Citamos Barry Bergdoll, num excerto (a legenda de uma imagem*) que se vê na p. 143 da sua obra European Architecture 1750-1890, publicada por Oxford History of Art, em 2000. Porque, apesar de se detectar no século XVIII uma mudança de paradigma essencial (na forma de projectar, e como o Gosto, assim como vários fenómenos de Moda começaram a substituír as lógicas antigas e a relação entre Teologia e Arquitectura); por nós, na nossa perspectiva - e naquilo que nos fascina - continuamos interessados em esclarecer o que se passou relativamente aos chamados estilos históricos. Isto é, como se processou, desde o paleocristão, o uso e a permanência que se verifica das formas abstractas; i. e., das formas não naturais e invariáveis (ou invariantes como Kubler lhes chamou) que continuaram e foram permanecendo ao longo dos tempos - séculos ou até um milhar de anos -, inseridas em diferentes contextos visuais. Melhor, inseridas em espaços ou em superfícies muito mais amplas do que essas mesmas formas, que, esses sim (os conjuntos globais formados) deveriam ser reconhecidos por todos nós como expressão dos «verdadeiros estilos»**.
“Unlike the French, who preferred to subsume the national Gothic past into efforts to refine the classical language of architecture with new structural of lightness and openness, English Gothic Revivalists cultivated visual associations of Gothic pinnacles and ornaments. Asymmetry was actively cultivated in plan and massing to create a palpable sense of the passage of time, one of the fundamental preoccupations of the period´s obsession with history.”
Assim, face à passagem acima, há que o dizer, acontece que os estudos que desenvolvemos em torno do Palácio de Monserrate, e das informações infindáveis que desde então temos acumulado, hoje podemos ver que o Revivalismo Gótico (inglês) não foi exactamente, como Barry Bergdoll escreveu - o resultado de uma obsessão com a passagem do tempo... Nem sequer como muitos dizem (e talvez também nós o tenhamos dito?) consequência de uma «atitude romântica»...
Hoje podemos ver, com enorme clareza, como aquilo que escreveu Maria João Baptista Neto (ler exemplo já a seguir), foi, por sua vez, muito influenciado pelo espírito de um tempo: em que não se admitia, que pudesse haver (ou ter havido) a referida relação «hiper-directa», com uma influência tão forte e tão íntima, da Teologia sobre a Arquitectura.
Num tempo em que (em geral) ainda se supunha que os Estilos atravessavam a Europa de uma ponta à outra, sempre uniformes, como se não tivesse existido a Reforma e a Contra-Reforma Romana. Como se algumas variantes locais (incluindo não só o que passou em Inglaterra, mas também em diferentes regiões europeias), não tivessem sido esforços, denodados, para, exactamente exprimirem a fé de diferentes povos. Povos a que ainda hoje chamamos bárbaros - os que chegados à Europa Cristã em tempos e condições diferentes... - tudo fizeram para aderir a essa fé, para serem aceites.
Mas, sinais que usaram para se mostrarem também eles cristãos, nalguns casos insistindo (muito) nas suas próprias especificidades. Caso dos Normandos, dos Lombardos, dos Ostrogodos e Visigodos, etc., etc. Sendo alguns destes povos germânicos, que ainda se identificavam com Carlos Magno (como seus herdeiros/continuadores), que foi o primeiro Imperador de origem germânica.
Facto que - é fortemente provável - não deixou de influenciar a Reforma e os povos que a ela aderiram; assim como, também, as formas e os estilos ditos artísticos que depois dessa Reforma religiosa (também política), passaram a estar inscritas nas obras dos referidos povos, e dos países que tinham tido essa origem germânica***.
(ler aqui)
Assim, a página acima merece ser (re)lida. Não só por haver alguns pontos de contacto com o que Barry Bergdoll escreveu, como também (é verdade!) porque Maria João Baptista Neto, registou ideias que estão nos antípodas daquilo que B. Bergdoll, por sua vez, já avançou e defendeu sobre essa associação (arquitectura-teologia): ou seja, muito mais directa (do que em geral se supõe), entre vocabulário formal e ideias (por vezes ideias dogmáticas) ou noções teológicas.
Em resumo, o post que os nossos leitores vêm ler, repetidamente, e que intitulámos Diagramas Medievais, algumas dessas imagens são antiquíssimas: são de origem mnemotécnica. Ou, dito de outra forma - hoje, em que as Artes Mnemotécnicas começam finalmente a estar mais conhecidas, e estas palavras a serem usadas com pouco rigor (ou só por ser moda!) - dir-se-ia que se tratam de imagens nascidas num Pensamento Visual.
Isto é, e já o escrevemos, o Pensamento de quem como nós, ao ter dificuldades em compreender e abarcar todo o sentido de uma frase, então recorre ao desenho - a esquemas e a rabiscos como Christopher Alexander já explicou - e vai registando em imagens aquilo que as palavras lhe «estão a dizer».
Enfim, mais ou menos semelhante ao doodling, praticado por vício, ou o impulso de riscar e fazer imagens: não só imagens interiores chamadas mentais. Mas também as imagens que se vão fazendo durante uma conversa, ou uma explicação, para melhor elucidar o que se pretende transmitir.
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*Planta da Casa de Horace Walpole, Strawberry Hill, que também incluímos no nosso trabalho.
**Explicar isto, só ao vivo (desenhando e explicando), porque para ser compreensível é preciso antes «preparar» os que querem compreender o fenómeno; porque são necessárias, também, várias distinções que hoje não são habituais, já que se está num tempo em que tudo se confunde, e anda muitíssimo baralhado!
***Explicando-se assim, bem melhor, as motivações para os Revivalismos Góticos do Norte da Europa.