"Being architect" foi o tema escolhido pela Edição do nº 245, relativo a ABR./MAI./JUN. 2012, para tratar nestes tempos que são os nossos: mais do que conturbados!
Mas se eles são de perturbação para a maioria das pessoas, connosco temos tido a imensa sorte de ter que reconhecer que são tempos de Sabedoria.
É um Saber nosso, praticamente sem ser conversado ou debatido - como devia suceder no caso de um estudante de doutoramento. Mas neste ponto outros deveres também se impunham, a outros:
Concretamente deveria ser proibido a um orientador ter mais do que 20 a 25 orientandos!
Mais: deveria ser proibido poder ser alguém que se vangloria de um facto como esse!
Explicadas as razões de uma tal «Sabedoria» que tem que se manter sã apesar de só, avançamos para alguns comentários que o último número do J.A. nos suscita.
De entre todas as entrevistas sobressai a que foi feita a Nuno Teotónio Pereira. É espantosa a lucidez do entrevistado; mas é também admirável a prontidão com que responde de uma maneira muito pragmática àquilo que é ser arquitecto, e àquilo que entende dever ser a arquitectura.
De uma maneira que é totalmente diferente da conversa - quase um solilóquio - que decorreu entre Souto Moura e Siza Vieira. Pois não conversaram nem debateram ideias, apenas parecem acrescentar dados e informações um ao outro.
Que nos desculpem (se quiserem!), mas esta última entrevista, posta ao lado da primeira - a de Teotónio Pereira - parece a de dois meninos que falam dos seus "Gadgets" recém adquiridos. Os brinquedos de última moda que cada um conseguiu ter, ficando as pessoas, a sociedade, os grupos para os quais tentam dar respostas, colocados bem lá atrás nas suas preocupações...
Não dizemos que não tenham servido a sociedade, os ditos grupos que usufruem da arquitectura, mas sem dúvida que a postura é totalmente diferente! O compromisso, ou a ideia de missão que houve em Nuno Teotónio Pereira é algo que fica muito longe: bastante acima, claro!
Haveria ainda imenso a acrescentar sobre a Revista, em especial o facto de sabermos que nestas entrevistas há perguntas e respostas que passam ao lado da História: i. e., do que de facto aconteceu. Porque em geral se baseiam na ideia da futilidade e inutilidade dos ornamentos, e dos decorativismos, algo que vimos a perceber não ter sido exactamente assim.
Assistimos a debates que parecem empenhadíssimos na análise de uma realidade que teria acontecido; como se tivessido sido factual! Mas ocorrem sobre erros e mal-entendidos, básicos, como se pode confirmar por exemplo no Dictionnaire Critique D'Iconographie Occidental (dir. Xavier Barral i Altet, PUR. p. 637); quando o autor dessa entrada lembra «a sentença» de Adolf Loos sobre o Ornamento, e os enganos que desde logo continha.
No início do séc. XX os ornamentos poderiam estar esquecidos, assim como os seus significados, mas eles tinham sido durante centenas e milhares de anos, uma Linguagem. Imagens que foram bem menos superficiais do que as que aparecem na fotografia seguinte, que apresentámos há dias*.
Não queremos aqui explicar «o como?», mas sabemos que, muitas vezes, essa mesma imagem dos círculos moldados a massa colocados na fachada de um prédiozinho de Torres Vedras, esteve na base de inúmeras edificações da História da Arquitectura.
Depois, repare-se que tal como detectamos os erros em que incorrem vários autores a partir da dita asserção de Adolf Loos - porque desconhecem esse «mal-entendido» do início do século XX - muitos outros erros se lhes seguiram, inclusive na actualidade**
*http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/34463.html
**Razão pela qual o facto de haver professores-orientadores de um grande número de teses, em simultâneo; e também conhecedores do nosso trabalho - que vão ajudando a que se mantenha em silêncio - esse comportamento é, parece-nos (?), muito ambíguo e quase desonesto. Porquê? Porque há teses que estão a ser desenvolvidas com base nestes mesmos equívocos que entretanto não se esclarecem. Há portanto teses que ainda não estando prontas, já estão erradas. O que a concretizar-se é profundamente injusto para os esforços imensos levados a cabo pelos estudantes, seus autores.
Ver sempre: