo (IV) tem cerca de 50 pp. Nele destaca-se a diferenciação feita entre legibilidade e leiturabilidade; passando depois pela análise dos vários factores que facilitam a leitura, e que são, por exemplo, não apenas o desenho diferente das letras (fontes), mas que também incluem, concretamente, o respectivo espaçamento entre letras, etc.

As duas imagens seguintes são mero exemplo, pois muitas outras, ao longo do trabalho, vão acompanhando o desenvolvimento do texto.

 

visãoInclusiva-3.jpg

Sucedem-se os casos, dando a ver aquilo a que o autor se refere...

 

visãoInclusiva-2.jpg

 

E aqui, mais uma vez lembramos, são matérias que devem interessar para a formação da maioria dos designers. Embora, francamente, não sejam (mesmo) “contas do nosso ofício”. Por isso, talvez tenha sido neste Cap. IV aquele em mais aprendemos*3?

Concretamente sobre o LER (ver p. 170) a autora registou: “... palavras compostas em textos têm como função comunicar ideias e pensamentos (...)“. E aqui ocorre-nos o que passámos a saber, por exemplo sobre obras de arquitectura ou escultura (antigas), tridimensionais, de grande dimensão, que foram como verdadeiros textos (ideogramáticos ou pictográficos?).

Lembrando por isso - já que simultaneamente desempenham essa função -, o que hoje são sinalizações visuais destinadas a orientar os utentes/visitantes (ou os viajantes) em vários espaços públicos.    

Mas este capítulo que como já se escreveu nos traz informações novas, também recorda outras informações com que (nos nossos estudos) várias vezes «colidimos». É que ainda sobre o que é a leitura (ver na p. 182) diz-se: “... usamos a nossa capacidade altamente desenvolvida para esquematizar o mundo que nos rodeia, neste caso usando imagens abstractas para representar sons...”.*4

 

Continuando a avançar no trabalho, vem a seguir o Cap. V - talvez um dos mais curtos (?), mas centrado numa definição relevante, que é a preocupação de esclarecer a noção de “Design Inclusivo”: porque razão deve esta área do Design ser considerada, e quais os seus objectivos mais específicos.

Abaixo um organigrama vindo da Introdução, regista as diferentes áreas da investigação que foi realizada, e nesta a articulação, ou o lugar que, no âmbito da referida investigação foi dado ao Design Inclusivo  

outras-notas-1x.jpg

Posteriormente vêm os Caps. VI, VII e VIII (talvez os mais trabalhosos?), onde, e como atrás se explicou, são verificadas várias das hipóteses formuladas:

O Cartaz torna-se aqui “objecto auxiliar do estudo”, o que implicou levantamentos, análises e interpretações de alguns destes «objectos»: ver Cap. VI

De igual modo, o grupo que foi estudado, assim como os resultados das observações que foram feitas por essas pessoas; tudo esmiuçadamente registado e trabalhado (ver Cap. VII). Levando depois a conclusões que estão contidas no Cap. VIII. Por isso o título deste capítulo, que também o resume:

“Projectar incluindo a visão envelhecida – Linhas de Orientação”.

Claro que neste ponto (Cap. VIII) já não há qualquer dúvida sobre a utilidade e as enormes vantagens de se ter feito o trabalho. Está-se perto do fim e podia ter sido o último capítulo. Acontece que a autora (e o seu orientador) terão querido deixar bem claro, não apenas as etapas e os novos patamares científicos que foram atingidos nesta área do conhecimento, mas também afirmar as potencialidades do edifício (do Saber) para cuja construção trabalharam.

 

Deste modo, a terminar está o Cap. IX que tem como título: Conclusões e Recomendações para Futuras Investigações na Área. I. e., numa Área Científica que reputamos como sendo da maior importância:

Porque se há matérias ou conteúdos científicos (teóricos) que se devem dominar, e que portanto devem ser transmitidos no ensino de Design e de Comunicação Visual, são forçosamente estes. E muitos desses conteúdos passaram a estar reunidos num único trabalho, feito já há uns anos, e do qual, sem que alguém nos explique, pouco se tem ouvido falar… Porquê?

Só que, acontece que este estudo permite aprender imenso. É bibliografia que se aconselha como complemento essencial a outros temas (básicos), que vão do Design (entendido globalmente), à Visão, à Iluminação, e até à operação específica que é a Leitura: i. e., incluindo as várias implicações (ou as operações) intelectuais/mentais – de Neurociências - que o «aparentemente tão simples» acto de LER pressupõe.

~~~~~~~~~~~~~~~~

*1 - Pelo que se aplica o "quem corre por gosto não cansa"

*2 - Já que várias vezes projectámos, unicamente para a faixa etária dos mais idosos, o que nos obrigou a conhecer algumas especificidades da visão – e/ou da sua falta -, no caso dos mais velhos. 

*3 - Por isso, alguns aspectos que resultam de interpretações nossas vão estar (ainda) num outro post. Concretamente a questão da leitura, que segundo é explicado se faz com avanços por “sacadas”. Isto é - como depreendemos -, por «sacadas visuais».

*4 - Idem a tratar em próximo post.


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