Quando, pelo simples prazer, nos pomos a desenhar, logo vêm ao de cima interessantíssimas questões: filosóficas, pois claro! Já que o desenho é muito mais feito com a cabeça, do que abaixo do pescoço, os ombros, o braço ou a mão
Concretamente, nos últimos dias temo-nos lembrado de David Hume, e daquilo que pesquisámos para escrever sobre Monserrate. Pois terá sido David Hume, que era amigo pessoal de Horace Walpole, quem inspirou o Commitee of Taste, que existiu, para ir acompanhando as obras de Strawberry Hill. Obra que por sua vez, é impossível desligar do Monserrate-I de Gérard De Visme.
A fachada abaixo, como se deixou escrito em Monserrate uma nova História - e chegámos a explorar esta questão (e a dar uma aula sobre o assunto) - pode ter tido, inicialmente, é muito provável, um arco quebrado. Mal desenhado, ao que parece, e até semelhante ao arco tudor: i. e., com alguns troços rectos e não curvos como é um (normal) arco quebrado, a que os historiadores chamam de terceiro ponto*.
Porém, também no Palácio de Monserrate, da fase inicial (de De Visme), estão lá vãos de verga em arco quebrado, cujo desenho deixa supor o que queriam ser, mas não conseguiram...
Enfim, quem sabe que esta casa foi inaugurada com um jantar em 25.07.1787, e que duas décadas depois passou ao Marquês de Marialva, pode perceber - desde que devidamente informado pela história, da arquitectura (mas também pela história de alguns personagens que por lá viveram e estiveram); esses poderão compreender alguns dos detalhes arquitectónicos que integram o desenho da fachada (e toda a casa). Concretamente, e apesar das várias campanhas de obras, a imagem que patenteia.
Como as intervenções de uns e de outros (e parece-nos ser difícil dizer quem foram), somadas, elas conseguiram produzir um cenário de equilíbrio e beleza, como é raríssimo em Portugal.
E por isto nos lembramos de Hume (e depois de vários outros, filósofos, que aprofundaram temas da Imagem e da Estética); exactamente porque as sucessivas intervenções na casa de Sintra terão sido também melhoramentos visuais, rumo a um «embelezamento», conseguido de facto.

Imagem vinda de uma casa e de um trabalho que nos diz muito. É também repositório de ideias que continuamos a defender***
Mas o que está na imagem, a base - notem os vãos do R/C e os do 1º andar, o seu ritmo: a acentuação da horizontalidade, combinada com o (sentido) vertical, que algumas molduras e pilastras acentuam; essa base vem dos primeiros tempos do Georgian.
O qual, por sua vez – já que nada acontece por acaso – se filia em influências que vêm de trás, também dos Países Baixos. E aqui há que lembrar que William (de Orange) reinou em Inglaterra com a sua mulher Mary II. Que os foram buscar num tempo em que a religião professada pelos reis se tinha que coadunar com as opções da nação, como um todo.
E desse todo (qual emblema) fazia parte a Arquitectura.
Isto que aqui deixamos hoje, é muito mais vasto. Está num trabalho que muitos consideram um doutoramento. Talvez (?) porque em cada capítulo há materiais para vários doutoramentos: diversas questões que levantámos e levantamos, já que apontam para uma Nova História da Arte, onde as relações forma (ou ornamento, integrante dos estilos) e respectivos conteúdos, foram muito ricas e directas (como a pobre cultura visual de hoje não permite admitir!).
Já escrevemos sobre esta temática**, que talvez agora se abordasse de maneira diferente, e que precisava de ter tido sponsors, uma verdadeira instituição de acolhimento, ou instituições universitárias onde a curiosidade, o gosto pela pesquisa e pela inovação fossem genuínas e não as falácias que são...
Há no entanto uma grande vantagem: é que ficaram informações que vamos relembrando e retrabalhando (também quando se está a desenhar).
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*Vá-se lá saber porquê? Talvez por a sua base ser um triângulo equilátero perfeito… (e pleonasmo)
**Ver em Monserrate uma Nova História, p. 17 em diante, ligando inclusivamente ao Palladian (ver p. 21), que é também uma marca da arquitectura portuguesa: no Porto e em Lisboa – onde por vezes se lêem as proporções estudadas e trabalhadas para conseguir atingir proporções harmoniosas e formas imediatamente simpáticas. Se a beleza de Monserrate é muito mais «intelectual», como também acontece no Palácio da Pena; já a Beleza da Casa de Seteais é muito mais imediatista/sensível. Tema da Filosofia e da Estética ou das Neurociências?
Certo que é que novas áreas cientificas permitem compreender melhor o passado
***Ver http://primaluce.blogs.sapo.pt/23711.html e http://primaluce.blogs.sapo.pt/28577.html
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