E este "pejado" ou repleto, ao contrário do que alguns podem pensar, não se pense que são os professores. Alguns são-no - é normal - mas principalmente os «mais hiper-sensíveis» claro que são os alunos.
E portanto, naturalmente também sabemos que esses mesmos hipersensíveis são «as próprias das galinhas dos ovos de ouro» que enchem as escolas. Quer as do Ensino Artístico Público, quer ainda, por maior força de razão - que é a fragilidade dessas pessoas - as escolas do Ensino Artístico Privado.
Talvez ao vê-los, muitos deles com piercings e ainda toda a restante panóplia de adereços de que por exemplo fazem uso os chamados góticos urbanos (que alguns são, mas não todos, claro); talvez alguns pensem que as suas almas são duras como os cintos, os pregos, ou os blusões pretos que usam. Talvez pensem, mas enganam-se redondamente, por ser exactamente ao contrário!
As suas almas - e por isso não estamos a dizer espírito - elas são cândidas, boas e ingénuas. Vêm da província profunda, alguns, mas outros vêm do Algarve cosmopolita e são quase iguaizinhos. Apenas se cruzaram mais com estrangeiros: e talvez por isso o seu corpo mexe-se mais (?); são aparentemente mais livres e desenvoltos - com mais ar e sal respirado ou inalado, mas quanto a sensibilidade vai tudo dar ao mesmo...
Tal como a aluna alfacinha que se transporta numa bruta moto, onde na sua cabecinha aparentemente altiva continua a haver uma hiper-sensibilidade, imensa, que vive escondida atrás do que parece ser uma fortaleza, mais ainda a respectiva barbacã (e um corte de cabelo que é «imagem de marca»).
Enfim, hoje só não aprende Psicologia quem não quer, e portanto sabemos que as ditas almas que são também, cumulativamente, as tais «galinhas dos ovos de ouro», têm que ser normalmente (ou especialmente?) bem tratadas.
Mas se fossemos à Historiografia da Arte, aos mais avançados dos estudiosos, como Hans Belting, Dana Arnold, ou aos franceses mais evoluídos, lá se encontraria a imensa importância que agora é dada à Psicologia, quer para fazer quer para estudar e analisar a Arte. Aliás, como consta no próprio Umberto Eco: não é a Estatística ou a quantidade de informação, repetitiva e medida (nas obras dos estilos artísticos, históricos), que define a qualidade das obras. É sim a invenção, a subtileza de novos entendimentos, que raros autores atingiram. Como por exemplo fez Guarino Guarini no tecto de S. Lorenzo de Turim.
E por este exemplo perguntamos: como seria hoje a História da Arte se não tivessem existido as invenções de Guarino Guarini? De quem pegou em Ideogramas Medievais (muito específicos e com desenhos riquíssimos) e os trabalhou de uma maneira até então praticamente não experimentada (à excepção, talvez, de algumas obras moçárabes, bastante mais antigas).
Mas apesar desta ser uma visão contemporânea (e globalmente talvez só nossa?) lembramo-nos bem que no nosso trabalho dedicado a Monserrate, foi num autor que hoje está bastante esquecido que encontrámos essa maior importância dada à Psicologia.
Foi René Huygue que nos lembrou, e citámos*, "le tréfonds de l'artiste" e o seu carácter absolutamente individual. Por isso agora sublinhamos, igualmente, o seu carácter que é também ainda: precioso, valioso, criador e criativo.
Para concluir, e tendo em consideração a mudança das mentalidades, quer-se afirmar o que é óbvio (e ainda hoje muito válido): não é com modos belicistas, da tropa ou de caserna, que se está, seja em que condição for... - do porteiro ao topo da hierarquia - no Ensino Artístico!
Que estejamos a ser também nós muito ingénuos, e o objectivo mais específico seja exactamente a destruição do que é hipersensível, hipervalioso, e também hiper-rentável?
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*Sobre a sensibilidade e a criatividade do artista ler em Monserrate uma Nova História, por Glória Azevedo Coutinho, Livros Horizonte, Lisboa 2008, pp. 109 a 123 onde se aborda o Revivalismo do Gótico no ambiente romântico do séc. XIX.