Inspirado na Nova História (de Jacques Le Goff) “Prima Luce” pretende esclarecer a arquitectura antiga, tradicional e temas afins - desenho, design, património: Síntese pluritemática a incluir o quotidiano, o que foi uma Iconoteologia
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Set 16
publicado por primaluce, às 15:00link do post | comentar

E, difícil, difícil, vai ser removê-la! Pois não parece haver algum produto químico ou detergente que limpe tanta sujidade...

 

Como é sabido, há muito que vamos pensando e escrevendo sobre os que tiveram sucessivas dificuldades para introduzir no Mundo Científico novas ideias que vislumbraram, por essas ideias contrariarem o que antes eram verdades incontestadas.

Claro que quando aconteceu (lá longe no tempo), nesses casos houve mentes perspicazes e capazes de emparceirar com quem descobriu algo de novo; houve mentes sensíveis à possibilidade de também esses, feitos parceiros, poderem pressentir (nem que fosse no ar que respiravam?) alguma hipótese de mudança.

E foi assim que algumas mentes se tornaram «parceiras» (hoje chama-se Centro de Estudos/Investigação ou Instituição de Acolhimento) de gente quase tão informada quanto os descobridores iniciais. E essas mentes parceiras apoiaram, com mais ou menos força, com mais ou menos clareza, as novidades que, como perceberam, eram enormes evidências que se estavam a perfilar, e não havia como as negar.  

Ora, como se esta História da Humanidade (também de Copérnico e depois de Kepler), não nos parecesse, agora, algo verdadeiramente impossível, para os dias de hoje; ou seja, já em pleno século XXI, ser inverosimilhante poder passar-se qualquer coisa de parecido, eis que uma situação desse tipo - embora de outra dimensão, quando comparada com a do século XVI – o mesmo, só que a outra escala, tem-se passado connosco...
Em situações em tudo primitivas e arcaizantes - como esta é -, claro que ao estarem em confronto, por um lado, gente muito pouco dotada (ou muito pouco votada e dedicada, principalmente à honestidade...). E, estando do lado oposto alguém que nada quer**; que repudia o poder e todos os bens que o mesmo pode dar, em prol da clareza e da qualidade do ensino que durante 40 anos tudo fez para concretizar, dando o seu melhor. É então que fica muitíssimo claro, que fenómenos completamente estúpidos e arcaicos como este é, podem também, e ainda agora ter lugar; sendo apanágio, a honra, ou quiçá um privilégio?, das «melhores universidades» portuguesas.

Principalmente das Universidades cuja qualidade é cada vez mais uma enorme falácia. Escolas onde - passou-se connosco - foi proibido aos professores mais antigos, e informados, de irem mais longe na sua normal leccionação, que era a transmissão de informação cientifica. A qual, pelas ordens recebidas, deveríamos passar a reter.

Assim como tudo o que de melhor e de mais evoluído (que já se ensinava muito antes, quando era apenas Ensino Secundário), esses professores mais antigos e mais conhecedores, soubessem e dominassem. Para que - à maneira auto-fágica e auto-destruidora do pior do capitalismo -  os alunos tivessem depois a necessidade (ou alguma vontade?!) de ficarem mais anos na instituição: a pretexto (óbvio) de assim poderem ir mais longe do que uma simples licenciatura.

Pois é, do que nos lembramos foi assim - esta «beleza de hortaliça» – a transição para o Modelo de Bolonha, na escola onde ensinamos há 40 anos!

Enfim, estamos só a referirmo-nos a entidades que apesar destes comportamentos basto contraditórios, ainda têm lá dentro «pessoas» capazes de se auto-intitularem como sendo da melhor Escola de Design do país!
Porém, e como há dias já lembrámos, a Terra move-se!

Ou, o Mundo e as nossas realidades comezinhas estão muito longe de ser estáticas.  

Tal e qual como Copérnico descreveu há cerca de 450 anos.

É que hoje há democracia na Ciência e no Conhecimento. Há jornais, há gente curiosa, há informações que circulam - e mesmo sem se ser especialista, ou menos ainda doutorado «em Design», é possível saber Psicologia, ler das temáticas e preocupações das Neurociências... É possível saber como se evoluiu das letras maiúsculas, para o uso da minúscula (chamada carolíngia), e o avanço que essa mudança, aparentemente "tão minusculinha", ou principalmente essa mudança mental, permitiu concretizar.
Hoje, apesar de muito poucos terem lido o De Revolutionibus de Copérnico, podemos ver que houve quem o apoiasse nas sua ideias. Foi o caso de Nicholas Schönberg, Cardinal of Capua (ler carta que lhe dirigiu há 480 anos). Como também podemos ver que Nicholas Copernicus se dirigiu ao próprio Papa, como a máxima autoridade a quem deveria expor as suas teorias.

Hoje (em que supostamente evoluímos?) todos damos por adquirido que a Terra não paira imóvel no Universo, ou, dentro deste, no nosso bairro que, dizem, é a Galáxia.

Assim como hoje também damos por adquiridas milhares de outras minúsculas mudanças, quotidianas, às quais não vamos resistindo, e as vamos aceitando (sem precisar de dar conta ao Papa, ou a pedir-lhe licença para actuar diferentemente). Mudanças que, sem nos apercebermos de toda a profundidade que podem trazer associada, vamos deixando que elas nos alterem a maneira de pensar, e assim conseguindo irmo-nos afastando das lógicas anteriores: talvez as do mundo natural?

Mundo - Natureza - onde por exemplo não existem os mais simples e recentes gadgets, que, cada vez mais estão a imprimir nos nossos cérebros novos processos e (muito curtos) circuitos, do pensamento e do processamento das ideias. 

São minúsculas «maquininhas» que servem para evitar que se canse a mente, com a vantagem de nos obrigarem a novas dependências: as que crescentemente (e alegremente) todos vamos tendo. «Novidadezinhas» que também divertem, quando nos lembram Eça, A Cidade e as Serras, ou ... a Loja do Chinês. Novidades que (como a minúscula carolíngia), nos levam a abandonar hábitos e processos antigos.

Para terminar: talvez que novas interpretações daquilo que a Arte foi pareçam obscuras - tal como Copérnico admitiu que as suas teorias fossem: "Even though what I am now saying may be obscure, it will nevertheless become clearer in the proper place."

Talvez... os círculos que referiu - “…nevertheless I knew that others before me had been granted the freedom to imagine any circles whatever for the purpose of explaining the heavenly phenomena…”- e as analogias que esses mesmos círculos sempre permitiram a todos fazerem; talvez tudo isso não tenha tido a menor importância!? Porém, na História da Arquitectura, eles (os citados círculos) ficaram lá e estão lá, muito visíveis nas obras.

Ainda mais: Estarão sempre numa Nova História - que sendo de um ramo da Arte há-de servir para ajudar a compreender as evoluções, ao longo de séculos, do que foi o Pensamento Humano. Mas, nada disso interessará nunca (Thanks God) à que se diz ser a melhor Escola de Design portuguesa!

Porque, precisamente – e, oh quanta ironia há em tudo isto! – trata-se da Escola que António Quadros fundou.

Onde o nosso rasto de 40 anos tem que ser apagado, logo, logo…

Onde há que ficar ignota e inglória… 

E, quando (se) se esforçarem por compreender, ou quando passarem a encontrar escrito, frequentemente (nos melhores autores que se vão publicando), como já nos acontece sobre a obra de Borromini*** - que foi influenciado pelas descobertas de Kepler (que por sua vez confirmou ideias e hipóteses de Copérnico); nessa altura o obscurantismo que «pressentiam» em ideias tão inovadoras a ponto de as temerem. Nessa altura o dito obscurantismo irá mudar-se, inteirinho, para retratar as ideologias deles próprios. Será um label aposto nas suas testas, que são de ignorantes que hão-de ser vistos e tratados como aquilo que estão a  ser: boicotadores do futuro.

Vai-se ver como tudo fizeram no passado - que está hoje e agora a ser o tempo presente… - para que o claro, o transparente e o luminoso, que poderia ajudar a humanidade a evoluir, não se pudesse perceber.

Por nós, é imensa a felicidade (que temos!) ao encontrar nos autores que o nosso ensino superior continua a ignorar, frases como esta, de George Hersey: "I hope that future architectural writers will begin to step more fully into this fascinating arena" 

Por nós, como Platão ou Copérnico, escrevemos e repetimos, dispensamos más companhias. Portanto,

"Let no one untrained in geometry enter here."

O que aliás não deve fazer grande diferença aos alunos?, já que conhecimentos científicos como é a Geometria, ou qualquer outro Saber que exija profundidade e espessura, na dita escola deixou de se transmitir...

~~~~~~~~~~~~

*Ler em PREFACE TO HIS BOOKS ON THE REVOLUTIONS

** A lembrar Os Homens Bons (de Arturo Pérez-Reverte), e os seus esforços para conseguir a obra de Diderot  e D’Alembert, que a censura proibira.

 ***Então, nesse dia, haverá um óptimo sinal? Porque, talvez seja o sinal, finalmente, de que eles leram… Que eles aprenderam, que eles evoluíram. Enfim, que talvez possam ensinar melhor aos alunos? Isto é, muito mais de acordo com o que tanto apregoam...


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