MUITAS VEZES NAS nossas «vidinhas hiper-burguesas» pensamos que vários azares nos batem à porta: horrores, dramas que desarrumam tudo o que tínhamos previamente pensado, desenhado, estruturado, decidido...
As nossas são em geral Vidas programadas - quase como Mapas - em que nada pode faltar.
Ou até Obras de Arte, com concepções prévias, em que se tem que concretizar, absolutamente, um qualquer desiderato que uma ou duas gerações acima, alguém tinha definido, ou ficado estabelecido**?
Enfim, quando se vai a olhar, e a ver, é mesmo uma imensa pobreza factual: uma vida que parece um faduncho - sem graça, sem som, sem harmonia... E claro, sem a mínima criatividade!
Por nós - mas seremos só nós? - achamos que deveríamos ter vergonha daquilo que pensamos; do que vamos vivendo e praticando. Sobretudo quando confrontados com vidas que não têm saúde, quanto mais ainda seguro de saúde!? Vidas que não têm trabalho, nem esperança, e que enfim, numa palavra, não têm rigorosamente nada daquilo a que costumamos chamar Sorte.
Mesmo que ainda tenhamos a grande pirosice, ou a enorme lata?, de dizer que as (boas) sortes se constroem...
Claro que a arquitectura inglesa a que ganhámos amor, por a termos percebido e por a termos reconhecido - na forma como desenhou os cenários em que vivemos: sobretudo na versão que está no Centro Histórico do Porto. Mas também, e tão claramente de outra forma, na Baixa Pombalina. Mas esse amor, ou o prazer que pode ser o desfrutar de alguns dos mais bonitos espaços urbanos, de qualquer uma das nossas capitais, deveria não se esquecer dos grandes privilégios que tem:
Que na região mundial em que estamos há linhas divisórias, estejam elas mais ou menos esbatidas, que marcam as nossas vidas e as nossas sortes!
Por nós, percebemo-lo há muito, vindo da História da Arte e da História da Arquitectura, que a Europa que foi (ou onde se estabeleceram) dos povos germânicos, vistos como invasores do Império Romano, e que renasceu com Carlos Magno, é a mesma Europa que mais tarde veio a permanecer dividida - quase pelas mesmas linhas geográficas - entre Cristãos da Reforma (protestantes, luteranos, outros) e Cristãos da Contra-Reforma.
E hoje, apesar de aparentemente as religiões estarem cada vez mais longe daqueles cujas vidas parecem ter sido desenhadas pelos pais, avós ou até pelos bisavós... Hoje, essas linhas de força estão ainda muito presentes, e activas, sobre vários territórios: funcionando como verdadeiros desígnios factuais, e grandes tendências que, aparentemente, são ininterruptas e inelutáveis...
O que ainda nos faz lembrar várias ideias de já escrevemos:
1. Uma «nova historiografia da arquitectura» - mais de acordo com o que Dana Arnold tem escrito tão acertadamente (procurem nos nossos blogs).
E ainda a terminar, antes das notas, vejam também:
2. Como o Design pode ajudar a corrigir desígnios***.
IMAGEM JÁ PUBLICADA QUE MERECE SER COMPARADA COM O DESENHO DOS VIDROS DO GUARDA-VENTO DA IGREJA DE S. MAMEDE (post anterior)
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*http://rr.sapo.pt/a-sul-da-sorte/chapter1.html
**Por vezes, quiçá (mas é o que parece?) já «pré-concebidas no seio materno».
***Ou seja, quero lá saber do invólucro piroso que envolve os minúsculos objectozinhos das nossas vidas: como são os carrinhos engraçadinhos que a indústria automóvel põe a circular nas estradas e auto-estradas; quando um verdadeiro Design - e as mentes de todos os que queremos mudar o mundo, pelo menos um pouco e para melhor - não consegue/não conseguimos, mudar o desígnio dos povos que estão a sofrer.
Sofrimento que já vem, de certeza, de uma ou duas gerações anteriores, um desígnio que não se consegue superar!