Numa época de vazios imensos, em que as pessoas não sabem para onde se hão-de virar e onde ir buscar energias (e ideias para o que é preciso fazer...), a exposição sobre a vida e a obra de Jorge Viana revela-se muito revigorante. Porquê?
O título da exposição era estranho, mas depois de vista percebe-se a vontade e a tentativa de síntese, a procura de uma frase que caracterizasse uma pessoa muito especial: talvez quase rara.
Com mais tempo havemos de escrever sobre alguns materiais expostos, e a obra de alguém com quem nos cruzámos mais do que uma vez. Primeiro na CMO e depois no IADE - durante um ou dois anos (?) - quase quotidianamente, em aulas interessantíssimas.
Em Jorge Viana os sonhos de menino, jovem e homem, tiveram sempre um cunho riquíssimo. Porque não deixando de ser sonhos, foram altamente engenhosos - e, sobretudo aquilo que hoje muito escasseia e pôs nos seus trabalhos para a firma Consulmar (tratando zonas portuárias); nas ideias concretizadas, vindas de sonhos (ou não?), há um imenso rigor, que é pouco comum. O que faz com que nos sintamos perante um trabalho que mais parece típico de um engenheiro, ou de um designer, altamente especializado.
De relevante, e numa visão rápida, a exposição conseguiu mostrar essa sua capacidade: a de fazer obra útil menos diletante, como tão frequente, sobressai das vidas de arquitectos «artistas» (menos técnicos).
Em poucas palavras, um Arts & Crafts rigoroso, sério, e revigorante: sobretudo agora em que muitos andam à procura de caminhos, talvez por acharem que estamos a regredir?
Mais, diríamos que há por aí tanta «costura urbana» que é urgente fazer: do Património às ruínas abandonadas, aos bairros das periferias, onde tratar da urbanidade é, por vezes, uma tarefa também da Sociologia, pois especificamente há que trabalhar para as pessoas.
Quem conheceu Jorge Viana lembra-se das preocupações que teve com as passagens de nível - que sistematicamente tentou fechar (e em Oeiras muitas fechou), na linha do Estoril. Ou da explosão de clandestinos - que se queria conter, e sobretudo orientar, na Ribeira da Lage e na Serra da Mira (hoje Concelho da Amadora). Área projectual em que, nos casos referidos, trabalhámos directamente, a receber ideias e "know how". Era então vice-presidente da CMO, quando não havia as distâncias protocolares, que hoje só complicam, na relação com os técnicos projectistas, para a explicação dos planos e programas que se pretendem implementar.
Lembre-se que a escala dos projectos vai do macro ao micro: onde as intervenções forem necessárias, e foi isso que fez.
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E a propósito de transversalidades em http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/31807.html há padrões Bizantinos, do Panteão Régio de Alcobaça.
Ver em geral: http://iconoteologia.blogs.sapo.pt/