Por isto, talvez por haver «montanhas de informação» por toda a parte, assim no Ensino Superior há cada vez menos? Já que, ... chacun «amanha-se», como alguns dizem.
Ou, como quando é dia de festa e as mesas estão repletas de iguarias, e de outro modo alguém sugere: “cada um que se sirva”!
Acontece que o autodidatismo implica muitas dificuldades, e um percurso que nem todos têm condições para fazer; sobretudo no início, muitos não sabem servir-se: que alimentos ou iguarias ingerir primeiro?
Porque há quem não tenha aprendido certas regras, ou os pais também não as aprenderam, e não transmitiram porque não tiveram tempo. Depois, há sempre lacunas e gaps nas informações e conhecimentos que vamos adquirindo, ficando a faltar sistematização.
Assim volta-se ao principio:
A Voyager é o primeiro objecto que sai do Sistema Solar, depois de ter saído da terra há mais de 30 anos.
Nessa data já nós estávamos no IADE, e pelo menos já então desconfiávamos da Iconografia que está em Belém, no tecto do Mosteiro dos Jerónimos. Ainda não tínhamos sequer pensado nessa ARCA como metáfora de alguma coisa; mas que um tecto tão perfeito, com uma geometria tão trabalhosa e rigorosa, claro que isso era coisa para fazer pensar...
Agora perguntamos: será que a fronteira – dentro e fora do Sistema Solar – pode ser comparada à ideia de Aristóteles, que separava o Supra- Lunar do Infra-Lunar*? Em que a terra se tornava local de imperfeição e de instabilidade, por estar abaixo da Lua: O nível a partir do qual (ou «acima») tudo seria perfeito? O nível a partir do qual a Geometria devia ser Cosmimétrie, como se escreveu em Paris no séc. XII.
Ora isto que hoje lemos e ouvimos, a sorrir, manteve-se até muito tarde. Ou seja, já muitos séculos depois de Aristóteles, no século XII, era ainda Ciência: e como tal estava para ficar (mais algumas centenas de anos...).
No sistema de ensino dessa época, que contemplava as Artes Liberais e as Artes Mecânicas, cada uma delas compreendia 7 Ciências, onde, por sua vez a Géométrie - integrante das Artes Liberais - “...comporte trois parties, la planimétrie, l’altimétrie et la cosmimétrie.”**
Então, olhando de novo para o tecto da tal Arca de Belém, perguntamos (aos Filósofos***): será mesmo perfeita - e rigorosa, face à Ciência - a «Cosmimetria» desse tecto...?
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*http://lesartsetliens.free.fr/malfacon.htm
**Como escreveu Hugo de S. Victor (m. 1141) em Didascalicon. Ver L’Art de lire, trad. de Michel Lemoine, Paris 1991, p. 106.
*** Um assunto que parece ser mais de Filósofos do que de Historiadores de Arte.
Ver também: http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/58955.html