...o nosso post anterior acabou assim:"...este é também o país em que certas instituições são verdadeiras amostras, microcosmos/cadinho que retrata na perfeição o país."
Claro que a nós nos aconteceu, talvez cedo de mais?, ter aprendido a levar a vida demasiado a sério. A não ter gozado um tempo da maior leveza e de uma (grande ou será só normal?) irresponsabilidade que as gerações mais novas mostram estar a viver e a «querer curtir», ainda agora que têm 40-50 anos, prolongadamente.
Quando nos aparece um Projecto para Normas de Ética a aplicar em instituições de ensino, e vemos nelas (uma a uma nas ditas normas) uma série de banalidades, que nada trazem de novo - absolutamente nada - a não a ser o facto de se apresentarem como algo de necessário e extraordinário, que não é mais do que aquilo que sempre fizemos. Assim, face ao dito Projecto claro que a nossa surpresa é colossal, mas também são ainda outras as reacções:
Por exemplo - e atenção que estamos numa postura introspectiva, em que nem sempre se é imparcial, embora se tente sê-lo, ao máximo para poder tirar conclusões. Por exemplo, ocorre perguntarmo-nos:
Mas isto que sempre fiz, desde que me lembro de ser gente..., afinal onde é que aprendi isto?
Re: Na catequese cristã (depois dos 6-8 anos?); em casa (mas as famílias têm enormes diferenças...); nas aulas de religião e moral dos primeiros anos do liceu; nas aulas de Psicologia, Filosofia e numa disciplina chamada Organização Politica e Administrativa da Nação...?
Porém, stop já aqui!, porque estamos a escrever e elencar realidades que no passado eram «mais universais», e que hoje são vistas não apenas como particularidades só de alguns; mas também como «realidades-mal-amadas» (ou até odiadas?), integrantes do que hoje se considera ser «politicamente-hiper-incorrecto».
Ou será que aprendi «by myself», quando a partir dos 16 anos passei a dar explicações, com o sentido de responsabilidade que essas actividades implicaram?
RE: Mas estas foram num contexto muito especifico, para os vários filhos muito seguidos de uma família cuja mãe trabalhava e precisavam de alguém mais velho que nas férias os fizessem sair da cama, ir à praia, brincar-aprendendo, mexer em barro, desenhar, pintar: fazer alguns trabalhos de casa e de férias pelo meio... O que leva a outra pergunta:
Mas, por exemplo, em actividades dos Escuteiros e Guias, não há actividades iguais ou equivalentes a estas?
Serão os Professores Doutores de hoje tão assépticos, tão normalizados e parametrizados que não tiveram infâncias normais? Não viveram realidades, reais? Não andaram em Escolas? Não conviveram com mais novos e mais velhos? Não interiorizaram relações de respeito - para cima e para baixo? Entre iguais e diferentes em que se aprende e ensina, em que se admira e se ensina a admirar, ou a seguir exemplos?
Re: Pois, na verdade não foi uma pergunta foram várias encadeadas, que levam a ter que admitir que em geral as nossas experiências de vida podem ter sido únicas: i. e., sendo todas muito diferentes do que hoje se vive?
Mas..., e nas suas formações, nas leituras e materiais teóricos que normalmente se absorvem e integram para adquirir conhecimentos e graus académicos; para investigar, nunca houve exemplos de humanidade que encontrassem, ao lado...? Lá, nessas matérias, não havia uma mini-amostra de pessoas que mereciam Ética, tratamentos normais?
Nunca houve exemplos que os tocassem ou os fizessem descer à realidade da vida? Ao "Take Care" que a cultura anglo-saxónica em interjeições e saudações, constantemente invoca? A mesma cultura que os autores do dito «Projecto» bebem por tudo e por nada, e papagueiam como autómatos, não lhes trouxe nada de novo? Não detectaram que aí a Ética é uma preocupação central, coerente e não avulsa? Até aos 40-50 anos... eticamente nada os tocou? Será preciso escrever um conjunto de normas para passarem a actuar eticamente? E depois desse conjunto de normas - em que agora, momentaneamente, parecem estar deveras empenhados; depois de estar escrito ele apaga o seu próprio passado, as incorrecções que praticaram: essas NORMAS vão torná-los inimputáveis mais às verdadeiras barbaridades que inclusivamente têm praticado (?), a pretexto de que antes não existiam NORMAS DE ÉTICA**? Não saberão que de nada serve invocar o desconhecimento da Lei?***
Deverá deduzir-se que a Ética do mundo contemporâneo, e a que está na mente das pessoas que a deviam ter, e sobretudo automaticamente praticar; será que esta Ética de hoje - a que agora apressadamente vêm propor - é como os cartões perfurados com que trabalhavam os primeiros computadores? Re: Se sim? Estamos elucidados...
Que vivam muito e longamente, essas vidas ricas, interessantíssimas que têm tido, e assim têm ainda mais pela frente: de gente que é igual a «cartão perfurado» incapaz de cruzar dados:
Porque não está lá o furo, porque nunca viram a norma...
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*Este post não é sobre o caso político do dia, sendo bastante mais generalista
**É impossível não troçar destes jogos típicos de «crianças que não sabem perder», ou de gente que tendo necessidade de dominar está sempre a mudar regras..
***E para tanta ignorância há remédios óptimos