...leia-se o que consta em Tomás Taveira - Architectural Monographs, nº 37, Academy Editions, London 1994:
“For this factory the poetic idea was more or less the same as that applied to the record shop** (…) inspiration was also found in another period of artistic creation , that of Roman and Gothic architecture, particularly in Lisbon’s oldest cathedral (built in the 13th century). The original project was intended to be of a larger scale, but today it still lacks the administration building and social and leisure area. Paço d’Arcos, Portugal, 1968-70)".
Face a estas informações é impossível, não ser tentado a sublinhá-las, a enfatizá-las (ou seria gritá-las a quem enterra a cabeça e os ouvidos?). A dizer-lhes: olhem, vejam e entendam o que está escrito;
É que apesar de ser (agora) inacreditável, no entanto, no final da década de 60 em Portugal – pelo depoimento do autor das obras - houve quem fizesse arquitectura inspirado nos estilos da arquitectura religiosa, medieval!
Está escrito com todas as letras, não fomos nós que olhámos para as formas arquitectónicas da obra e nelas vimos alguns sinais ou resquícios de medievalismo...
Porém, especulando, e visto que hoje de tudo isto temos perspectivas muito mais informadas, sabendo bastante mais do que sabíamos nos anos 70 - em que estudámos linguística aplicada à arquitectura; ou quando inclusivamente fomos alunos de TT. Hoje (em 2016) olhando para outras obras contemporâneas da Fábrica da Valentim de Carvalho, como também o são vários edifícios lisboetas, de uma zona central da cidade: a igreja do Sagrado Coração de Jesus, o edifício Castil, e também o que ficou chamado Franjinhas; edifícios que são todos estes razoavelmente influenciados pela Arquitectura Inglesa do pós-guerra. Ou, olhando para várias outras obras da mesma época, em que há habitação, hotéis - e também se destacam várias igrejas -, neles (re)vemos facilmente a influência da divulgação feita pela Architectural Press, concretamente o Architect’s Journal e a Architectural Review
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* Repare-se que estamos a chamar Programa Estético àquilo a que, por vezes, damos outro nome. Isto é, seguindo Vitrúvio (ou o que dele nos diz J. Maciel), muitas vezes temos preferido usar, em alternativa, a designação “thematismos”, que achamos ser bastante próxima de Programa Estético. Mas, aqui somos nós a dizê-lo, numa área científica em que muito está inexplorado. Ou talvez fosse melhor dizer em que tudo está híper-confuso. E, híper-confuso por ser necessário que muitos mais compreendam que a Arte tradicional do Mundo Ocidental na sua génese, é uma Iconoteologia. E só quando isso acontecer se poderá avançar em aprofundamentos do que são por exemplo os Programas Estéticos, os Thematismos, uma Kalocagatia, assim como as noções de adequação ou conveniência formal/estilística que o século XIX desenvolveu e vieram a confluir (depois de Viollet-Le-Duc e William Morris) nos excessos funcionalistas do século XX (que ainda agora perduram). Uma conveniência formal/estilística que fez com que certas tipologias arquitectónicas - bibliotecas, colégios, prisões - tenham tido, obrigatoriamente, as formas de um determinado estilo. E os melhores exemplos, como defendemos (somos apenas nós com esta justificação, que se deve registar - Glória Azevedo Coutinho,27.02.2016-http://primaluce.blogs.sapo.pt/sobre-a-fabrica-da-valentim-de-carvalho-310018) estão na área da Justiça, com a adopção de formas medievais ligadas a Deus e ao sentido de direito divino da realeza (o caracteristicamente régalien, como se diz em francês)
**Loja de Discos da Valentim de Carvalho, em Cascais, Rua Direita (fotografias de 29.02.2016)
Em Iconoteologia:
Armilas e Órbitas (precederam a Ogiva) hoje no Palácio da Pena