Por razões que têm ficado registadas neste blog e em Iconoteologia, hoje consideramo-nos «especialistas» no que deve ser visto como aquilo que foi a "Materialização, na Arquitectura, do Saber e da Cultura Europeia" (antiga*).
Ora aquilo a que se assiste (e inclusivamente o Papa Francisco referiu-o há dois dias), é a uma total desmaterialização desse Saber.
E aqui quero lembrar o que se passou connosco no início de um curso de Moodle: já que devo à colega Isabel Farinha, uma nota muito inteligente (e um alerta, porque ficou «a ecoar» uma frase dita distraidamente....):
Nota que nos traz a algumas reflexões que continuamos a desenvolver, e que são exactamente sobre a actual Desmaterialização da Cultura**.
Como ontem se escreveu tudo passou a ser Le Numérique - como dizem os franceses, e portanto também cada vez mais desmaterializado, ou tornado ausente: porque se remete para um site, para o facebook ou para um link, realidades mais distantes (por serem inacessíveis, durante a maior parte do tempo***).
A Cultura (material) e as suas principais Ideologias (plasmadas em Ideogramas), no passado constituíam o cenário das cidades e das casas de cada um.
Hoje, como sabemos, o que nos rodeia é o INSIGNIFICANTE:
Porque não quer aludir a quase nada, a não ser constituir Formas Simpáticas: como David Hume ou Adam Smith se lhes referiram.
E essa(s) forma(s) simpática(s) quando são icónicas, como está abaixo, ainda lemos nelas alguns sentidos. Mas, caso surjam, como também desenhámos, anéis entrelaçados ou laços, nessas formas vê-se apenas o decorativo e não o sentido (propositado) com que as desenhámos. Acontece que as Formas Abstractas da Arquitectura antiga, eram tradução de Ideologias (enquanto colecção de Ideias) e portanto remetiam - para os que as vissem, os que soubessem Geometria, ou tivessem sido ensinados sobre os seus sentidos (significantes); ou seja, remetiam para essas mesmas ideias: como as letras dos alfabetos nos remetem quer para sons, quer, logo de imediato (nas palavras que formam), para significados.
Por aqui estamos cientes, cada vez mais, que o ensino de hoje, nalgumas escolas, é apenas dirigido ao imediato (e portanto a hoje e não ao futuro):
Não é dirigido ao Saber Pensar, que é de todos os tempos, e muitos desses tempos já estão para trás. Logo não é intemporal, logo não é dirigido ao Saber Criar.
Em suma, não agilizando meios, e agarrando-se os alunos apenas ao que superficialmente é só de hoje - sem saber o que lhes trará o futuro (em tempos que em muito muda a uma velocidade vertiginosa) - não se está a ensinar:
Está-se só a dizer-lhes como carregar no botão.
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*Como um facto concreto, independentemente do que alguns possam colocar, relativamente a modéstia ou imodéstia, porque esse ponto é outro assunto...
**Embora a ideia de Machina Memorialis contida no título de um livro de Mary Carruthers, seja coincidente com o conceito do "Saber que se Materializava".
***A não ser que todos passássemos a usar (e nos tornássemos dependentes) de uns Óculos com monitor incluído, de que um jornal deu notícia há dias: Ver Destak de 20.11.2014, p. 09: "Google Glass em 'stand by' ". Mas é claro que devemos estar conscientes das vantagens e desvantagens, dos caminhos que toda a sociedade está a escolher.
Ver ainda: http://www.questionner-le-numerique.org/le-numerique-influence-t-il-la-pedagogie