Falamos de sínteses, de sínteses de ideias: estão num documento chamado lisboa passport
Quem eventualmente tenha lido o nosso perfil pode ter apreendido uma declaração de amor à Baixa Pombalina? Mais concretamente, a algo que é também legível na arquitectura portuense, que é o seu palladianismo.
Dir-se-ia que este é ainda temperado por uma boa dose de sinais que estão no georgian: i. e., a corrente estilística em que o classicismo está combinado com sinais da arquitectura cristã. Não apenas uns "arabesques" (também conhecidos por "entrelaçados") colocados aqui e ali, mas sobretudo vãos com proporções estudadas - num tempo em que o (bom) gosto se estudava e discutia - e alguns vidros coloridos com desenhos que já Félibien tinha deixado no seu Tratado. Sendo em geral esses vãos com bandeiras curvas (fan windows) com diferentes tipos de trabalhos, e pinásios, que podem ou não ser radiais a lembrar o leque da designação em inglês...
Mas, continuar a tentar sintetizar as características do georgian, que embora não sendo um estilo português (mas por aqui bastante abundante) para falar do lisboa passport pode ser um gosto imenso, apesar de não deixar de ser um gasto excessivo: por ser uma «memória e percepção» que é nossa, que a maioria não tem, e por isso muito menos valoriza. Também porque é um fundo em que esses monumentos estão, e depois porque, aliás é sabido, nunca ninguém segue um solitário (só quando forem muitos, e for visível, então a multidão imita, «macaqueia»...).
Assim, lindo, lindo - ou linda!? - é a miniaturização desenhada (ou sínteses que foram depuradíssimas) de alguns dos mais belos exemplos da arquitectura lisboeta. Monumentos que também sabemos terem sido memoriais e sínteses de grandes ideias. Sínteses que nem sempre são macros mas sim micros (porque é nos detalhes*, algumas vezes quase microscópicos, que estão alguns dos vocábulos visuais e elementos mais falantes das obras), que por isso desaparecem nestas miniaturizações de que estamos a escrever. Ficando as linhas gerais, volumes principais.
E essas miniaturizações (ou resumos), por vezes são equiparáveis a sínteses (mas, atenção, nem sempre!).
Neste post sobre "sínteses de sínteses de ideias" quando se lê a história do inventor/criador do lisboa passport - Nuno Martins - percebe-se a sua imensa sensibilidade, o amor que pôs nos desenhos dos monumentos que miniaturizou, como se fossem vistos de longe. Percebe-se, como bem sabemos, que estes tempos de destruição de valores, e de pessoas, obrigam a uma imensa luta por tudo aquilo em que se acredita**.
Por fim, há que o dizer (como fez Pedro Falcão/Simão Aranha para o seu Cascais Menino), que este país pequenino e «miniatura muito queridinha» um dia há-de crescer. Espera-se.
Ou, como inspirado na Expo 98 e assim transformado para - turista consumir-, percebe-se também como a zona central de Lisboa «virou» uma espécie de grande feira do tipo disneylisbonland?
http://www.lisboapassport.pt/index.php/pt/carimbos
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*É sabido como muitos gostam de afirmar que "o diabo está nos detalhes", mas, por nós - que sempre soubemos que um edifício ou uma ideia se exprime primeiro nas suas linhas gerais, passando depois aos pormenores ou aos detalhes. E é assim o método de projectar (se houver metodologia e o seu ensino?), por nós nunca diremos que o diabo está nos detalhes. Porque a qualidade, e o que diferencia são precisamente os próprios detalhes.
**Lutar por aquilo em que se acredita: como por exemplo se alguém tivesse lutado para que carrinhas ilegalmente superlotadas de imigrantes não atravessassem a Europa para os trazer de volta às suas aldeias, como há dias sucedeu. Se essas lutas acontecessem, sem desistências, talvez não tivéssemos que lamentar acidentes graves e percas de vidas?
Porém, há sempre ganância bastante: quem queira validar o inseguro e o ilegal, a pretexto de que nunca houve nenhum desastre...