São mais de uma dezena as referências que fizemos: em geral comparações que deram muito jeito. Paralelismos que se estabeleceram por diversas razões, entre duas obras contemporâneas.
Dessas destacamos agora a questão do Picturesque, que então, e de certa maneira - pode-se dizer assim - «estava na moda».
Depois das construções mais pesadas, inteiras ou quase monobloco do Barroco, surgiram edificações cujo carácter compositivo foi bastante mais «solto», e a que hoje se chamam, frequentemente, organicistas* :
"...o picturesque, o irregular e natural, como a casa de Strawberry Hill tinha tentado captar...", e ser - existe muito mais no Palácio da Pena, do que no Palácio de Monserrate: ideia de que escrevemos (e se encontra publicado**).
No entanto, o que está patente nas imagens seguintes - excertos de uma gravura em que as características orográficas do local são notórias - pode permitir deduzir que a única transformação possível, do pequeno convento hieronimita em residência real, teria que ser, sempre, uma construção articulada, constituída por vários volumes? Com os diferentes volumes a «contactarem» o solo, forçosamente, a níveis também diferentes? O que implicaria, portanto, a impossibilidade de ser uma construção formada por um único volume, de maiores dimensões?
Se colocamos estas questões é para enfatizar o contrário: que sim, que poderia ter sido muito diferente (do que é hoje), a obra feita.
Pois aquele topos rochoso poderia ter sido parcialmente arrasado e aplanado...
Teria sido um crime, mas também teria dado muito menos trabalho***, na concepção geral da edificação; na engenharia (estabilidade) - particularmente ao Barão de Eschwege. E finalmente, teria sido menos trabalhoso durante a execução da obra.
Claro, teria sido uma outra obra se D. Fernando tivesse decidido diferentemente...
Por isto, sem dúvida, há que considerá-lo como um Arquitecto Amador: na linha do que existiu na época, com razoável frequência, quer por essa Europa fora, quer particularmente em Inglaterra.
E o Rei Consorte, que como arquitecto amador ganhou prestígio - o epíteto de Rei-Artista - quis sem dúvida imprimir um cunho «orgânico/naturalista», muito marcante, à obra que hoje é chamada Palácio da Pena.
Assim, algumas questiúnculas colocadas actualmente, e que se ficam a conhecer pelos historiadores de arte, relativas à autoria da obra; ou mais concretamente sobre o papel específico que nela tiveram quer o Barão de Eschwege, quer Possidónio da Silva, esses relatos são também reveladores de alguns desconhecimentos (em série). É que ao transpor-se o presente para o passado, como é claro, nem tudo se consegue sobrepor, exactamente... Nem todas as peças encaixam!
Já que há uma série de gaps e diferenças, entre a prática profissional de hoje, e o modo de trabalhar do passado: podendo aqui e ali ter surgido reminiscências e tradições (?), vindas de um tempo anterior ao século XIX; porém, a História que se fixou - em geral já na 2ª metade do século XX - apesar de ter «topado» nelas, seguiu em frente, sem as questionar ou sequer compreender!?
E é o que nos parece ter sucedido, particularmente com os elementos ornamentais dos Estilos, que não têm sido considerados «ideogramas»:
i. e., sinais de uma língua que até determinada data ainda foi compreendida por arqueólogos e arquitectos...
*Um organicismo que se atribui, sobretudo a Frank Lloyd Wright, mas que é preciso não esquecer, terá tido as suas raízes na obra de Horace Walpole.
**Ver em Glória Azevedo Coutinho, Monserrate, uma nova história, Livros Horizonte 2008, p. 58.
***E menos despesa como algumas décadas depois Adolf Loos argumentou.
http://primaluce.blogs.sapo.pt/137036.html