À roda das touradas (e do sofrimento dos touros)
Esta questão fracturante que a todos divide, de maneira que uns e outros não se entendem, foi há dias explanada (talvez pela primeira vez?), de uma forma que pareceu lógica. Aconteceu no Prós e Contras da passada 2ª fª. É uma divisão entre Cultura Actual e Cultura Antiga/Tradicional. A remeter para questões essenciais – que é importante divulgar e conhecer - sobre o Património.
Mas esta palavra que tanto se usa - e corre o risco de se tornar banal – sem que seja interpretada e usada correctamente, significa aquilo que se herdou dos antepassados. Ora o que se herdou, como é tantas vezes explicado por vários autores é aquilo que está dentro de nós: é muitas vezes, até, um inconsciente colectivo. Isto é, está dentro de nós sem que tenhamos consciência desse facto.
Assim volta-se à divisão a que se assiste, entre os que são pró-touradas e os que não aguentam, nem sequer ouvir falar. Parece-nos que estes últimos, por enquanto ainda estão em minoria? Mas também se volta a um outro ponto que parece igualmente importante: será que nos sabemos analisar? Será que dentro de cada um de nós existe essa divisão?
As experiências individuais - hoje que há estatísticas para tudo, valem o que valem; mas em geral, e na sua falta, têm valido. E têm servido a cada um, para a partir da sua própria experiência, pensar. Ou, dito de outro modo: usar a cabeça.
E quem se põe a pensar, pode sentir-se em simultâneo pró, e contra. Não é em cima do muro, indeciso, mas a saber que face a uma boa tourada é pró; e quando assiste a uma tourada na onde não há beleza nenhuma, porque os passes dos cavaleiros e dos cavalos, também dos touros, tudo é mau: e nesse caso é facílimo ser contra.
A tourada pode ser sangue e horror, já vimos várias, e é de fugir (de frente da TV ou da Praça). Já que parece que para enfrentar o touro só há «azelhas», incapazes e inábeis para o conduzirem...
Ou pode ser uma beleza, quando tudo corre bem, e naturalmente, ao prazer de a ver, ouvir, sentir, e emocionar-se*, podemos reconhecer que corresponde uma estética que é característica (desse tipo de espectáculos).
Gostar ou não gostar de touradas é algo que tem a ver com a educação recebida, sim ou não? Talvez...
Porque é mais fácil que aos que sempre viveram na cidade e subúrbios – urbanos e suburbanos que as detestem, do que àqueles que nunca viveram, exclusivamente, em ambientes protegidos (ou urbanos). Não parece portanto que seja uma questão do maior número ou de classes com favorecimento económico, e ainda de elites de qualquer tipo.
A não ser que se reconheça que a classe média sendo a que predomina no país, seja também o grupo que tem voz para fazer alarido; e ainda a que mais corresponde aos urbanos e suburbanos?
*Sublinha-se porque essa é uma característica da Arte: mais do que um simples gosto, conduzir a alguma emoção.