Por razões, muitas e variadas, normais e até (algumas vezes) «muito úteis», o Ocidente perdeu "traços distintivos": ou seja, estamos de acordo, perdeu um conhecimento que no século XIX ainda detinha. E - como aliás escrevemos nos posts mais recentes - perdeu o conhecimento das suas próprias raízes.
Isto de que escrevemos, o Ocidente tem-no feito várias vezes, e até, nalgumas situações, de modo muito deliberado. Mas também, sem a percepção das consequências (idem, as boas e as más) desse mesmo facto. E isto, insiste-se, aconteceu por uma grande diversidade de razões: quer as mesmas tenham sido decididas de maneira leviana ou não (?). Como se vê, é um esquecimento inconsciente (ou a perca a que se referiu o Cardeal Ravasi) que tem tido, e está a ter, sequelas e consequências...
É que da mesma forma que nós nos perguntámos (vezes sem conta), sobre o que aconteceu há séculos atrás, que está documentado, e de que nos apercebemos por termos investigado aprofundadamente. Outros (muitos outros...) podem nunca ter deixado de o saber!? Temos aliás alguns exemplos disso...
E por isto, já se registou, a nossa descoberta do mestrado é o verdadeiro Paradoxo Científico!
Portanto, as nossas investigações que nunca foram para ter cargos académicos (nem nenhum poder - fosse onde fosse)... mas estudos que foram apenas, primeiro, para progredir normalmente na Carreira Docente: como existe concebida e preconizada no Ensino Superior em Portugal, e também na Europa. Investigações que, é sabido dos professores e orientadores, muito cedo nos deram a certeza da necessidade (para que obtivéssemos respostas), de uma necessidade de mudança de foco. De passarmos do que é considerado um universo estritamente artístico, para a área politico-religiosa que, aliás, para alguns (como é o caso de Martin Kemp) a História da Arte Europeia tão bem demonstra.
Para obtermos respostas que, logo que começaram a surgir-nos, em 2002 na Faculdade de Letras, começaram também logo a ser «escamoteadas». Por nos termos começado a aperceber que toda a sinalética e emblemática de D. Afonso Henriques - desde os selos que punha nos documentos, às formas da arquitectura - que eram todas formas com a mesma origem: concretamente eram tudo sinais do Deus-Cristão, trabalhados em sucessivas transformações: i. e., sempre «derrogados» para acomodar esses mesmos sinais aos espaços em que deveriam ser incluídos.
Assim, os "traços distintivos" de povos e monarquias (acrescentamos nós) - de que falou o Cardeal Ravasi em entrevista recente* - estavam plenamente imbuídos, numa simbiose fortíssima, que hoje todos querem desconhecer; estavam imbuídas, repete-se, de um espírito/noções e ideias, que eram comuns ao chamado Poder Temporal, mas também àquele outro Poder (o divino) que, historicamente, todos os chefes europeus, do Ocidente, e desde o século IV, tinham respeitado.
Podemos até escrever, "traços distintivos, sinais, emblemas, arquitectura e arte", que todos veneraram e adoraram desde 325 em diante (leiam Jean-Marie Mayeur, que o Cardeal Ravasi certamente conhece).
E se o Ensino Superior contemporâneo quer ignorar isto, em suma, quer ignorar tudo!
É que não podemos andar todos a dizer, e a proclamar, que muitos dos problemas actuais do mundo se resolvem com mais Conhecimento e com mais Saber, e no momento em que (quando), exactamente se percebem, e foi por acaso o que nos aconteceu, muitos dos enganos e «logros»** - colectivos - em que as sociedades actuais têm vivido; nesse exacto momento, tal é a contradição (!), surgem os mais responsáveis (numa ladainha que tem sido vergonhosa e para nós inclassificável), a dizer: "esconda, esconda, esconda. Ponha para trás!".
Ou ainda a outra, que também tivemos que ouvir, e esta em Vila do Conde, durante o 4º Encontro de História, em Novembro de 2005, quando percebemos que na Igreja Matriz (repleta de iconografia a que todos chamam Manuelino), notámos sobre uma porta várias letras entrelaçadas, como são os Círculos Trinitários do Liber Figuraram de Joaquim de Flora.
Pois nesse dia brindaram-nos com um: "Esqueça, esqueça, esqueça!"
Naturalmente, para quem como (nós) Projectista, sempre teve que reflectir e colocar à vista (e não a esconder!!!), em trabalhos que estão acessíveis a todos, ou ao público em geral, aquilo que aprendeu. Alguém que laborou e investigou, quer nos seus trabalhos académicos, quer ainda nos seus trabalhos profissionais, para fazer obra; claro que para nós um "Esconda, esconda, esconda!", ou o "Esqueça, esqueça, esqueça!" é algo que não faz o menor sentido!
Porque é a mais absurda das contradições, do que são os objectivos e a razão de ser do Ensino Superior.
Agora, exactamente 10 anos depois de termos acabado o que foi um mestrado - e hoje é muito mais do que isso. Num tema que deveria ser para a Universidade, para palmilhar milímetro a milímetro, e portanto demoradamente. Aqui está, nas palavras de alguém - concretamente do Cardeal Gianfranco Ravasi, equivalente ao Ministro da Cultura do Vaticano - o que em nossa opinião tão bem demonstra a importância do trabalho que fizemos. Feito, primeiro a propósito de Monserrate, e depois daquilo que uma imensa informação - da máxima qualidade - a que Monserrate nos permitiu aceder. E a partir dessa informação começar a captar e a entender.
Leiam e oiçam, talvez percebam para que serve o Conhecimento que se investiga e obtém em Doutoramentos (como nos sucedeu). Conhecimento que a Universidade tudo faz para esconder.
Pelo que captámos, achamos..., que será para tudo menos para esconder! Mas enfim, é o mundinho medíocre em que se tem que viver.
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*http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=176659
**A bibliografia de best-sellers e romances que avidamente muitos compram e lêem. Que explora o inconsciente colectivo, mas não dá uma única resposta...
(ao contrário do habitual a imagem está extra-texto para não distrair - clic para legenda)