Ser competente, para isto que nos referimos é algo que depende da tarefa em causa: como é normal para todos os trabalhos, e para a qualidade que é suposto terem. Não a quantidade...
No caso, só alguém muito habituado a desenhar pormenores, ou ainda, de forma que é muitíssimo específica, alguém habituado a definir acabamentos - como por exemplo, o bujardar de uma pedra; talvez só esse técnico especialista possa detectar quão estranho é abrir sulcos no limite físico, isto é mesmo junto das esquinas e das bordas, de peças de pedra? Porquê e para quê? Pergunta-se.
Porque quem está habituado (ou é competente) sabe que esse trabalho exige habilidade, ou muita Arte; já que as pedras se fracturam com enorme facilidade.
Portanto tendem a evitar-se os trabalhos mais difíceis e tecnicamente mais exigentes.
É essa competência - a de quem projecta, antevê e observa os mais variados resultados em obra (alguém que também olha as obras realizadas por outros, independente da data de criação) - que permite detectar o estranho e intrigante trabalho produzido.
Repetimos, tratam-se de detalhes mínimos, em que apenas os que estão habituados a projectar se apercebem da existência de algo - talvez um código, como escreveu Jorge Rodrigues, a propósito do Mosteiro de S. Salvador de Paderne?* - que pode estar por detrás daquilo que é um «trabalho muito pouco normal»? Pelo menos para as lógicas contemporâneas...
Ver em:
http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/8719.html
e ainda
Nesta imagem já apresentada - foto de uma grade de ferro fundido desenhada sobre papel de esquiço - pergunta-se porquê? Qual a necessidade de dar tridimensionalidade (só visível a muito curta distância), a desenhar um entrelaçamento num trabalho cujos resultados são principalmente gráficos?
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*Ver citação em Monserrate uma nova história, op. cit. p. 34.
E à pergunta do título acrescentamos a nossa resposta: claro que saber ver, e saber descrever aquilo que se vê, sim confere competências! Estamos gratos a Jorge Rodrigues pela sua descrição (História da Arte em Portugal, dir. Paulo PEREIRA, Temas e Debates, Lisboa 1995, v. 1, p. 266) que termina assim: "...fazendo pensar num qualquer código (pontos e traços...) à espera de ser decifrado...”. Não sei se o decifrámos, integralmente, mas a constatação da sua existência foi de enorme importância.
Noutros posts de http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/
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